quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Lavar os pés


Peço já desculpa aos que perante o título possam pensar que este é um artigo de higiene pessoal, ou até de humor: a realidade é outra. Peço também desculpa aos leitores que visitam este blogue em busca dos habituais textos sobre sociedade e política. Este é um pouco habitual texto de índole pessoal, reflexivo e de conteúdo espiritual.


Tenho pensado muito, entre ontem e hoje, naquela passagem bíblica onde Jesus se cingiu de uma toalha e se dobrou diante de cada discípulo lavando os seus pés, limpando deles a sujidade terrena, que do andar do dia a dia, se acumula nos pés, não descalços mas calçados de umas débeis alparcas, que facilmente permitem a entrada do fino pó, que aliado a um suor natural, deve deixar uma marca profunda de sujidade nos pés de cada um dos discípulos.

Este pensamento tem-me assaltado consecutivamente desde que ontem tive uma zanga com uma pessoa que é voluntária na IPSS evangélica onde os meus filhos estão na cresce e pré. Esta zanga, com a respectiva altercação sonora motivou a intervenção do director do colégio, que muito zangado comigo, especialmente por ser um "crente" a levantar problemas ali. Claro que ele estava zangado comigo por outras razões em acumulado com esta: é que numa reunião do início do ano lectivo eu questionei a opção da instituição em continuar a encerrar durante todo o mês de Agosto, em frente aos outros pais e descrentes. Pior, nessa reunião afirmei que a instituição estava parada no tempo, pois não entendia que 23 anos depois da sua abertura as realidades sociais e laborais haviam mudado e não havia mais ninguém que conseguisse ter férias todo o mês de Agosto. O director levou isto a mal, ficou ofendido e magoado, mas nunca me disse nada, embora eu tivesse percebido o seu distanciamento em relação à minha pessoa. Sim reconheci que fui injusto, até porque a instituição é excelente e funciona perfeitamente à parte desse senão, e, sempre tive um fácil acesso ao director, que sempre me recebeu, e pior, pior para o meu lado, os favores que lhe pedi, só não os satisfez mesmo quando não pode (bem acho que ele satisfez todos, pelo menos não me lembro de nenhum favor pedido que ele não tenha dado a volta). Pedi perdão, sim pedi um sincero perdão, ao director por nessa ocasião ter sido injusto e sobretudo por não ter dito, se queria dizer, esse comentário em privado, onde não teria o mesmo impacto.

Durante a conversa que tivemos o director do colégio, um pastor baptista, contou-me uma história: Certo rapaz muito iracundo, que perdia muitas vezes e com facilidade o controle, foi certa vez desafiado pelo pai a pregar um prego numa tábua de cada vez que se descontrolasse; Assim o rapaz fez e facilmente conseguiu preencher a dita tábua de pregos; Ele foi ter com o Pai e mostrou a tábua já cheia de pregos, recebendo do Pai então outro desafio; Foi desafiado para que, de cada vez que conseguisse controlar-se e não perder a calma fosse à tábua e arrancasse um prego; Desta vez já demorou um pouco mais, mas com algum esforço lá conseguiu arrancar todos os pregos; Foi depois mostrar ao seu Pai a tábua já sem pregos; O Pai disse-lhe "Vê a tábua, conseguiste retirar todos os pregos, mas as marcas essas nunca conseguirás apagar".

É verdade a mágoa produzida por uma palavra mal dita, por uma acção menos pensada, por muito perdão que se lance pode nunca mais ser apagada.

Mas isto transporta-me de novo para Jesus a lavar os pés aos seus discípulos: o único puro limpava os impuros, para isso dobrou-se, humilhou-se e sujeitou-se às sujidades corporais dos outros.

Daqui viajo para um culto, no centro Desafio Jovem em Salvaterra de Magos, onde o director da altura, o Toni Barbosa, desafio os cooperadores do Café Convívio a que pertenci - estávamos lá num pequeno retiro de um dia - para lavarmos os pés uns dos outros, não dialéticamente, ou simbolicamente, mas sim fisicamente, com água e sabão. Nunca esquecerei esse dia. O meu amado e saudoso irmão Manuel, que já não está entre nós, foi - e esta é uma expressão que me agrada particularmente - promovido à glória; Sim ele passou dificuldades depois que saiu do centro, tanto que a doença que tinha o venceu, pela debilidade das defesas que lhe causou, mas acredito que partiu salvo; como dizia, o Manuel veio com a bacia e descalçou os meus sapatos e lavou os meus pés. Foi um acto de amor, com humildade recebi esse gesto, mas nunca mais vou esquecer o que sentimos. Sim irmão eu amei cada minuto desse dia, ao ver cada um lavando os pés aos outros. Que saudades. É fantástico ver como fazer algo tão simples como dobrar os joelhos e lavar a sujidade dos pés de outro pode fazer de toda a diferença em nós. E descobri nesse dia, uma coisa que me esqueci durante muito tempo e que aquele incidente de ontem me fez relembrar: descobri nesse dia a olhar para os outros como superiores a mim mesmo, como gente de valor e que por isso, ao lavar os pés, qualquer mágoa e ofensa é certamente lavada.

CREL os deslizes foram mais do que de terra apenas - a Câmara Municipal da Amadora deslizou também


Público - Empresa que fez despejos junto à CREL trabalhava para a câmara

Todos os utentes dos concelhos servidos pela CREL, mas em especial os que, como eu, são do Concelho de Sintra, têm sentido os nefastos efeitos do corte dessa estrada, devido a uma derrocada de terras.

Foi com alguma surpresa para mim que me deparei com este artigo do Público sobre a origem do problema que agora todos estamos a sofrer.
A Câmara Municipal da Amadora é a proprietária de um aterro, cheio de lixo e terras, devido a uma obra de uma outra estrada, despejados naquele local, sem grande cuidado, apesar dos avisos da Estradas de Portugal, alertada esta pela concessionária da Auto-estrada, de que as terras para ali transportadas estavam a debilitar as infraestruturas de drenagem de águas da CREL.
Claro que como é hábito em Portugal e sobretudo nas autarquias, as orelhas moucas voltaram a não ouvir o que não convinha, mas o pior é que um perdido ofício foi encontrado por um jornal, colocando muito em causa a posição da CM da Amadora.
No meio de tudo isto está uma empresa do grupo Espírito Santo, a ESAF, que é citada por ser a gestora da parcela de terreno que desabou sobre a CREL. Mas esta empresa não quer, obviamente, pagar a factura da limpeza e reparação da estrada que a Brisa se prepara para lhe enviar, até porque diz não ser essa a sua parcela, mas sim uma contígua, e que, ainda não há culpas a assumir porque ainda não está definitivamente demonstrada a culpa do deslize.
Óbvio para mim é que a culpa não é concerteza dos mais prejudicados - os condutores que até pagam - e que estas entidades já se preparam para o habitual jogo de ping pong, sempre de uns para os outros, para que no fim a culpa morra, como de costume também, solteira. O prejuízo esse vai ficar, não nas mãos da privada Brisa, mas do Estado, que certamente pagará uma indemnização que o Estado vai dar até que se encontre um sempre esquivo culpado que leve com a factura - pesadita - em cima.

Mas isto deve de levar-nos mais fundo - à forma como o nosso território é administrado e ordenado - principalmente ao péssimo trabalho que por aí se faz, sobretudo ao nível autárquico. É que as nossas autarquias são organismos reconhecidamente improdutivos de benefícios concretos para os munícipes, e, as freguesias para os fregueses, sendo no entanto mais uma sobrecarga orçamental para todos.
Será, pergunto eu, que temos mesmo necessidade deste tipo de estrutura incompetente, desfuncional e sobretudo fonte de corrupção - é esta a sensação da generalidade dos cidadãos - como o são as Câmaras Municipais e as Juntas de Freguesia, ou poderíamos promover uma vantajosa remodelação, profunda e verdadeira e também por isso que nos traga vantagens do dinheiro que gastamos?

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O nosso Presidente da República está hoje na berra


Depois de um discurso algo violento e frontal na cerimónia de abertura do ano judicial, o nosso Presidente também esteve na berra por outro motivo: uma linda entrevista de Belmiro de Azevedo à Visão, veja-se este artigo do i - "Cavaco é um ditador", diz Belmiro de Azevedo.

Chico Esperto


O nosso Ministro da Economia quis ser chico-esperto mas a coisa não correu bem: o défice de cerca de 5% antes das eleições foi esquecido e para o final do ano passado já se falava que seria de 8%, podendo ir até aos 8,3%; mas agora, para fintar as casas de rating internacionais, o nosso chico-esperto Ministro das Finanças lançou para o ar um défice 2009 de 9,3%, e, assim, sem mexer em mais nada, fazer um brilharete orçamental anunciando um esforço de descida em 2010 de 1% do défice, para 8,3%.

O pior é que a coisa não funcionou e a descida do rating está eminente, coisa que aliás já aconteceu com a dívida pública. O Estado já terá que pagar mais um por cento de prémio aos títulos emitidos de dívida pública: lindo não é.

Grécia aqui vamos nós.

Querer queria, mas não consigo


Eu gostaria muito de dizer algo acerca do orçamento de Estado mas não sou capaz.

Vejamos isto:

Finanças Regionais: “Oferta” de diálogo foi feita por Lacão, após entrega do Orçamento - a aprovação do OE conseguida, veio o ataque às Finanças Regionais;

Finanças regionais. Sócrates ameaçou demitir-se - o Calimero Sócrates volta a atacar;

Mas depois de apresentado o Orçamento a confusão instala-se;

Ameaça de corte de rating aumenta juros da dívida pública - o excelente Orçamento Sócrates/Teixeira dos Santos, não convenceu as agências internacionais, isto está mesmo a dar para o torto;

mas então veio a birrinha do Teixeira dos Santos - Teixeira dos Santos: “Merecemos o benefício da dúvida”.

O desnorte é preocupante, mas há sempre um optimista de serviço - Nogueira Leite vê "margem" para acabar o ano com défice inferior a oito por cento

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Seis em cada dez famílias portuguesas sentiram dificuldade em pagar despesas de saúde - Sociedade - PUBLICO.PT


Seis em cada dez famílias portuguesas sentiram dificuldade em pagar despesas de saúde - Sociedade - PUBLICO.PT

Este artigo do Público, motivado por um estudo da Deco, demonstra a forma como as famílias estão a lidar com grandes dificuldades com o prolongamento da crise financeira, que foi antecipada de uma crise orçamental, que para Portugal, este ano, a essa prolongada crise financeira regressa por acumulação essa passada e nunca debelada crise orçamental, que promete vir para ficar, ainda que a crise financeira se esfumasse hoje do dia para a noite.
Pergunta: Se a crise financeira internacional não é culpa dos governos nacionais, e estes não podem, por si só, acabar com ela, qual é a desculpa em relação a esta insuportavelmente prolongada e reincidente crise orçamental?
A verdade é que sempre o Estado viveu muito acima das suas possibilidades, iludidos que andámos numa nuvem de promessas igualitárias e colectivistas de uma esquerda enganosa, que nos conduziu por um caminho de direitos, sem que os deveres, sobretudo o de sermos produtivos e de os nossos empresários e gestores serem competitivos e competentes, acompanhassem os mesmos, tornando insuportável o peso que o Estado tem para economia. Mais ainda, aprendemos a bela arte de receber dinheiro de papo-para-o-ar e não queremos agora abandonar tal situação. Sim afinal até da UE vieram subsídios para abater frotas e arrancar culturas.
Acontece porém que para agravar tudo isto, o sector privado estrangulado pelo estado, numa tentativa de não ficar preso no imobilismo e tentar algum desenvolvimento, recorreu ao crédito, a níveis que agora, perante a crise financeira, sentem muitas dificuldades em pagar.
Pois, isto porque o nosso país gosta é de enterrar dinheiro em empresas moribundas, para que estas ainda sobrevivam mais uns minutos, mais umas horas, mais uns dias, acabando por morrer e levar consigo o dinheiro investido por todos nós. Claro que exigir aos empresários que se modernizem, tornem competitivos, pedir-lhes contas pelo dinheiro dos contribuintes que receberam, exigir resultados e uma rigorosa gestão, isso não passa pela cabeça de ninguém. Perdão só passa pela cabeça dos nossos governantes.
Ninguém tenha dúvidas que há empresas que tem de falir, mas é certo também que há funcionários públicos que tem de ser despedidos, outros que tem de ser mais produtivos e outros que tem de ser redistribuidos por outros serviços.
Mas e coragem para dizer, e sobretudo fazer, coisas tão impopulares? Não há. Népias. Logo todos temos de pagar. Mas o problema também não está em todos termos de pagar - quer dizer está, mas ainda assim -, o problema maior está em que a fonte está a secar, o dinheiro está a acabar, não há para tudo. E quando tivermos de começar a escolher onde queremos, ou melhor, onde teremos de cortar, espero que os keynesianos de bolso e os esquerdistas de papo-cheio - que sempre encheram a boca para falar do "povo" - não venham falar com o dito cujo da seringa e não venham culpar os neoliberais - pois os tais que nunca tiveram qualquer hipótese de governar em Portugal.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A RTP é uma vergonha que todos temos de pagar


Aqui fica o link para o vídeo da reportagem em questão

A PROPÓSITO DO PROGRAMA "FILHA ROUBADA" DA RTP

Introdução:



Na sequência da transmissão da reportagem "Filha Roubada" transmitida pelo programa "Linha da Frente", do Canal 1 da RTP, no passado dia 20 de Janeiro, no qual foi incorrectamente mencionada a Aliança Evangélica Portuguesa como proprietária do "Lar de Betânia" e sem termos sido consultados pelo respectivo jornalista, vimos por este meio partilhar convosco uma primeira reacção de desagrado por toda a situação. Em anexo segue a nossa tomada de posição face a este assunto, que também já se encontra em www.portalevangelico.pt.


Tomada de posição:



Os evangélicos, nomeadamente, aqueles que compõem a “Aliança Evangélica Portuguesa” contam-se entre os portugueses que durante dezenas de anos foram privados de Direitos Fundamentais como a liberdade de expressão e de informação. Por isso, sabem dar valor ao importante papel que em democracia tem o jornalismo quando feito com rigor e isenção.
A “Aliança Evangélica Portuguesa” respeita e valoriza o trabalho insubstituível dos profissionais da comunicação social e está, como sempre esteve, disponível para contribuir com os esclarecimentos que forem julgados necessários e adequados para que em cada caso a informação veiculada pelos órgãos de comunicação social seja completa, rigorosa e imparcial.
Infelizmente, e salvo o devido respeito, não foi uma informação completa, rigorosa e isenta a que foi prestada a quem viu o programa do Canal 1 da RTP “Linha da Frente” emitido na passada quinta-feira, dia 20 do corrente mês de Janeiro.
No programa é feita referência, por duas vezes, à “Aliança Evangélica Portuguesa” porém, em nenhum momento, foi a AEP contactada para prestar esclarecimentos, diria mesmo, para se defender das imputações que lhe são feitas, já que o programa “Filha roubada” aponta um dedo acusador ao Tribunal Judicial de Fronteira, que decretou a institucionalização de uma menina de 8 anos e ao “Lar Betânia”, que acolheu a menor. A “Aliança Evangélica Portuguesa” é metida nesta lamentável história, sem justificação, como acontece, aliás, com a “Aliança Pró-Evangelização de Crianças de Portugal”.
Em causa está o internamento de uma menina que à data contava 7 anos de idade, decidido por um juiz do Tribunal Judicial de Fronteira, numa instituição reconhecida e apoiada pela Segurança Social à qual foi entregue a menor retirada da casa de sua mãe.
Não é difícil concluir, a quem viu o programa, que a decisão judicial é fortemente contestada, assim como é fortemente criticado o “Lar Betânia” em vários aspectos da sua actuação. O que se pode dizer é que nem o senhor Juiz nem o Lar ficam bem na fotografia que o programa “Na Linha da Frente” lhes tirou e depois de uma acusação bem montada ser apresentada ao longo de vários minutos é o espectador informado de que «uma rápida consulta na internet do “Lar Betânia” conduz à “Aliança Evangélica Portuguesa”» sem se informar o telespectador a que título e com que fundamento se faz esta ligação entre o Lar e a Aliança. Mais adiante é dito que a “Maria passou o Natal com o pai e o Ano Novo com a mãe e foi depois obrigada a regressar ao “Lar Betânia”, um dos trinta e sete lares que a “Aliança Evangélica Portuguesa” tem espalhados por todo o país, com suporte financeiro do Estado português. O internamento de Maria custa aos contribuintes portugueses €517 mensais.”
É este um exemplo do tom da acusação em que a “Aliança Evangélica Portuguesa” é implicada.
Ao longo da peça foram inquiridos 2 psicólogos, 2 pedo-psiquiatras, 3 advogados, 3 parentes da Maria, 1 representante da Convenção das Assembleias de Deus, mas em momento algum foram ouvidos os representantes de duas instituições que nada têm a ver com esta triste história, mas que por serem referidas a despropósito acabam por ver o seu bom nome prejudicado: a “Aliança Pró-Evangeliação de Crianças de Portugal” e a “Aliança Evangélica Portuguesa”.
Não basta justificar a omissão e a falta de rigor com a ignorância do jornalista. Um bom profissional, seja ele de que ramo de actividade for, quando não sabe, pergunta. Já dissemos: a Aliança Evangélica está e sempre esteve pronta a prestar esclarecimentos.
Para que conste: a Aliança Evangélica Portuguesa não tem rigorosamente nada a ver com a propriedade ou a gestão do “Lar Betânia”, como não é possuidora ou gestora de um único lar em Portugal, muito menos de 37 espalhados pelo país.
A RTP está, por força da lei, obrigada a “proporcionar uma informação isenta, rigorosa, plural e contextualizada”. No caso concreto falhou no cumprimento do seu dever.
Oportunamente a Aliança Evangélica Portuguesa exercerá o seu direito de resposta para reposição da verdade e reparação do seu bom nome.

A,
Aliança Evangélica Portuguesa

A América e a Europa - Crónica de Pedro Lomba, hoje no Público


A América e a Europa

Em 1831 o autor francês Alexis de Tocqueville escreveu um famosíssimo livro sobre a América: Da Democracia na América. De visita ao novo mundo, foi ele o primeiro a registar as pulsões particulares que comandavam os americanos. Os americanos, dizia Tocqueville, estavam impregnados de uma mentalidade que não existia na Europa. Era a cultura puritana, os hábitos comerciais, o gosto pelas liberdades concretas e não pela Liberdade com maiúscula, o apego pelas coisas práticas.

Esta narrativa excepcionalista, que começou primeiro como observação sociológica, ajudou a solidificar um certo credo ideológico. No século XX, quando escreveu também sobre o excepcionalismo dos americanos, o cientista político Seymour Martin Lipset disse que era uma ideologia em cinco palavras: liberdade, igualitarismo, individualismo, populismo e laissez-faire.

A ideologia ficou. Mitificada, claro, como são todas as ideologias. Mas na imaginação do mundo a América passou a ser associada à liberdade, à terra das oportunidades, da mobilidade social e da criação de riqueza. Toda essa ideologia optimista, convém notar, gerou depois uma contra-ideologia que, em vez da declaração de independência, preferia enfatizar o verso da realidade: as desigualdades raciais, a taxa de população nas cadeias, a pobreza, a saúde privada e incomportável para milhões de americanos, o capitalismo desregulado. A contra-ideologia americana nunca hesitou no modelo alternativo a seguir: a Europa "social". A Europa que tem menos pobres, menos presos, mais integração social mas também menos capitalismo.

O ponto que quero destacar é no entanto outro. Por causa do tal excepcionalismo, a sociedade americana sempre dependeu de um ethos normativo forte. O país da liberdade é também um país de regras, porque a boa liberdade é sempre a liberdade regrada. A cultura do trabalho, a responsabilidade individual, a ética da realização pessoal, são algumas regras desse código. Os americanos acreditam genuinamente na superioridade das suas regras e esperam que todos as aceitem e cumpram.

Essa é aliás a primeira regra de todas: a adesão. Dentro desse princípio de adesão, toda a gente é livre para fazer o que quer. Mas o respeito pelo básico tem sempre de lá estar. Os americanos são um povo eminentemente centrista por esse motivo, o que explica porque é que os extremos políticos nunca germinaram nos Estados Unidos. Não estão interessados em que se ponha em causa regras que eles sabem que funcionam. São um povo de liberdade, não de anarquia.

E é exactamente esse ethos, devo dizer, que me parece a diferença mais gritante em relação ao que sabemos da Europa (e penso aqui sobretudo na Europa Ocidental, a única que conheço). Não existe um ethos propriamente europeu que seja equiparável. A solidariedade? Duvido. Somos assim tão solidários na Europa? Ou, se existe um ethos, não é de adesão, como sucede nos Estados Unidos, mas de reivindicação. Enquanto os americanos percebem que têm de se adaptar o mais possível às regras porque as alternativas são piores, os europeus reivindicam, subvertem e desconfiam. Nuns casos, pretendem substituir regras por outras, as suas. Noutros, como é frequeente na Europa do Sul, até pensam que não vale a pena cumprir regras, uma vez que quase ninguém as cumpre.

Há muitos aspectos disfuncionais na sociedade americana e não pretendo ignorá-los. Mas este ethos existe mesmo e basta andar pelas ruas de uma cidade americana para perceber que, mesmo na pior crise desde 1929, eles vão sair daqui depressa.


sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Eis os amigos de Sócrates (II)


O Indescritível Presidente Venezuelano Hugo Chávez, que afirma ser um grande amigo do nosso Primeiro-Ministro, nunca tendo sido desmentido nisso, depois de uma nacionalização, não podia acabar a semana sem mais um disparate. Contribuindo para as paranóias e teorias de conspiração que alguns gostam de alimentar, o Amigo de Sócrates, num rasgo de genialidade, emite um comunicado, acerca do qual o jornal i fez um artigo com o seguinte título:

Chávez acusa EUA de provocar sismo no Haiti


Isto deixou-me com a pulga atrás da orelha, se o caso das escutas não terá sido uma ideia do Chávez ao amigo!!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Não consegui resistir


Perante este post do Correio Preto não consegui resistir a reproduzi-lo aqui. (A imagem também é do Correio Preto)

As farmácias ameaçam cortar medicamentos para a Madeira, e aqui no Correio Preto estamos preocupados. É que só de pensar que o nosso querido e sempre afável Presidente do governo regional fica sem as gotas ... os cubanos que se cuidem!

Já se começa a falar naquilo que ninguém queria admitir

Portugal terá de abandonar o euro se mantiver fraquezas

Pois é afinal parece que a coisa esta mesmo mal. Para um conhecido economista da área socialista admitir uma coisa destas é porque a nossa situação em termos macroeconómicos está realmente muito má.

Admiti-lo - como com toxicodependentes e alcoólicos - já é um principio para a cura, o problema é que Daniel Bessa já não está no governo, e, em breve virão um chorrilho de colegas seus, embutidos de teorias keynesianas a contrariar as afirmações deste economista.

Afinal o governo pelos economistas não é muito diferente do governo pelos políticos tradicionais - primeiro o meu umbigo.

Seria importante que se reconhecesse a urgência destes desafios e a necessidade urgente de reformas de fundo, algumas bastante dolorosas. Pois e o dinheiro afinal não dá para tudo, embora haja senhores na esquerda que acham sempre que sim.

Virgindades pouco próprias


Estratégia de Sucesso


O Governo montou uma estratégia na qual tem preso o PSD, que tem dado os seus frutos. Após uma dramatização violenta contra a oposição, com declarações terroristas do tipo "não podem haver dois orçamentos", ou que o "governo é quem governa e não a assembleia", os partidos da oposição, principalmente os do arco do poder (PSD e CDS), sentiram uma necessidade imperiosa de demonstrar a sua responsabilidade e o seu sentido de Estado.

Claro que só isto era insuficiente, e após demonstrações de unidade dos partidos da oposição, que estavam a tentar ser contrapeso ao governo, numa lógica de tentar impedir os desvarios de Sócrates, a estratégia da vitimização foi refinada com a introdução da divisão - dividir para reinar - ao chamar o CDS para negociar, negligenciando o PSD que se sentiu melindrado. Ao fazer isto o Governo fragilizou ainda mais um PSD já dividido, a cair aos bocados e desorientado, levando a que a alternativa ao PS pareça ainda mais distante.

O PSD já percebeu isso e anda desesperado à procura de um buraquinho onde possa entrar e ter algum protagonismo no palco para a responsabilidade e sentido de Estado que será a aprovação, mais do que conseguida, com esta estratégia de sucesso, do Orçamento de Estado. Assim o PS e o Governo garantiu a sua continuidade, com o aprisionamento do CDS num compromisso e o PSD pela necessidade de protagonismo, rebaixando a oposição e garantindo uma continuidade da legislatura que parecia comprometida no seu início, com as iniciativas da oposição.

Mas o cenário negro de cachorro com a língua de fora ainda não acaba por aqui para o PSD: é que para culminar, esta estratégia do Governo, está a fazer com que o PSD reprove nas comissões, antes das votações finais, muitos dos projectos anteriormente aprovados em conluio com a restante oposição parlamentar - o que trás consigo descrédito e contradição, e pior, a negação de propostas e compromissos eleitorais.

O PSD continua a ser driblado por Sócrates e ninguém parece ser capaz de contrariar tal gozação.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Cristianismo em Crise - crítica ao presente cristianismo evangélico

O meu Caro amigo Manuel Adriano Rodrigues, no seu blogue Sip of Glory publicou o texto que abaixo se reproduz, que chegou ao meu conhecimento via Facebook.
Achei muito interessante, sobretudo porque, durante os meus tempos de activa militância cristã, foi uma das minhas batalhas: a luta contra esta mentira, deste novo evangelho, que mistura misticismos orientais, entre outras influências, com o cristianismo, criando esta nova mensagem que agora é muito apregoada (nunca posso dizer pregada) nas igrejas evangélicas deste país. Esta foi aliás, juntamente com algumas outras, uma das razões que me levaram a afastar dos movimentos organizados cristãos existentes, porque, por exaustão da luta, a esta já não estava disposto, não me sentindo mais capaz de continuar a desmontar esta mentira em cada local onde chegava, o que aliás sempre me trazia dissabores. Daí agora estar afastado de todos, e, por isso oficialmente desviado.
Deixo para já estas considerações e o texto, mais logo acrescentarei, em edição posterior algumas mais considerações pessoais.

"Pink Gospel" - ou o "Cristianismo Cor de Rosa"

Que vivemos numa civilização em constante mudança já todos sabemos. Que a Igreja tanto na sua manifestação universal como na sua componente local foi "apanhada" por esta mutação generalizada parece-nos óbvio. O "mundo" paulatinamente conquistou a Igreja e teve tempo demais para isso. Verdades outrora óbvias e fundamentais como novo nascimento, arrependimento, conversão, redenção, pecado, etc. deixaram de fazer parte das mensagens púlpitas domingueiras. O que está na ordem do dia são mensagens como "as avenidas da prosperidade", "os cinco passos para a felicidade", etc. A culpa será agora o problema e não o erro que a provoca. A antiga fé chama-se agora "pensamento positivo" ou "confissão positiva". As bênçãos divinas prometidas deixaram de ser dádivas da misericórdia de Deus obtidas pela fé no sacrifício expiatório de Cristo e tornaram-se alcançáveis pelo mérito próprio. "Aquilo que pensas no teu coração e confessas com a tua boca determina o que recebes de Deus". Sendo que "deus" é um mero conceito do tipo "deus ex machina". O importante agora não é ter intimidade com Deus através da oração mas saber como funciona para nos resolver as precupações e nos desenrascar das embrulhadas do dia-a-dia. E, (claro) se possível ainda ficar a ganhar alguma coisa com isso!
O "Pink Gospel" proclama Jesus esquecendo-se de Cristo. O velho altar foi substituído pelo palco. O grupo de louvor tomou definitivamente o lugar do cântico congregacional. Sentimos muitas vezes que não fazemos parte de nada. Já não temos irmãos na fé. As igrejas estão agora cheias de Doutores, Engenheiros, Arquitetos, Historiadores, etc. Se você não tiver estudos arrisca-se a ser rebaixado à categoria de irmão. A velha saudação "A Paz do Senhor" foi abolida e substituída por: "Oi, tudo bem?". Os super-crentes olham-nos de soslaio querendo expulsar-nos com o olhar para os bancos de trás da igreja (os lugares "mais baratos" como já ouvi diversas vezes dizer). Hoje é tudo uma questão psicológica. Freud e Wilhelm Reich devem finalmente estar felizes na tumba. Cada vez há mais padres-psicólogos ou pastores-psicólogos. Um dia destes teremos Augusto Cury (ou os seus sucedâneos) a pregar nas igrejas locais aos domingos de manhã. Mais um pouco e todos os líderes das igrejas evangélicas terão que ser formados não em Teologia mas em Psicologia Multifocal...
Nos dias de hoje vamos à Igreja como se fôssemos ao teatro, ao futebol, ao cinema, etc. Vamos por tribalismo e não por convicção. Vamos para ver e ser vistos e não para adorar ou aprender a Bíblia. O antigo "culto" foi substituido pela "celebração". O "entretenimento" tomou o lugar da velhinha e bafienta "religião". ("O mesmo vírus com novas mutações" como diria a minha querida amiga
Rute J.) Agora tudo é "light", tudo agora é "soft". "Mutatis mutandis" como já ouvi alguém dizer. "Se não podes com eles - junta-te a eles", foi o (sábio?) conselho que ouvi de um pastor responsável pela igreja local que frequentava no momento.
O "Pink Gospel" surgiu como uma tentativa de aligeirar a vida cristã. A moralidade é agora uma realidade dinâmica e mutável, portanto altamente volátil. O que é verdade hoje pode não o ser amanhã. Aceitar Jesus já não significa dar a vida pela sua Causa. Uma atitude militante tornou-se actualmente desnecessária. Já não somos chamados para trabalhar na Obra do Senhor mas para recolher os benefícios da mesma. Bênção, prazer, riqueza, felicidade, etc. conseguem-se agora através duma atitude mental correcta. (Tenho um vizinho que já leu "O Segredo" de Rhonda Byrne diversas vezes e por mais que tenha pensamentos positivos (disse-me) não consegue arranjar emprego. Ouvi à pouco tempo alguém responsável numa igreja dizer que afinal "O Segredo" diz o mesmo que a Bíblia diz. (Eu já li o tal livro e não vi nada disso). O hedonismo na sua melhor oferta. É por estas e por outras que temos actualmente igrejas frágeis e descaracterizadas. Já não somos a vanguarda da nossa civilização mas "comemos" o que o mundo nos dá. Já muitos perderam o espírito crítico e de análise textual cartesiana. Que é feito das antigas disciplinas de Homilética e Hermenêutica? Eu por mim não quero ser cristão "cor de rosa". E você?
Pink Gospel? Não Obrigado!
Antes de discorrer mais acerca deste assunto gostaria de deixar aqui um versículo bíblico: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Efésios 2:8). Muitos pregadores têm, por vezes o hábito de perguntarem às congregações "Irmãos a salvação vem pelas obras ou pela Fé?", após a leitura deste versículo. Esta pergunta revela o erro e a ignorância básica que permite que a heresia do Pink Gospel, como lhe chama o Manuel Adriano Rodrigues neste texto, esteja se instalando. O erro está em que a salvação não é alcançada nem pelas obras nem pela Fé. Como o versículo deixa bem claro a salvação vem pela Graça, pela Graça, não há nada que possamos fazer para a obter, é graça, favor que não merecemos da parte de Deus. A Fé não nos concede a salvação, a fé é o meio pelo qual Deus nos faz o favor de nos salvar, a salvação vem porque Deus faz o favor, não é porque a Fé obrigue Deus a salvar. É dom de Deus, ou seja é dádiva, é oferta. Aliás um outro versículo diz mesmo que os demónios também crêm em Deus e estremecem (Tiago 2:19), logo a Fé é só um meio, não é o factor que concede a salvação. Se entendermos isto, que de Deus nada podemos fazer para merecer nada, nada mesmo, entendemos que somos dependentes, logo não há pensamento positivo, Fé na Fé, properidade, dádivas compradas, curas conseguidas, etc., fica só a misericórdia e a pessoa de Deus.
Amigos, quem quer seguir a Deus tem de entender que ele é que é Senhor, o homem é ele que serve, Deus não pode ser obrigado nem condicionado por nada nem por ninguém. Ele é soberano.
Mas esta mentira, esta heresia, tem muitos nomes - uns chamam-lhe Evangelho da Prosperidade, outros Movimento da Fé, outros ainda Neopentecostalismo, e, agora aprendi este novo termo de Pink Gospel. Muitos evangélicos arrepiam-se quando ouvem falar da Igreja Maná, ou da IURD, porque a ênfase aí é o dinheiro, e eles não são evangélicos. A verdade é que essas igrejas propalam as mentiras do Movimento da Fé, que nasceram em congregações das Assembleias de Deus nos EUA e numa célebre igreja a Rhema, e que em denominações bem tradicionais do nosso país têm sido também defendidas. Não vou agora aqui mencionar nomes nem denominações, mas quem estiver de olhos abertos identificará facilmente.
Grandes nomes estiveram na origem desta mentira - os nomes mais sonantes são Kenneth Hagin, Benny Hinn, Kenneth Copelan, Morris Cerrulo, e, também Paul Yonggi Cho (quem se esquecerá do seu livro A Quarta Dimensão onde este ensinava a confessar o que não é como se já fosse).
Não haja ilusões, a Igreja Católica não assumiu a idolatria, as rezas, a confissão auricular, assim de repente, a mentira foi-se introduzindo aos poucos, lentamente. Também esta heresia do Movimento da Fé se tem infiltrado aos poucos. Isto é fruto da fraca formação doutrinária que os líderes das Igrejas têm, e em consequência os seus membros, o que se reflete em aceitação rápida de heresias. Pequenas coisas têm entrado, mas a consciência do erro não está presente, pois valoriza-se muito um evangelho "experimentalista", sem bases doutrinárias e bíblicas. Aqui jaz um dos maiores defeitos de muitos movimentos evangélicos, em especial das Assembleias de Deus, onde a diversidade de ministérios não é valorizada, sendo no entanto aberta a porta para todo o tipo de ensinos, não havendo coragem dos líderes para assumirem com frontalidade o corte com a mentira quando a vêm.
Enfim este assunto daria para continuar a escrever sem fim, dadas as avultadas polémicas que encerra, mas espero que pelo menos sirva de alerta para alguns crentes.
Já agora mais um alerta. Quando alguém utilizar o versículo de Hebreus 11:1 para definir Fé, não aceite, diga e confirme que o que define Fé é o capítulo 11 todo, não permita entender o versículo fora do seu contexto, obrigue-se a olhar para todo o texto e vai ver que a perspectiva muda, que a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem, mas daquelas que Deus define, como define e indica claramente, tal como o resto do capítulo explica. Ou seja quem determina o que se espera sem se ver é Deus à partida, não é o homem que diz e confessa o que não é como se já fosse. Fé é receber uma promessa directa e pessoal e ficar firme que a seu tempo Deus cumprirá, o que não implica nunca confessar que já se recebeu o prometido - até porque a isso se chama mentir. Atenção.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Sintoma da nossa permissividade Social - qual o rumo que estamos a tomar?


Falei já um pouco sobre isto quando da polémica acerca do casamento entre pessoas do mesmo sexo: afinal que sentido queremos dar para a evolução da nossa sociedade? Esta pergunta só faz sentido se se acreditar, tal como eu acredito, que a evolução ou o progresso de uma sociedade, não é uma inevitabilidade que acontece, e à qual temos de nos sujeitar, entrando num embalo que não podemos controlar. Acredito profundamente na nossa capacidade, mais ainda, no nosso dever de pensar a nossa sociedade hoje, recolhendo as lições da história e pensarmos o futuro. Não como donos deste, mas sim como planificadores do mesmo, sentindo que devemos manter uma flexibilidade essencial, atendendo à diversidade e à liberdade individual de cada um.

Assim foi com preocupação que encontrei este texto no i online, onde se afirma que na Universidade de Sevilha foi reconhecido o direito de se copiar num exame.

Um aluno apanhado a copiar não será repreendido, nem verá o seu teste anulado de imediato, o professor, apercebendo-se do copianço, no final adicionará uma notificação ao exame, sendo que posteriormente se constituirá uma comissão para avaliar se houve copianço ou não.

Claro que isto é uma coisa aparentemente pequena, mas se a isto somarmos outras pequenas coisinhas podemos legitimamente pensar: onde é que isto vai parar?

Algumas implicações desta medida são que, um professor pode acusar injustamente um aluno de copiar que este só se aperceberá quando tiver uma comissão em cima de si; outra implicação é que os alunos sentirão uma impunidade maior, pois até as coisas mais graves têm um direito de defesa e tudo, até o copianço, pode ser discutido.

Efectivamente estamos a viver numa época de relativismo, onde um antropocentrismo militante e obtuso tem tentado reduzir todas as coisas, não à medida do homem, mas à medida de cada homem, vendendo-nos o individualismo como fonte de felicidade, quando todos sabemos que essa é uma mentira que tem lançado muitos nas garras mortais da solidão.

Copiar num exame não é algo de socialmente muito grave, mas dizer que isso não é errado à partida, mas sim algo discutível, relativo, é que me parece perigoso, não pelo "volume" da situação, mas pelo princípio em si.

Todos precisamos de dogmas, verdades absolutas, certezas, portos seguros. Afinal a navegação da vida é uma actividade perigosa, pois a deriva ou o naufrágio estão sempre iminentes. Que amadurecimento, que noção de responsabilidade, que perspectiva da vida terá uma geração, como a dos meus filhos, a quem é ensinado que têm direito a tudo, reduzindo os deveres a meros incómodos ingratos, a quem os pais não podem dar uma palmada, a quem os professores não poderão anular um teste no qual copiaram?

Estamos a criar uma sociedade insustentável, onde a liberdade será um exercício impossível, pois a velha máxima de que a liberdade de um indivíduo termina onde começa a do próximo perderá todo o sentido, pois é ensinado que a liberdade própria tem um valor infinito e uma dimensão sem fim, não sendo assim passível de terminar para dar lugar à de outrem.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Eis os amigos de Sócrates



A frase abaixo é o título de um texto do Público, onde um caro amigo de Sócrates toma uma medida própria do Bloco de Esquerda ou do PCP. Mas afinal o velho ditado cumpre-se: diz-me com quem andas, dirte-ei quem és.

Hugo Chavez ordena expropriação da cadeia de supermercados por mudar preços

domingo, 17 de janeiro de 2010

Diálogo


- Dizes também que não sabes viver sem que os sons te invadam a sonolenta mente? Porque dizes isso? Onde podes encontrar um silêncio que te responde a todas as dúvidas que precisa de burburinho que te leve o pensamento. São sons, mas são também vento e cores e coisas que se dispersam na mente sem que nada faça sentido. Não consegues ir de fio a pavio. Não consegues assim. Não insistas. Esse não é o caminho.

- Qual é o caminho então?

- O caminho é aquele que te leva do silêncio ao céu, que te arranca da estrada larga e te leva por lugar estreito, onde espreitas água que parece parada e de repente salta, salta para a vida. Esse caminho desagua, tal corrente, numa estreita porta, pequenina e humilde, onde muitos passaram, um dia desejo eu passar e contigo passar também.

- Não quero ir por aí, escolho um outro momento e instante. Desejo um arranque diferente, uma experiência mais real. Quero ver e sentir, agora, hoje, no momento, não sou de aforrear, sou de esbanjar e quero esbanjar vida, muita vida, quero por isso dar-me, ser, enlouquecer e depois esquecer, para me lembrar do bom, assumir outra escada, outro degrau.

- Não erres. Não prossigas. Esse caminho é bom, delicioso, mas é também falso, efémero, superfulo, leva à morte e quebra a vida. Não é dom essa vida, é privilégio dado, é apenas graça esse tempo, por isso é teu sem o ser, é para ti mas para dares, ao dares irás ganhar, receber mais, o que desejarás por fim dar, compartilhar e assim multiplicas vida, não a gastas.

- Pois essa é a tua visão do pequeno mundo em que mergulhas, sentes que estás perdido mas sabes sempre onde é o norte e o porto é seguro. Mas eu quero a tempestade, andar ao vento, sentir as rajadas, levar bofetadas. chorar hoje e rir amanhã, embriagar-me no ser de outrem, encontrar-me na vida de alguém que aos poucos a minha leva, estancando depois a ferida. Sim quero ser hoje alguém, e amanhã outro ser, quero encontrar caminhos, pois não suporto a ideia de um só ser.

- Nada mais te posso dizer a não ser alerta, estende-te ao comprido e deita-te na cama que fazes, mas acorda antes que o final suspiro exales, para que, nem que seja tangentemente, ao caminho voltes, o passo dês e a porta atravesses, pois a linda música de hoje, pode ser o horrível ruído amanhã. Não te deixes levar pelo turpor, nem oiças demais aquilo que te parece ser a tua razão, pois entre o céu e a terra tantas coisas há, que os olhos não vêm e a mente não alcança, mas há um, um só que esquadrinha, que conhece, que vê todas essas coisas. Alerta mente, não te deixes enganar, não sabes tudo.

O regresso do poeta Alegre


Ninguém ficou já surpreendido com o anúncio da disponibilidade de Manuel Alegre em ser candidato à Presidência da República. Ninguém se surpreende, até porque a não candidatura a deputado nas listas do PS cheirava mesmo a candidatura, ainda mais quando era conhecido o desejo deste de, sendo candidato o ser, não apenas com o apoio do PS, mas sim com um apoio mais alargado da esquerda - e aqui entenda-se do Bloco, porque o PCP nunca abdicará de apresentar um candidato próprio.

O poeta Alegre, como gosto de lhe chamar, tem de si mesmo uma visão de novo grande aglutinador e salvador da esquerda, até porque não reconhece em Sócrates um homem de esquerda, apenas o tolerou, na expectativa de assim ganhar a simpatia e o apoio do seu velho partido, ansiando que as hostes mais "esquerdistas" dentro do PS se sintam mais dinamizadas para lutas internas, até, quanto mais não seja num período pós Sócrates.

No entanto o poeta Alegre insiste em cair no ridículo. Sim a palavra é forte mas é certamente a mais correcta. Como se pode qualificar a expressão de Alegre ao acusar Cavaco de querer governar a partir de Belém e de as forças conservadoras e de direita se congregarem à volta do Presidente, tentando alcançar o controlo do país que não conseguiram via eleitoral?? Eu classifico estas palavras como ridículas sobretudo vindas de um indivíduo que é de um partido que tem como histórico um homem que fez isso mesmo - aglutinou as forças da esquerda numa oposição a partir de Belém enquanto o PS se organizava, liderando ele toda a contestação aberta ao governo e ao partido que o apoiava - e esse foi Mário Soares, o antigo concorrente com Alegre nas anteriores presidenciais. Se há memória no Portugal democrático de um exercício desses ele partiu da esquerda e do seu partido, como poderá criticar desta forma o PSD. Mais ridículo foi quando afirmou ser perigoso para o país que um governo e um Presidente sejam da mesma família política. Aqui também seria de recordar que essa seria sempre mais uma razão para não votar no poeta Alegre, afinal é o PS que está e se tudo correr normalmente, quando for a eleição presidencial ainda estará. E mais uma vez a única experiência que este país já viveu de Presidente e Governo da mesma cor foi na sua área política - Guterres e Sampaio - com os belos resultados que isso trouxe para o país.

O poeta Alegre entrou portanto com o pé esquerdo, mas até pode ser bom por ser o seu "lado" de eleição. Mas que é melhor poeta que político...

Sim porque este senhor, desde o 25 de Abril pelo menos, nunca fez mais nada na vida a não ser poesia e política, pelo que o seu contacto com a realidade deve ser assombroso.

Desça do mundo da fantasia poeta...

Mais 5 do Benfica

Marítimo 0 - Benfica 5

À meia dúzia era mais barato, mas ficou assim!!

Cristianismo e Política


Deparei-me hoje com o seguinte texto aqui no facebook: "Quando Pilatos perguntou se Jesus é rei, ele respondeu: 'A minha realeza não é deste mundo (kosmos) se a minha realeza fosse deste mundo, os meus guardas teriam lutado para que Eu não fosse entregue às autoridades judaicas; portanto, o meu reino não é de cá" (Jo 18:36). «Muitos gostariam de integrar o reino de Jesus neste mundo político.»....«É que Jesus não veio trazer ao mundo qualquer forma de política.»".Não pude comentar no local por essa pessoa não ser um dos meus amigos do face. Mas como não consigo ficar sem comentar esta manipulação descarada do texto bíblico, ou pelo menos a que está implícita decidi escrever este texto.

No texto em que Jesus afirma não ser deste mundo, ele reafirma não só a essência espiritual do seu reinado, como desmistifica mais uma vez a expectativa judaica de que o Messias seria um grande líder político/militar que iria enaltecer o povo judaico. Foi aliás essa uma das dificuldades essenciais que os judeus tiveram para reconhecer em Jesus o Messias vindouro e prometido pelos profetas das escrituras. Agora daqui concluir que Jesus está a excluir o seu reino deste mundo político é um profundo e grande abuso, é uma distorcer violentamente o sentido das palavras. Pior ainda, mais perigoso até, é dizer que Jesus não veio trazer ao mundo qualquer forma de política. Esta é uma frase assassina e até radicalmente perigosa, pois demonstra não só uma visão (e até equívoco e portanto ignorância) sobre o que é política, como exala essa ignorância radicalizada para outros. Qualquer pessoa entende que se Jesus não foi um ideólogo político, certamente que todos os valores por si defendidos e ensinados são valores de uma profundidade e impacto político imenso. Além disso não nos podemos esquecer que os próprios judeus sempre estiveram organizados num Estado, um país, com política, sendo esses políticos dos maiores personagens bíblicos. Olhemos mesmo para Moisés: alguém poderá dizer, ao ler o relato bíblico, que Moisés não foi um líder do povo, não só no sentido espiritual, e portanto um político, e, que este é um tipo de Cristo no Antigo Testamento?? É verdade que Jesus nunca foi nem teve intenções de ser um político, mas alguém que ensina a solidariedade, a compreensão, o valor da família mas também o valor da pessoa humana, que fala de justiça e de verdade, que desmascara a mentira, que se corrói contra a corrupção, não transmitiu profundos valores políticos?! Claro que sim.
Concordo e sou o primeiro defensor da laicidade do estado, até porque foi aí que se perdeu o cristianismo primitivo, quando da institucionalização pelo império romano da religião cristã, obrigando o povo a ter de participar da nova religião, a essência da vida cristã, a "conversão pelo arrependimento" deixou de existir. Sim Igreja e Estado devem estar separados, mas os valores que o verdadeiro cristianismo inculcam nos crentes são valores de profunda relevância política, que não podemos nem devemos ignorar, e creio mesmo, que fazem dos crentes os melhores políticos. Assim, os ensinos de Jesus têm lugar na política, aliás creio mesmo que têm um papel essencial, pois não sendo o homem a solução para o homem, mas Deus, quem mais pode ter a solução para o mundo senão aqueles que têm Deus vivente em si??

sábado, 16 de janeiro de 2010

Um bom fim de semana para todos



Sem mais palavras. Quem quiser saber ou conhecer mais deixe contacto nos comentários (estes não serão tornados públicos).

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

"Lisboa pode-se transformar por exemplo na praia de Madrid"



O ex-Ministro das Obras Públicas Mário Lino, sim o célebre por frases inteligentes e emblemáticas do anterior governo - tais como "Aeroporto na margem sul jamais, jamais..." ou "a margem sul é um deserto" - encontrou um substituto à altura.
Dúvidas houvesse, o novo ministro António Mendonça, aludindo às vantagens do TGV no sector do turismo, disse a seguinte e inteligente frase:


Lisboa pode-se transformar por exemplo na praia de Madrid


E mais palavras são escusadas, vamos gastar uns milhões avultdos de Euros para garantir "praia" aos madrilenos?!

Crise


O Subsídio de Desemprego vai acabar


Esta não é uma frase catastrofista, nem tão pouco uma notícia de hoje, é aquilo que acredito ser uma notícia do futuro, algo que, permanecendo no actual rumo da governação, será uma inevitabilidade. Não será por falta de vontade dos governos ou dos políticos em geral, esta realidade acontecerá pura e simplesmente porque, permanecendo neste rumo, o dinheiro vai acabar.

Ainda ontem foi interessante ver o líder parlamentar do PCP Bernardino Soares defender o alargamento dos critérios e do prazo de atribuição do Subsídio de Desemprego, afirmações que me suscitam sempre uma interrogação: "Mas esta gente pensa que o dinheiro nasce nas árvores".

Meus amigos leitores, é impossível que o dinheiro dê para tudo, sobretudo numa situação crítica como a actual. E quando falo de situação crítica não me refiro apenas à crise em si, falo também do rumo que este sistema económico/social, nos está a levar: à falência.

Não duvidemos que cenários como o ocorrido na Grécia estão muito próximos de acontecer em Portugal.

Senão vejamos: estamos com um brutal endividamento, que segundo um recente estudo do BPI atingirá em poucos meses os 120% do PIB - ou seja tudo o que produzimos num ano e mais vinte por cento, está comprometido para pagamento de dívida; ou seja por ano sobra 20% o que significa que ao quinto ano temos num ano dois de dívida para pagar, sem contar com os juros sempre a cair - a isto junta-se a iminência de uma quebra no rating da República, o que levará a que nos emprestem dinheiro mais caro, logo a um disparar da inflação e com ela maiores dificuldades na sobrevivência do dia a dia; a isto devemos somar uma quebra dos impostos, por via do brutal arrefecimento da actividade económica, o que levará também a uma redução da receita da segurança social, numa altura em que os encargos desta aumanetam cada vez mais; a tudo isto ainda somamos um défice das contas do Estado de mais de 8%, levando a que estas estejam descontroladas, sendo exigível por isso uma contração das despesas do Estado. Com tudo isto se pensarmos que estes 120% de dívida externa e estes 8% de défice ainda não estão contabilizados com a despesa vindoura da construção do TGV, do novo aeroporto, das novas auto-estradas e da nova ponte sobre o Tejo, facilmente podemos perceber os níveis para onde esses índices vão disparar, o que vai levar, muito rapidamente à falência, ou muito perto disso, e teremos de nos encarar com uma realidade onde não haverá dinheiro para muitas coisas, de entre elas a protecção social será certamente uma das vítimas.

Realismo é o que falta à nossa classe dirigente. Aparentemente o PSD parece querer ser um fiel da balança e colocar-se diante do governo para negociar um compromisso de médio prazo para o controlo das contas públicas, mas duvido que consiga. Até porque as obssessões de Sócrates por vezes são incontroláveis.

A realidade mais uma vez é que o PS nos mentiu, José Sócrates é um mentiroso, tal como afirmou, talvez não tão taxativamente, João Salgueiro, mas esconderam-nos a verdade das contas, anunciaram as grandes obras como o remédio para todos os males, mas realmente apenas mentiram - afinal Manuela Ferreira Leite tinha razão, mas o PS ganhou: os protugueses continuam infelizmente a preferir confiar em quem mente com um sorriso, do que quem é sério e carrancudo.

Mas calma, o PSD não é nenhum santo de altar - como aliás ninguém, de hoje e de ontem, é - até porque, tendo um gastador e esbanjador como Alberto João Jardim à solta no partido, não têm grande moral.

Para mim a solução passa por uma profunda mudança de mentalidades e de classe política: pelo menos que quando nos mentem o saibamos reconhecer e corramos com essa gente.

Que palavras se podem dizer


Só me espanto mais uma vez pelo espanto que ainda há pela destruição imensa de uma força da natureza, bruta e indomável.
Não sei que mais dizer, não sei que mais pensar, já que de fazer pouco posso, por ser só um. Claro que as correntes, uniões, contribuições, tal gotas, unidas são um oceano, que no lago seco, ressequido, que hoje é o Haiti, toda a falta fazem.
Mas e o ontem, onde a miséria já era a vida, apenas hoje destapada por destroços que levaram os restos de vida que por ali deambulavam.
"Abaixo do limiar da pobreza" é mais uma expressão técnica de economia que já só faz ricochete na nossa endurecida mente, não provoca arrepio nem reacção.
Só queremos milhões, para pontes, estradas e TGV, mas o limiar da pobreza continua uma expressão, seja de um povo longe ou de um mal cheiroso perto - é apenas uma expressão.
Que palavras se podem dizer.
As palavras não dizem aquilo que as imagens mostram, mas ainda aí limpamos os olhos, pelo reflexo do desvio, pelo afastamento mental, que leva à lonjura da mente, à falência do coração.
Deveras há gente a sofrer, longe no Haiti, perto na casa do lado, mas a distância é a mesma, é aquela que colocamos no centro de nós. Sim somos muito capazes desse feito tremendo de viajar pelo mundo sem sair do mesmo lugar, tão pouco haja egoístico refúgio da realidade feia que os olhos querem mostrar, os ouvidos sentir, mas a mente, o coração, o eu, afastar.
Não há perfeição em mim, não a há em ninguém, mas podia haver uma centelha, uma pequena fagulha ainda. Mas não, sou só eu, também aqui pela escrita, em divagações loucas a fazer a mesma longínqua viagem de quem nos outros vê argueiro, com trave no seu olhar.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Google assume defesa da liberdade





É impressionante como democracias ocidentais, como os Estados Unidos e a União Europeia se têm vergado ao poder do dinheiro, aceitando ditaduras como chinesa como parceiros naturais de negócios. Sim, os mesmos países que no Afeganistão e Iraque lançam bombas e guerras pela democracia e pela liberdade, apertam a mão aos chineses, fechando negócios, em nome do todo-poderoso dólar, o que envergonha todo o cidadão amante da liberdade.

Também em Portugal temos a nossa carga de vergonha a carregar: Angola, uma ditadura que explora um povo, espoliando-o dos recursos naturais, onde a família do Presidente e os que à sua volta circulam enriquecem cada vez mais à custa do país e o povo morre na ignorância e na miséria. Onde existem milhões para comprar a Zon, mas não existe dinheiro para construir um hospital digno desse nome. Mais uma vez nos calamos em nome do precioso dinheiro que dali escorre através dos negócios.

Vergonha atrás de vergonha, ainda temos aquela, que sendo conhecida de muitos, foi corajosamente denunciada por Manuel Monteiro na última campanha eleitoral para as legislativas: em nome do dinheiro recebemos milhares de emigrantes chineses, que fazem negócio com as suas lojinhas, pois escapam-se aos impstos, usando isenções, que findo o prazo das mesmas, renovam pela simples troca de nome do proprietário.

Aqui um aparte: fala-se muito de presidenciais - se posso recomendar um candidato, creio que o Dr. Manuel Monteiro daria um excelente Presidente da República.

Enfim o dinheiro tem vergado a democracia, sendo que esse valor tem-se sobreposto à liberdade, à igualdade, aos direitos humanos, etc., o que me leva a duvidar, também por isto, desta classe vergonhosa e interesseira de políticos sem vergonha.

Para maior vergonha ainda teve de ser uma empresa - esta sim que vive e existe para ter lucros - a dizer que o dinheiro não é tudo, que a sua integridade enquanto empresa e a defesa da privacidade dos utilizadores dos seus emails se sobrepunha aos 600 milhões de Euros de lucros que podem retirar deste mercado. Assumem que censuraram pesquisas por imposição do governo chinês, mas dizem que não o farão mais, pois este, sem o dizer deixou implícito, tentou assaltar a caixas de email de quem era activista anti-governamental. Do lado da China nada de novo, o que mudou foi que, de Tianamen, onde os chineses foram criticados e ostracizados, pelo poder do dinheiro agora são louvados, mudou foi a perspectiva com que o resto do mundo olha a China: passou de ditadura comunista, a economia comunista, de país fechado a mercado interessante. Que vergonha. Afinal a democracia e a liberdade estão à venda.

Quando alguém diz que tudo e todos temos um preço provavelmente não está a exagerar.

Sismo no Haiti


Cerca de três milhões de pessoas terão sido afectados pelo violento sismo que abalou ontem o pobre país que é o Haiti.

Perante a nossa pequenez, a textura do Texto, mais do que comentar, apenas pode solidarizar-se com o pesar pela perca de vidas humanas e declarar que os nossos pensamentos e orações estão com as famílias das vítimas mortais, bem como com aqueles que ainda sofrem as consequências de mais esta catástrofe natural.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Governo vai corrigir erros e lacunas da reforma penal de há dois anos


Este é o título de uma notícia do Público, perante a qual dá vontade de dizer "o que é que eu tinha dito". Todos os agentes da justiça, partidos da oposição, advogados, etc., logo aquando da entrada em vigor destes códigos agora alterados avisaram dos perigos do mesmo, quer pelos seus erros, quer pela forma apressada e precipitada como entrou em vigor.
Mas bem à maneira do teimoso Sócrates, ainda por cima desta vez com o beneplácito do PSD, motivado por uma brutal sede de vingança contra a Justiça, que atacou, na sua egocêntrica óptica, o PS, ao indiciar vários dirigentes socialistas no Caso Casa Pia. Sim bem me lembro da raiva debitada por Ferro Rodrigues e da promessa de Sócrates, nessa altura, dizendo que quando o PS fosse governo isto ia acabar. Acabou de facto.
As dificuldades de investigação e a penalidade foram alteradas, não só a favor de suspeitos de pedofilia (que afinal era disso que os dirigentes do PS eram acusados, mas como para Sócrates e sua pandilha o PS e amigos são mais importantes dos que as nossas crianças...), mas de todo o tipo de criminosos, criando o tão falado sentimento de impunidade nos criminosos.
O facto, é que coincidentemente com o vigor destes códigos os crimes mais violentos aumentaram, tanto que o próprio governo, numa lógica do troço mas não quebro, que é perigosa e vergonhosa em governantes, sentiu necessidade de contrariar, mas em vez de o fazer pela alteração dos códigos o fez por via da lei das armas.
É espantoso como é que perante tantas demonstrações de incompetência, teimosia, pouco interesse pelo povo, os portugueses reelegeram o PS, dão importância ao PSD, levam ao colo CDS e BE e ainda suportam o moribundo PCP-PEV.
Será que não chega já? Não estará na hora de uma verdadeira mudança?

domingo, 10 de janeiro de 2010

O tacho


Frase domingueira II


"Um dos pilares da democracia e da governabilidade que é o poder executivo está decrépito, em declínio e em degenerescência acelerada"


O país "vive também uma grave crise do poder judicial, outro pilar da democracia".


Paulo Rangel durante um almoço de ano novo organizado pela Concelhia de Braga do PSD - 10-01-2010

Iniciativas


Iniciativa do dia: Governo (Omni)Presente - um achado.

Frase domingueira acertadíssima



"Ao comprometer-se com a política económica do Governo, o PSD compromete-se também com a comprovada falência dela. Um suicídio exemplar".


João Pereira Coutinho, "Correio da Manhã", 10-01-2010

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Assembleia da República encontra a solução para a corrupção em Portugal: mais uma Comissão Parlamentar







Tomou hoje posse uma nova Comissão Parlamentar: a Comissão Parlamentar Eventual Contra a Corrupção. Não sendo pessimista, até porque esta comissão tem na sua constituição dois dos melhores deputados dos maiores partidos do parlamento - Vera Jardim e Pacheco Pereira - a verdade é que em Portugal estes problemas resolvem-se sempre da mesma maneira: com comissões. Claro está que desta comissão vai surgir uma comissão para estudar a aplicabilidade das propostas desta comissão, que será seguida, essa outra comissão, por uma terceira comissão que irá avaliar o impacto da aplicação das novas medidas legislativas e assim por diante.
Claro que para se juntar a esta salada que não resolverá em si o problema urgente e escandaloso da corrupção, está a batalha entre o PS e a oposição quanto à questão do enriquecimento ilícito, tendo como pano de fundo uma discordância quanto a um falso problema de inversão de ónus da prova na criminalização do enriquecimento ilícito. Já o escrevi noutras ocasiões e torno a deixar aqui que me parece muito fácil contornar tal questão. O difícil de entender é de que raio tem o Partido Socialista medo para não querer a criminalização daquilo que por si só já é criminoso.
Mas enfim temos uma nova comissão para estudar a corrupção, que de estudos já está cansada pobresinha, sendo urgente sim é que lhe tratem da saúde.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Lei estúpida - Código Penal, artigo 152º-A, número 1


Este Código Penal, com esta alteração que vou mencionar, foi aprovada já em 2007, mas apenas há pouco tempo fiquei de facto alerta para esta realidade: a de poder ser preso por dar uma palmada a um filho meu.

Sim de facto eu sou um desses seres humanos cruéis e brutais que defende o direito de poder dar uma palmada num filho quando este se porta mal, e nenhuma outra forma de o acalmar ou corrigir resulta. É lindo ver nos centros comerciais e nas ruas as crianças a arrstarem-se no chão em birras intermináveis, apenas porque os intolerantes dos pais insistem em não satisfazer todos os desejos dos petizes, nem tão pouco podem usar um cruel e desproporcionado castigo corporal para acalmar e corrigir a sua criancinha.

Os legisladores, pensadores e estudiosos modernos estão a criar um mundo de gente mimada que não sabe ouvir um não, contribuindo para um mundo mais frio e distante, onde as relações humanas se tornarão cada vez mais difíceis, pois com este tipo de educação que nos querem fazer dar aos nossos filhos, eles tornar-se-ão egoístas, egocêntricos, totalmente incapazes de entender o outro e que os outros também são pessoas com desejos e vontades, pelo que não podemos, por não consegurimos, ter tudo o que desejamos - o que também contribui para o ecludir de uma geração frustrada e depressiva, enfim doente.

O inimaginável texto da lei diz o seguinte: "1-Quem, tendo ao seu cuidado, à sua guarda, sob a responsabilidade da sua direcção ou educação ou a trabalhar ao seu serviço, pessoa menor ou particularmente indefesa, em razão de idade, deficiência, doença ou gravidez, e: a) lhe infligir, de modo reiterado ou não, maus tratos físicos ou psíquicos, incluindo castigos corporais, privações da liberdade e ofensas sexuais, ou a tratar cruelmente; (...) é punido com pena de prisão de um a cinco anos, se pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal."

Leia bem, se der uma palmada a um filho, ou se o colocar de castigo no quarto, privando-o de liberdade, pode ser punido com pena de prisão até cinco anos.

Nunca me tinha apercebido bem do alcance disto até há poucos dias. Numa certa tarde fui buscar o meu filho de quatro anos ao Colégio onde passa as horas diurnas. Quando me viu a mim e à mãe deu em desobedecer a tudo o que são as regras habituais do colégio. Começou a correr pela sala, e meter-se dentro dos armários onde se guardam as mochilas e os casacos, a bater com as portas, etc. Chamei-lhe a atenção, até levantei um pouco a voz, não muito dado o local. Agarrei-o e avisei-o para parar com aquilo se não iria sofrer um castigo. Ainda assim, conforme o larguei voltou ao mesmo comportamento, tendo mesmo ido contra a irmã, a minha filhota de dois anos, atirando-a violentamente contra os móveis e para o chão. Perante isto detive-o de novo mas desta vez dei-lhe uma palmada no rabo que o deteve de imediato. Perante isto ele parou, acalmou, apliquei-lhe o castigo, segundos depois estava agarrado a mim e pediu desculpa. Portou-se mal e só acalmou com uma palmada no rabo. Perante isto a auxiliar imediatamente alertou-me que não podia bater no menino, até porque no colégio havia CCTV e aquilo era uma violação à lei, eu não podia bater no meu filho mal comportado.

Que venha o psicólogo ou psiquiatra mais pintado dizer-me que errei, que lhe contraponho com factos como este: além disso os meus filhos distinguem bem quando a mão vai mimar de quando vai castigar - não façam das crianças animaizinhos estúpidos que elas não são.

Soube de uma história, não em Portugal, onde um homem esteve dois anos preso por dar uma palmada a um filho. Anos mais tarde, quando o filho era adolescente, este envolveu-se num assalto a um banco. A polícia foi pedir responsabilidades aos pais. O Pai, perante o sucedido declarou apenas que quando corrigiu o filho o penalizaram, não deixaram, agora não tinham o direito de lhe exigir responsabilidades. Tinha toda a razão.

Não sou nenhuma besta, mas em certas alturas uma palmada, ou até um castigo de algum tempo no quarto, podem fazer muito pela boa educação dos nossos filhos.

Esta lei ridícula chega a comparar as palmadas a ofensas sexuais e tratamentos cruéis, naquilo que me parece mais do que exagero, parece sim pura e profunda estupidez. Perdoem-me a crueza das palavras.

Ramalho Eanes: eis o exemplo de um homem decente

A crónica que abaixo publico, da autoria de Fernando Dacosta, já tem mais de um ano (é de Outubro de 2008), mas apenas agora chegou ao meu conhecimento, por email enviado pelo meu amigo e colega de partido, e portanto de ideias, Victor Magro, de Castelo Branco.
A crónica fala por si, mas a este exemplo de honestidade e verticalidade, podemos sem dúvida, contrapor a imoralidade e corrupção que graçam por aí. Sem querer insinuar mais do que as minhas palavras deixam transparecer, esta crónica, com a atitude de Ramalho Eanes nela revelada, demonstra bem porque razão homens políticos como Mário Soares, entre outros, não se deram bem com este Homem durante o exercício comum de funções políticas.

Quando cumpria o seu segundo mandato, Ramalho Eanes viu ser-lhe apresentada pelo Governo uma lei especialmente congeminada contra si.
O texto impedia que o vencimento do Chefe do Estado fosse «acumulado com quaisquer pensões de reforma ou de sobrevivência» públicas que viesse a receber.
Sem hesitar, o visado promulgou-o, impedindo-se de auferir a aposentação de militar para a qual descontara durante toda a carreira.
O desconforto de tamanha injustiça levou-o, mais tarde, a entregar o caso aos tribunais que, há pouco, se pronunciaram a seu favor.
Como consequência, foram-lhe disponibilizadas as importâncias não pagas durante catorze anos, com retroactivos, num total de um milhão e trezentos mil euros.
Sem de novo hesitar, o beneficiado decidiu, porém, prescindir do benefício, que o não era pois tratava-se do cumprimento de direitos escamoteados - e não aceitou o dinheiro.
Num país dobrado à pedincha, ao suborno, à corrupção, ao embuste, à traficância, à ganância, Ramalho Eanes ergueu-se e, altivo, desferiu uma esplendorosa bofetada de luva branca no videirismo, no arranjismo que o imergem, nos imergem por todos os lados.
As pessoas de bem logo o olharam empolgadas: o seu gesto era-lhes uma luz de conforto, de ânimo em altura de extrema pungência cívica, de dolorosíssimo abandono social.
Antes dele só Natália Correia havia tido comportamento afim, quando se negou a subscrever um pedido de pensão por mérito intelectual que a secretaria da Cultura (sob a responsabilidade de Pedro Santana Lopes) acordara, ante a difícil situação económica da escritora, atribuir-lhe. «Não, não peço. Se o Estado português entender que a mereço», justificar-se-ia, «agradeço-a e aceito-a. Mas pedi-la, não. Nunca!»
O silêncio caído sobre o gesto de Eanes (deveria, pelo seu simbolismo, ter aberto telejornais e primeiras páginas de periódicos) explica-se pela nossa recalcada má consciência que não suporta,
de tão hipócrita, o espelho de semelhantes comportamentos.
“A política tem de ser feita respeitando uma moral, a moral da responsabilidade e, se possível, a moral da convicção”, dirá. Torna-se indispensável “preservar alguns dos valores de outrora, das
utopias de outrora”.
Quem o conhece não se surpreende com a sua decisão, pois as questões da honra, da integridade, foram-lhe sempre inamovíveis. Por elas, solitário e inteiro, se empenha, se joga, se acrescenta - acrescentando os outros.
“Senti a marginalização e tentei viver”, confidenciará, “fora dela. Reagi como tímido, liderando”.
O acto do antigo Presidente («cujo carácter e probidade sobrelevam a calamidade moral que por aí se tornou comum», como escreveu numa das suas notáveis crónicas Baptista-Bastos) ganha repercussões salvíficas da nossa corrompida, pervertida ética.
Com a sua atitude, Eanes (que recusara já o bastão de Marechal) preservou um nível de dignidade decisivo para continuarmos a respeitar-nos, a acreditar-nos - condição imprescindível ao futuro dos que persistem em ser decentes.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Economia portuguesa 2009-2010

Após todas as keynesianas políticas do PS, da vitória eleitoral dos mesmos, apesar de perderem a maioria absoluta, após os ajustes directos a favor dos amigos, após os "apoios" à economia, os subsídios ao descanso, após as escutas a Belém, os casos de corrupção e as birras do Sócrates, após o discurso de Natal do Primeiro-Ministro e do de Ano Novo do Presidente da República, ninguém, mas ninguém mesmo captou tão bem a essência do estado da nossa economia como o cartoonista Rodrigo do Expresso.
Parabéns.