domingo, 17 de janeiro de 2010

O regresso do poeta Alegre


Ninguém ficou já surpreendido com o anúncio da disponibilidade de Manuel Alegre em ser candidato à Presidência da República. Ninguém se surpreende, até porque a não candidatura a deputado nas listas do PS cheirava mesmo a candidatura, ainda mais quando era conhecido o desejo deste de, sendo candidato o ser, não apenas com o apoio do PS, mas sim com um apoio mais alargado da esquerda - e aqui entenda-se do Bloco, porque o PCP nunca abdicará de apresentar um candidato próprio.

O poeta Alegre, como gosto de lhe chamar, tem de si mesmo uma visão de novo grande aglutinador e salvador da esquerda, até porque não reconhece em Sócrates um homem de esquerda, apenas o tolerou, na expectativa de assim ganhar a simpatia e o apoio do seu velho partido, ansiando que as hostes mais "esquerdistas" dentro do PS se sintam mais dinamizadas para lutas internas, até, quanto mais não seja num período pós Sócrates.

No entanto o poeta Alegre insiste em cair no ridículo. Sim a palavra é forte mas é certamente a mais correcta. Como se pode qualificar a expressão de Alegre ao acusar Cavaco de querer governar a partir de Belém e de as forças conservadoras e de direita se congregarem à volta do Presidente, tentando alcançar o controlo do país que não conseguiram via eleitoral?? Eu classifico estas palavras como ridículas sobretudo vindas de um indivíduo que é de um partido que tem como histórico um homem que fez isso mesmo - aglutinou as forças da esquerda numa oposição a partir de Belém enquanto o PS se organizava, liderando ele toda a contestação aberta ao governo e ao partido que o apoiava - e esse foi Mário Soares, o antigo concorrente com Alegre nas anteriores presidenciais. Se há memória no Portugal democrático de um exercício desses ele partiu da esquerda e do seu partido, como poderá criticar desta forma o PSD. Mais ridículo foi quando afirmou ser perigoso para o país que um governo e um Presidente sejam da mesma família política. Aqui também seria de recordar que essa seria sempre mais uma razão para não votar no poeta Alegre, afinal é o PS que está e se tudo correr normalmente, quando for a eleição presidencial ainda estará. E mais uma vez a única experiência que este país já viveu de Presidente e Governo da mesma cor foi na sua área política - Guterres e Sampaio - com os belos resultados que isso trouxe para o país.

O poeta Alegre entrou portanto com o pé esquerdo, mas até pode ser bom por ser o seu "lado" de eleição. Mas que é melhor poeta que político...

Sim porque este senhor, desde o 25 de Abril pelo menos, nunca fez mais nada na vida a não ser poesia e política, pelo que o seu contacto com a realidade deve ser assombroso.

Desça do mundo da fantasia poeta...

2 comentários:

  1. Concordo em absoluto com este seu texto.
    Manuel Alegre não é "tão somente patriótico"
    como quer parecer, tem sabido viver bem da
    política e usufruir de todas as suas regalias...
    Um abraço

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  2. Bem vindo(a) à textura
    Regalias, privilégios, reformas e isolamento da realidade. Aliás o discurso dele era poético mas desprovido de senso da realidade. Além de que queria combater o governo a partir de Belém, apresentando um programe de governo "alegrista". Quem ficou mesmo alegre foi o BE...

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