quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Cavaco tem de nascer segunda vez


Tenho um viciozinho diário, de pela manhã, tomar o pequeno almoço no café e ler o Público. Este viciozinho sai-me caro, porque pouparia algum dinheiro se comesse em casa e se lesse apenas o Público online. A grande diferença é que na net não consigo ler os textos dos cronistas.

Aprecio em particular, até pela sua forma condensada, as crónicas da última página, onde escrevem pessoas de grande qualidade, como Pedro Lomba, Rui Tavares e Vasco Pulido Valente.

Tudo isto para chegar à crónica de hoje, da autoria de Rui Tavares, que tem o título que dei a este texto: "Cavaco tem de nascer segunda vez".

Eu não apoio Cavaco Silva. Quero deixar claro, antes de mais, que o meu candidato é Fernando Nobre, é ele que apoio e é nele que votarei no próximo Domingo.

Mas perante um texto sujo e de baixo nível como o de Rui Tavares hoje no Público, não me pode deixar de indignar, sendo o espelho da campanha eleitoral porca que temos tido.

Se repararmos houve apenas um único candidato que não usou lama para atirar aos outros, limitou-se a mostrar a sua vida, a pessoa que é e a apresentar as suas ideias. Se fizermos um esforço de memória as únicas propostas concretas de que me lembro - para além dos conceitos vagos de magistratura activa, de ser um Presidente de esquerda ou direita e de ser intérprete mais leal ou não dos poderes presidenciais - são as de criar um Conselho de Estado informal de Juventude, de trabalhar para a redução do número de deputados para 100, e, estas propostas, bem como uma campanha sem lançamento de lama, vêm todas da mesma candidatura: a de Fernando Nobre.

No entanto não pude deixar de me indignar com o texto de Rui Tavares, que faz todo o tipo de insinuações sujas contra Cavaco, e, afirmações sobre outras candidaturas que me merecem comentário.

Irei deixar aqui trechos da crónica que comentarei de seguida.

"Não me parece que se possa dispensar de explicações qualquer pessoa que tenha tido com este banco, - Rui Tavares está a falar do BPN - sem pestanejar, lucros que estão para lá dos mais deliciosos sonhos dos clientes de Madoff."

Estas afirmações são no mínimo tendenciosas e carregadas de peçonha, pois, como é público, o lucro que Cavaco teve não foi com o BPN mas sim com acções da SLN. Se na prática o efeito até é o mesmo, porque a SLN era a accionista maioritária do BPN, a verdade é que ligar directamente Cavaco ao BPN é intencionalmente malévolo e, do meu ponto de vista, pouco sério. Além disso, tenho lido e ouvido comentários sobre este assunto que referem o facto de este tipo de ganhos ser comum em sociedades por acções que são novas e crescem rapidamente, que foi o que aconteceu com a SLN, daí ser normal que nem Cavaco, nem uma série de outros investidores, terem tido ganhos de 140%. O que saí destas insinuações é muito grave, porque deixam no ar que Cavaco teve participação na burla e nos crimes do BPN, ele e todo e qualquer investidor no BPN e na SLN, onde muitos, na verdade, foram de facto vítimas de Oliveira e Costa. Outra insinuação pouco séria que fica no ar é que Cavaco será responsável pelos actos do amigo, que devia saber tudo o que o amigo andava a fazer e ganhou com isso. Será que qualquer um de nós se sente responsável pelos actos criminosos que algum amigo nosso possa cometer?

"No caso da Urbanização da Coelha, Cavaco alega não se lembrar de onde assinou a escritura, provavelmente não se lembrará também de ter como vizinhos Oliveira Costa e Fernando Fantasia, e um dia destes não se lembrará de alguma vez ter passado férias na tal casa."

Puro veneno, é só isso que aqui leio. É certo que este é um texto de opinião, não está obrigado a rigor jornalístico, mas alegar que eu antes de comprar uma casa tenho primeiro de pedir o currículo e o registo criminal de todos os meus vizinhos, para além de ridículo, neste contexto é pouco sério e maldoso.

Depois disto Rui Tavares deixa claro que apoia Manuel Alegre, que considera o melhor para interpretar correctamente os poderes presidenciais, deixa considerações sobre as candidaturas restantes, começando pela de Fernando Nobre, onde a certa altura lança esta pérola.

"Fernando Nobre, porém, levou a sua campanha como se não fosse nem de esquerda nem de direita, coisa que acho pouco realista e pouco pedagógica."

Não sendo eu especialista em Ciência Política, creio que a geometria política de Rui Tavares está muito a preto e branco, ou do tipo, quem não é por mim é contra mim. Assim de repente lembro-me que existe o chamado centro, nem esquerda nem direita, mas centro, já para não falar das misturas centro-esquerda e centro-direita, etc., etc.
Mas além disso, acredito que alguém pode estar politicamente acima disso, ou melhor, considerar-se fora desse sistema redutor e arcaico de classificação política. É que eu, muito à semelhança do que o Professor Nobre deixa parecer, também não me sinto incluído politicamente dentro desse sistema, não o considero e, achando-me ideologicamente um liberal democrata, não me sinto incluído nem na direita, nem na esquerda nem tão pouco no centro. Mas talvez eu seja mesmo pouco realista, mas e o modelo de sociedade defendido pelo partido do Dr. Rui Tavares é realista???


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