sexta-feira, 25 de junho de 2010

Eu também não quero pagar


É muito interessante que por este rico país fora tanta gente goste de usar serviços sem ter de os pagar. É ainda mais interessante a forma como essas pessoas ficam indignadas quando alguém diz que esses serviços devem ser pagos. Mas roçamos o ridículo quando os que não pagam acham que estão a ser descriminados por esses que acham que devem pagar tais serviços.

Estou a falar do quê? Das Scut, claro.

Por pressão do PSD o nosso querido líder e Primeiro Ministro Engenheiro José Sócrates aceitou a introdução de portagens em todas as Scut do país, porém, deixando aí umas borlas para os residentes dessas regiões e para aqueles que tenham actividades económicas nas zonas servidas por essas estradas. Interessante pensar neste princípio do utilizador pagador: eu sou da Região de Lisboa se for visitar alguém a uma zona servida por uma Scut devo pagar portagem, mas quem a usa todos os dias ficará isento. Deixo aqui uma pergunta: quando foram usar os impostos que eu pago, igual aos outros, alguém fez distinção e disse que o dinheiro usado para construir essas estradas era apenas dos residentes, logo merecedores de borlas, ou o dinheiro estava todo no mesmo monte, ou seja, se eu paguei a construção da Scut como todos os outros porque é que na sua manutenção eu tenho que a pagar e quem mais a usa não?

Eu não sou rico, nem vivo à larga, mas se quiser usar a CREL ou a A16 para fugir ao IC 19 tenho de pagar portagens. E o IC 19 é a única alternativa e é só a estrada mais congestionada do país. E peço desculpa mas eu não conheço assim tanta gente abastada nesta zona para deverem pagar portagens e outros não.

Eu também não quero pagar.

Quero gritar bem alto para o Sócrates ouvir: eu também não quero pagar.

Imagino que se as empresas na região de Lisboa não tivessem de pagar portagem na A1, A2, CREL, A16, A10, Ponte Vasco da Gama e 25 de Abril, entre outras estradas, talvez tivessem melhores resultados, talvez conseguissem criar mais empregos. Mas em Lisboa somos todos ricos, no resto do país é que estão os pobres coitados que não podem pagar portagens.

Eu não quero pagar, mas tenho de pagar, a estrada alternativa é um inferno, mas eu tenho que pagar. Afinal quem está a ser descriminado?!

7 comentários:

  1. Pois a questão é que tudo é bom mas é se for no quintal do vizinho ... Lixeiras : claro que são necessárias, mas não aqui. Auto estradas com portagens: sim claro mas não aqui, repensar as carreiras e os benefícios, sim claro mas não para nós, mais impostos - sim são necessários mas para mim é que não que já ... Ou seja a questão é que todos pensamos primeiro no nosso bem estar, somos socialmente demasiado individualistas e pouco colectivos, pensamos pouco no bem estar comum. Fala do principio do utilizador/pagador: Sou contra. E sou contra porque na maioria dos casos isso apenas exacerba o anterior problema. Porque no limite apenas queremos pagar pelo que utilizamos esquecendo que há na ausência de pagamento para todos um beneficio social para alguns que efectivamente não podem pagar e não têm de justificar a cada passo da esquina.

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  2. É contra o princípio do utilizador pagador? Muito bem, mas se é contra o princípio então é contra todas as portagens, ou é só contra algumas. O que justifica que numa região se pague e noutra não? Critérios de desenvolvimento? Certamente, mas esses critérios estatísticos acarretam imensas injustiças, das tais sociais, fazendo pagar quem pode e quem certamente tem imensas dificuldades. Então fazemos passo a passo e cada um apresenta uma declaração para se ver se pode ou não pagar portagens. É ridículo não é, também acho, por isso resta-nos o plano dos princípios, ou é o utilizador pagador ou é sem portagens, e, como qualquer princípio, ou é para todos ou para nenhuns.

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  3. O plano dos princípios é extremista e como qualquer opção extremista é ainda pior que os remendos moderados.

    Ora, se ninguém pagar portagens, teremos mais impostos; se todos pagarem por igual em todo o país, continuaremos a ter graves entraves à convergência para a média nacional das regiões menos abastadas (há alguma abastada?).

    Sinceramente, até acho esta medida tomada pelo Governo (ou PSD) mais sensata do que a anterior proposta, em que todos pagavam por igual. Não tenho é a certeza que sem o pagamento por parte de residentes e empresários locais se consiga cobrir o fosso financeiro das Scuts.

    A coisa acaba por ir dar sempre mais ao menos ao mesmo: aumentar IVA (imposto que agrava as desigualdades sociais), IRS (cada vez há menos incentivo para trabalhar) e IRC (lá vamos nós ter que fazer uns malabarismos e truques com as contas da empresa). Venha a recessão a sério que esta foi a brincar.

    Cumprimentos.

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  4. As Scuts nunca deviam ter sido prometidas sem qualquer tipo de custos directos, ainda que apenas para parte dos seus utilizadores. Esse é o início do problema.

    A solução das Scuts tem que vir de algo mais global do que imputar directamente os custos aos automobilistas, indiscriminadamente. Se o Estado quer melhorar as Finanças Públicas, deve cortar na Despesa sim, mas não apenas pensando no Curto Prazo e no que está mais "à mão", podendo com isso comprometer o futuro económico do país. E muito menos deve tentar aumentar as receitas através do aumento dos impostos do costume (se não é possível aumentar muito mais a receita, então que se dediquem a melhorar a alocação dos Recursos do Estado).

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  5. Vítor
    Se é clara a necessidade de se reduzir na despesa do Estado, o problema das Scuts é outro: nunca deveriam ter existido. A factura anual destas estradas é de 700 milhões de euros/ ano e ninguém quer pagar, mas todos temos de pagar. Afinal como é que vamos fazer: ou o estado suporta tudo ou são os automobilistas a suportar. É que essa história do critério da riqueza e do poder de compra é muito injusto, porque ao aplicar-se a uma região, tu já sabes como é: eu como um frango e tu nenhum, comemos meio frango cada um.

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  6. Então como pretendes resolver o grave problema da enorme disparidade de riqueza entre Litoral e Interior? Vamos ter um Sahara junto à fronteira com Espanha?

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