domingo, 17 de janeiro de 2010

Cristianismo e Política


Deparei-me hoje com o seguinte texto aqui no facebook: "Quando Pilatos perguntou se Jesus é rei, ele respondeu: 'A minha realeza não é deste mundo (kosmos) se a minha realeza fosse deste mundo, os meus guardas teriam lutado para que Eu não fosse entregue às autoridades judaicas; portanto, o meu reino não é de cá" (Jo 18:36). «Muitos gostariam de integrar o reino de Jesus neste mundo político.»....«É que Jesus não veio trazer ao mundo qualquer forma de política.»".Não pude comentar no local por essa pessoa não ser um dos meus amigos do face. Mas como não consigo ficar sem comentar esta manipulação descarada do texto bíblico, ou pelo menos a que está implícita decidi escrever este texto.

No texto em que Jesus afirma não ser deste mundo, ele reafirma não só a essência espiritual do seu reinado, como desmistifica mais uma vez a expectativa judaica de que o Messias seria um grande líder político/militar que iria enaltecer o povo judaico. Foi aliás essa uma das dificuldades essenciais que os judeus tiveram para reconhecer em Jesus o Messias vindouro e prometido pelos profetas das escrituras. Agora daqui concluir que Jesus está a excluir o seu reino deste mundo político é um profundo e grande abuso, é uma distorcer violentamente o sentido das palavras. Pior ainda, mais perigoso até, é dizer que Jesus não veio trazer ao mundo qualquer forma de política. Esta é uma frase assassina e até radicalmente perigosa, pois demonstra não só uma visão (e até equívoco e portanto ignorância) sobre o que é política, como exala essa ignorância radicalizada para outros. Qualquer pessoa entende que se Jesus não foi um ideólogo político, certamente que todos os valores por si defendidos e ensinados são valores de uma profundidade e impacto político imenso. Além disso não nos podemos esquecer que os próprios judeus sempre estiveram organizados num Estado, um país, com política, sendo esses políticos dos maiores personagens bíblicos. Olhemos mesmo para Moisés: alguém poderá dizer, ao ler o relato bíblico, que Moisés não foi um líder do povo, não só no sentido espiritual, e portanto um político, e, que este é um tipo de Cristo no Antigo Testamento?? É verdade que Jesus nunca foi nem teve intenções de ser um político, mas alguém que ensina a solidariedade, a compreensão, o valor da família mas também o valor da pessoa humana, que fala de justiça e de verdade, que desmascara a mentira, que se corrói contra a corrupção, não transmitiu profundos valores políticos?! Claro que sim.
Concordo e sou o primeiro defensor da laicidade do estado, até porque foi aí que se perdeu o cristianismo primitivo, quando da institucionalização pelo império romano da religião cristã, obrigando o povo a ter de participar da nova religião, a essência da vida cristã, a "conversão pelo arrependimento" deixou de existir. Sim Igreja e Estado devem estar separados, mas os valores que o verdadeiro cristianismo inculcam nos crentes são valores de profunda relevância política, que não podemos nem devemos ignorar, e creio mesmo, que fazem dos crentes os melhores políticos. Assim, os ensinos de Jesus têm lugar na política, aliás creio mesmo que têm um papel essencial, pois não sendo o homem a solução para o homem, mas Deus, quem mais pode ter a solução para o mundo senão aqueles que têm Deus vivente em si??

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.