sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Conferência da TSF e da Reuters


A TSF e a Reuters organizaram hoje uma conferência sobre um assunto muito interessante: "O papel da Banca na recuperação da economia portuguesa". O interessante, para mim, deste tema é sobretudo o facto de tentar branquear uma outra questão que eu gostaria de ver primeiramente respondida: Qual o papel da Banca no aprofundamento da crise?

A verdade é que, sem qualquer complexo ideológico de esquerda, com a qual não me identifico minimamente, os bancos portugueses, não sendo os culpados pela crise actual, uma vez que, tendo nascido no mercado financeiro, ainda que tivessem havido erros, não foi entre os bancos portugueses que foi originada a crise. Na verdade os bancos portugueses foram até pouco atingidos pelos estilhaços lançados pela quebra dos gigantes financeiros internacionais no sistema, o que permitiu que mantivessem elevadas taxas de rentabilidade, apesar de algumas quebras, nenhum caminhou, nem para perto, de terem prejuízos. Apenas ocorreu uma excepção: o BPP, um banco que se caracterizava precisamente pelo elevado risco dos seus investimentos.

Mas a minha questão prévia surge apenas devido ao facto de os bancos portugueses serem profundamente culpados pelo agudizar e prolongar da crise.

Ora vejamos.

Antes da instalação da crise financeira internacional, Portugal vivia já uma profunda crise económica, com origem numa herdada e prolongada crise orçamental, onde as empresas não conseguiam realizar os seus negócios, onde o recurso ao crédito estava caro, bem como para os particulares, pois as taxas de referência do BCE estavam altas, levando taxas como a Euribor para valores loucos. Ainda assim os bancos, vendendo caro os créditos, tapavam o sol, culpando as taxas que não dependiam deles, como responsáveis por esse excesso. Mas a máscara foi caindo - o governo - a meu ver bem (até me custa dizer isto) - começou a fazer a sua função, iniciou um processo de regulação do mercado, impondo rigorosas regras de arredondamentos, regras que limitavam as penalizações cobradas pelos bancos quando da transferência de um crédito, entre outros. Aqui os bancos imediatamente se revoltaram dizendo que lhes estavam a tirar dinheiro do bolso e que isto se iria reflectir nos clientes.
Porém, a cereja em cima do bolo ocorreu quando, perante a crise, numa tentativa de conter as suas consequências, o BCE baixou historicamente as taxas de juro, levando consigo a Euribor: o que fizeram os bancos portugueses? Aumentaram os spreads, aumentando a sua margem de lucro, anulando, nos novos créditos principalmente, muitos dos ganhos que os clientes iriam alcançar com a redução das taxas de referência. Ainda se poderia dizer que isto era reflexo do aumento de risco de crédito, mas nem isto é verdade, porque este aumento foi acompanhado de uma intenso aperto nos critérios de atribuição de crédito, manifestando de facto aquilo que os bancos portugueses têm sido: "proxenetas" do sistema financeiro e da economia nacional. Pouco ou nada têm contribuindo para o sistema, encostando-se sim ao Estado, andando juntos de mão dada a sugar tudo o que o sector produtivo, bem como outros segmentos de serviços, vai produzindo. Tal realidade deixa-me revoltado, principalmente quando, defendendo a liberdade do mercado, como defendo, vejo que há um componente importante que está descontrolado e abusa da economia abafando-a: isto não é trabalhar, é ser um brutal cartel, declarado e explícito, que distorce o mercado e a concorrência. Há que regular e promover, rapidamente, o desmantelamento deste brutal agrupamento de bancos.

2 comentários:

  1. Sérgio a espressão "proxenetas do sistema" não se adequa, porque se pensares bem o proxeneta por norma e apesar de tudo PROTEGE A SUA FONTE DE RENDIMENTOS, não é de todo o caso. Estes senhores não protegem, SUGAM ATÉ AO TUTANO & DESTROIEM, as suas fontes de rendimento, com especialmente detaque para as PME, logo parece-me que a expressão "mercenários do sistema", ficar-lhes-ia melhor, mas aqui temos que acrescer os aparelhos politicos dos dois principais partidos, cuja promiscuidade com aqueles faz deles autenticas "Prostitutas do sistema". Para alem destes actores temos depois os "dead peasants" que somos nós todos. Até ao dia em que a pessoa errada, no sitio errado, e no momento errado, faça alguma coisa errada, tipo um rastilho / detonador. Isso sim preocupa-me.

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  2. Concordo com o facto de serem mercenários, só utilizei o termo proxenetas, porque de facto vivem do trabalho dos outros, e pior, são proxenetas mafiosos, porque se juntam ao Estado para juntos sugarem tudo, tudo, tudo o que podem e não podem: o rastilho já foi aceso, ainda não se sabe é o tamanho do mesmo, se está curto ou se ainda há muito para queimar até a explosão se dar.

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