terça-feira, 30 de junho de 2009

Manifestos e confusões: o que conta é o dinheiro


Temos sido atingidos nas últimas semanas com manifestos, todos eles de alegadas sumidades da economia, uns contra os grandes investimentos públicos, outro a favor dos mesmos, estando prometido para breve um outro, vamos a ver se ficará por aqui. Estes manifestos, mascarados de uma ciência exacta, a economia, mas que são efectivamente meros exercícios políticos.

Ontem no Público, na sua crónica de última página, Rui Tavares, o historiador recentemente eleito pelo Bloco de Esquerda para o Parlamento Europeu, assumiu as dores deste último manifesto, favorável aos investimentos com um argumento sinceramente fraco, ou mesmo demagógico. Comparando os economistas com os médicos, Rui Tavares assumia que só os médicos que acertassem no diagnóstico seriam competentes para apontar uma cura. Sendo assim, uma vez que, segundo o historiador, apenas os economistas deste segundo manifesto tinham previsto a chegada da actual crise, pelo que só estes seriam credíveis para indicar uma saída para a mesma.

Ora pegando no próprio exemplo de Rui Tavares se consegue desmontar esse mesmo argumento: quantas vezes um médico de clínica geral, ou mesmo estagiário faz um diagnóstico que um especialista, ou um médico mais experiente tinha errado, sendo depois por esse mesmo médico encaminhado para o tal especialista afim de obter a melhor terapêutica possível??!! Isto é comum e depende de muitas condicionantes. Na economia, que está imensamente limitada pelo exercício político dos economistas, como na medicina, as perspectivas limitam ou ampliam a forma como se consegue efectuar uma análise e retirar as conclusões mais acertadas. Mas um médico experiente e especialista é sempre uma voz credível, capaz de indicar uma terapia adequada. Pelo que é fácil concluir que mesmo os economistas que não previram a chegada da crise, não perdem nenhuma competência ou qualidade para apontarem uma saída eficaz para a corrente crise.

Assim só podemos pensar que a diversidade de opiniões se deve a condicionantes ou adesões políticas.

Sendo assim acho que a minha opinião perante esses investimentos só pode ser condicionada pelo seguinte: Portugal passou no último ano para uma nível de endividamento externo superior a 100% do PIB, logo Portugal não produz o suficiente para pagar o que deve; logo como será possível aumentar ainda mais o endividamento - possível é, mas será aconselhável? - sem corrermos o risco de um grande desastre para o país?; para mim a opção contra é clara.

Mas não vejo tudo preto ou branco.

Há mais vida além destes investimentos. Portugal com o dinheiro do TGV, ou provavelmente com bem menos, pode modernizar a sua rede ferroviária, reforçar por exemplo a linha do Norte para que o Alfa pendular possa ser mais eficiente, e, reforçar as ligações ferroviárias de Portugal a Espanha, tudo o que se dizia só ser possível com o TGV. Além disso reforça-se a coesão nacional e estimula-se o crescimento das regiões do interior, coisa que não ia acontecer com o TGV que só ia passar, sem qualquer vantagem para essas zonas do país, que com esse reforço das ferrovias iam ganhar mais um meio para transportar pessoas e mercadorias.

Quanto ao Aeroporto de Alcochete já não se vislumbra a necessidade tão urgente do mesmo, uma vez que a saturação prevista para a Portela, dentro de poucos anos, com a actual crise, atrasou-se cerca de dez anos, pelo que não necessitamos de tanta urgência. Podemos aguardar uma estabilização da crise, ou até uma ligeira recuperação, para depois o país avançar para a construção destas infraestruturas, que sendo importantes, dado o cenário actual, deixam de ser tão urgentes como isso.

Em relação ao plano rodoviário não se pode embrulhar tudo e deitar fora, temos de desmontar esse plano, ver o que faz falta e o que é superfulo e o que é megalómano. O que é útil avance, o que não o é pode esperar, o que é megalómano, como a terceira auto-estrada Lisboa-Porto.

Assim se desmonta o monstro dos investimentos, na minha opinião claro.

Prémio Lemniscata


O Carlos Santos que assina um dos meus espaços favoritos da blogosfera, O Valor das Ideias, deve ser o primeiro ou segundo que mais leio, atribuiu à textura do Texto o Prémio Lemniscata. Este prémio atribuido a sete blogues e cada um desses deve destinguir sete da sua preferência. Sendo assim, segue-se o texto oficial deste prémio com os espaços a quem atribuo este prémio.


O blogue O valor das Ideias atribuiu a A textura do Texto o Prémio Lemniscata


O selo deste prémio foi criado a pensar nos blogs que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores."
Sobre o significado de LEMNISCATA:LEMNISCATA: “curva geométrica com a forma semelhante à de um 8; lugar geométrico dos pontos tais que o produto das distâncias a dois pontos fixos é constante.”
Lemniscato: ornado de fitas Do grego Lemniskos, do latim, Lemniscu: fita que pendia das coroas de louro destinadas aos vencedores(In Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora)
Acrescento que o símbolo do infinito é um 8 deitado, em tudo semelhante a esta fita, que não tem interior nem exterior, tal como no anel de Möbius, que se percorre infinitamente.
Texto da editora de “Pérola da cultura”
Seguindo as regras este prémio é para ser atribuído de seguida a 7 blogues. Assim, sem qualquer ordem prévia:










De referir que se não fosse o Carlos Santos a entregar este prémio à textura o Valor das Ideias seria provavelmente a minha escolha mais imediata, mas como creio que essa não é ideia, nomeei outros, apesar de ter lutado contra esse impulso até ao fim.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

No país de Sócrates

Existe um país que é membro da União Europeia e que é governado por um engenheiro, acerca do qual, em certa altura, se colocaram dúvidas acerca dessa licenciatura em engenharia: questionou-se se ela própria não teria sido um excelente exercício de engenharia.
Adiante.
Nesse país, governado por esse engenheiro, numa outra altura da governação desse mesmo engenheiro, surgiram muitas dúvidas acerca da transparência das obras públicas, porque estas eram adjudicadas por um determinado valor, mas a derrapagem era prática habitual, levando a que essas obras custassem muito mais do que o inicialmente orçamentado.
Devido a essas dúvidas esse engenheiro e os seus coleguinhas de governo decidiram incumbir a um dos seus inúmeros institutos públicos (no caso concreto o Instituto da Construção e do Imobiliário), de criar um site na internet, onde os cidadãos desse país pudessem consultar e acompanhar o desenvolvimento dos processos de adjudicação e construção de obras públicas. Esse instituto, desse país, governado por esse engenheiro, dada a urgência do assunto adjudicou por ajuste directo com uma empresa a criação desse site, contrariando logo a transparência que esse site visava aumentar. Não contentes com isso, a empresa escolhida já tinha sido consultora do governo, desse engenheiro, acerca desse mesmo assunto, o que contariava todas as regras de transparência e a própria lei desse país.
Mas ainda assim a coisa avançou.
No entanto os pobres dos cidadãos desse país, governado por esse engenheiro, nunca conseguiram encontrar a dita informação que iria trazer transparência, nesse site da transparência, o que de transparente não tem nada, porque a dita empresa, escolhida pelo instituto, a quem o governo desse engenheiro incumbiu de fazer a coisa, nunca conseguiu colocar o tal site a funcionar "transparentemente", ou melhor dizendo, como deve ser.
Mas enfim, até aí ainda vamos.
Acontece por fim, e aqui está mesmo o fim da picada, que esse portal da transparência, criado para prevenir as derrapagens de obras públicas, está ele mesmo em derrapagem, pois a tal empresa, escolhida sem concurso pelo tal instituto, incumbido pelo governo desse engenheiro, já apresentou facturas de valor muito superior ao que havia sido orçamentado para a criação do dito site. Ou seja derrapagem no anti derrapante: lindo não é.
Por muito que isto pareça de um país de brincar, ou de uma república das bananas, este país chama-se Portugal. E, caso ainda não tenha chegado lá, esse engenheiro é o Primeiro-Ministro José Sócrates.
Mais uma: estamos mesmo "No país de Sócrates".

domingo, 28 de junho de 2009

Alberto João Jardim no país dos ricos... partidos


Já várias vezes denunciei neste espaço a vergonhosa forma como os partidos tradicionais tratam os dinheiros públicos, usando e abusando, sem consideração nenhuma. Esse despesismo só aumenta a necessidade que a máquina do Estado tem em consumir dos recursos produzidos no sector privado, e o pior é que tudo se desculpa como estando a coberto de uma alegada distribuição de riqueza que o Estado proporcionaria, fazendo chegar aos mais carenciados os recursos que os mais favorecidos teriam em excesso. Mas efectivamente não é assim. A máquina do estado, pesada e ineficiente perde na sua inércia grande partes desses recursos, já para não falar de quando esses são usados de forma negligente e desleixada.
De entre tantos outros exemplos, como o que se viu na forma como os partidos concordam em aumentar constantemente as subvenções que recebem do estado, ou a maneira egoísta como preferem várias eleições em vez de tentarem reduzir despesas, hoje foi noticiado pelo Público mais este exemplo de gasto desprezível dos dinheiros públicos: Assembleia da Madeira pagou pareceres para iniciativas do PSD.
Se há forma desprezível de mal gastar dinheiros que são de todos é distribuí-los pelos amigos. Mas se esses amigos prestarem um bom serviço ao estado, ainda se poderá tolerar, mas quando os amigos recebem dinheiros públicos para fazerem serviços a entidades particulares aí é, no mínimo, abuso e até mesmo desvio de verbas.
Mas a partidocracia portuguesa é mesmo assim, sem vergonha e continuamos a querer votar nestes senhores.
Este fim de semana com as tiradas do Sócrates na TVI e agora do PSD na Madeira, se os portugueses não fossem tão... já não votariam nunca mais nestes senhores. Mas percebo que a alternativa não é animadora: do CDS de Portas, que já virou e revirou casaca, não ao sabor de convicções (o que até seria legítimo) mas do seu interesse pessoal, tem tanta credibilidade com um cata-vento; passando pelo PCP, com a sua receita ultrapassada seria condenar o país à miséria, e não estou a exagerar, é mais um dos casos de cegueira nacional, porque só neste pequeno país ainda se dá ouvidos a este tipo de conversa; acabando no BE, que não saberia nunca governar, a sua especialidade é acusar e apontar, e, a preocupante forma como as pessoas têm abraçado este projecto que alia um profundo desrespeito pela propriedade privada a uma intensa e bem afiada demagogia, manipulando abertamente o eleitorado, deixam-me com muitas reservas acerca do nosso futuro colectivo.
Mas deixo o desafio para os portugueses começarem a descobrir os novos movimentos políticos que se levantam, em especial o MMS, com propostas realmente diferentes e melhores para a seriedade e transparência do nosso sistema político.

sábado, 27 de junho de 2009

José Sócrates: o descaramento total


Vou transcrever aqui o título da manchete do Expresso de hoje, bem como o pequeno texto que o acompanha na primeira página:

Governo já conhecia o negócio PT/TVI desde o início do ano


O Governo acompanhou todo o processo de venda de parte da Media Capital (dona da TVI) pelos espanhóis da Prisa. Desde Janeiro que a hipótese de a PT entrar na empresa era defendida pelo Executivo de Sócrates, podendo ser feita directamente ou via Espanha, onde a Prisa pode sofrer uma recomposição accionista. Sócrates e Zapatero estiveram sempre a par. Os protestos contra um negócio que colocava a TVI na alçada do Estado deram cabo da transacção.


Perante isto gostaria de deixar algumas perguntinhas:
  1. Porque é que o Governo acompanhou um negócio meramente empresarial (como o próprio afirmou que era este)?
  2. Porque razão é que a hipótese de a PT entrar na TVI era defendida desde Janeiro pelo Executivo de Sócrates?
  3. Que razões haveria para o Executivo estar interessado na entrada de uma empresa onde o Estado tem posição, na TVI?
  4. Porque não só Sócrates mas também Zapatero acompanhavam o desenrolar do negócio?
  5. Porque razão o Primeiro-Ministro declarou que nada sabia sobre o negócio, no Parlamento, quando desde o início do ano já sabia do assunto?
  6. O que quis José Sócrates esconder?
  7. Porque razão é que o Governo, se não tinha nada na manga, boicotou o negócio?
  8. Terão então valido a pena os protestos e a denuncia do PSD?
  9. Se a oposição não tivesse protestado acerca deste negócio o que teria acontecido?
São algumas perguntitas que me levam a concluir que este Primeiro-Ministro tem, do meu ponto de vista, cada vez mais lama sobre si mesmo. E como é possível ainda haver quem equacione votar neste senhor??!!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Mas a cara de pau voltou

Sim a cara de pau do PS e governo voltou, veja-se só este título de notícia do Público.
Governo vai vetar o negócio da compra da TVI pela PT

Finalmente temos Provedor


Finalmente a vergonha na cara venceu a cara de pau e os dois maiores partidos do parlamento lá se entenderam acerca do nome para o novo Provedor de Justiça. O juiz Alfredo José de Sousa, ex-Presidente do Tribunal de Contas será o novo Provedor de Justiça, por acordo alcançado entre PS e PSD.
Mas nenhum dos dois sai limpo deste lamaçal, embora se tenha visto que bastou um pouco de descrição para que o acordo fosse alcançado, em vez de arrastar o lixo pela rua. E aqui, embora volte a dizer que os partidos saem todos sujos, o PS esteve muito mal, em especial o Eng. Sócrates que revelou mais uma vez os seus tiques autoritários e de menino, porque foi ele quem no parlamento trouxe a público uma matéria habitualmente tratada, com pudor e sentido de estado, em privado.
Claro que já muito se disse sobre o assunto e quero apenas deixar aqui o alívio por perceber que mais uma vez, a saca rolhas é certo, as coisas lá andaram. E lições disto será que esta gente tirou alguma? Não sei porquê mas duvido!!

Sobre a Política


A política é uma actividade, que para muitos tem sido a sua profissão, uma actividade que é empolgante e interessante, uma vez que é sobretudo um debate de ideias para se encontrar um meio de melhorar a vida do próximo. Sempre que estendo o braço para ajudar alguém caído, mais do que fazer o bem, ou estar a ter uma atitude moralmente correcta, estou a exercer política, a política da proximidade, em prefiro ver uma pessoa em pé do que caída.
A política é a actividade das ideias, da criatividade, mas também do debate, do estudo, da observação. Daqui toda a nobreza subjacente à actividade política.
Mas para que se produza a política esta é exercida, quer na oposição, mas sobretudo no poder, onde se tem a capacidade de levar à concretização as ideias concebidas, discutidas e amadurecidas.
Infelizmente o poder corrompe, corrompe em primeiro lugar as ideias, que são subjugadas para dar lugar aos interesses. Corrompe também a discussão, levando muitas vezes a uma surdez selectiva onde só se consegue ouvir a própria voz. Corrompe porque leva por fim à instalação de uma série de redes de interesse que minam toda a capacidade de fazer política democraticamente.
Porém continuo a acreditar que, se a preocupação central for o interesse dos cidadãos, do próximo, como prefiro dizer, certamente um político consciente consegue escapar a essa corrupção, pois a sua preocupação com os outros leva a que não se preocupe tanto com a sua perpetuação no poder.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

"Não falou verdade"


Ontem a líder do PSD, durante uma entrevista à SIC, numa tirada pouco feliz, , por não ser nova, nem tão pouco original, acusou o Primeiro-Ministro José Sócrates de não ter falado verdade quando este se referiu, no Parlamento, à compra de 30% da TVI pela PT, como sendo algo que desconhecia completamente. A tirada de MFL foi infeliz porque já estamos todos a ficar habituados às constantes mentiras de José Sócrates. Pior, já estamos todos a ficar habituados às mentiras dos políticos dos partidos tradicionais.
Claro que o raciocínio de MFL para concluir ser impossível o Primeiro-Ministro não saber do negócio é completamente razoável, porque seria impossível o governo, porque o estado detém uma golden share na PT, não ser informado de um negócio desta importância.
Claro que o Presidente do conselho de administração da PT, Henrique Granadeiro, veio dizer que não falou com o accionista estado sobre o negócio, nem deste recebeu qualquer instrução. Não me parece que tenha havido instrução, mas um conselho de amigo todo suspeitamos que terá havido, até porque Henrique Granadeiro pouco ou nada sabe destas negociações, porque é pouco mais que uma mera figura, sem pouco ou nenhum poder, pois quem manda ali é Zeinal Bava, o Presidente Executivo da PT. Este ficou em silêncio, nada disse sobre o negócio. Ele é que está por dentro das negociações, não é Henrique Granadeiro.
Nunca vamos saber a verdade, mas as palavras oportunistas de Mário Lino são no mínimo ridículas, quando exige que MFL prove o que diz. Ora esta não tem de provar porque não fez um juízo de facto, mas tirou uma conclusão lógica dos factos disponíveis. Algo que qualquer um entenda. Mas coitado de Mário Lino, já não tem idade para estas coisas.

Trabalhadores da Autoeuropa perdem mais em dez dias de lay-off do que a trabalhar seis sábados até 2011




Este é o título de uma notícia do jornal Público, que me parece evidentemente tendenciosa, não por vontade do jornal, mas de quem entregou ao jornal os factos que serviram de base à notícia.
O facto real é de que a perca de valor que os trabalhadores irão ter com o Lay-off é meramente pontual, enquanto a perca de remuneração proveniente da cedência de sábados iria repercutir-se ao longo dos anos, acumulando sempre essa perca. É que as pessoas não vão trabalhar apenas até 2011.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

TVI: venda ou mudança de rumo


A televisão mais anti-Sócrates de Portugal, a TVI, que com os seus Jornais das noites de sexta-feira tanto tem aterrorizado o governo socialista, irá ser vendida em 30% à PT.
A pergunta impõe-se: esta venda será meramente um negócio ou uma tentativa do grupo Prisa, próximo do PSOE e de Zapatero, amigo de Sócrates, se livrar deste incómodo activo que tanto ataca o amigo do seu amigo? Esta suspeição é acicatada pelas notícias que circularam esta semana de que os espanhóis, incomodados com tanto ataque aos socialistas, estariam interessados na saída de Moniz (e com ele da sua bela "Boca Guedes").
Seria lindo ver a RTP e a TVI a rumarem para o mesmo lado político!!!...

A habitual demagogia de Francisco Louçã


Se há personagem na vida política nacional por quem nutro uma particular antipatia essa personagem é definitivamente o Prof. Dr. Francisco Louça, Coordenador Nacional do Bloco de Esquerda.
E porquê?
Para um eminente economista e brilhante académico, que inquestionavelmente é, faz umas contas muito estranhas. A única razão que encontro para esses resultados matemáticos questionáveis é porque a calculadora do Prof. Dr. Louça deve ter um botãosinho para a demagogia, com a qual tempera normalmente as suas incursões pelo mundo da aritmética.
Falando mais claramente: acho impressionante que este Sr. venha comparar o custo de umas eleições com o da iluminação de Natal na baixa lisboeta, que são cerca de quatro milhões de Euros. Esta analogia fraudulenta e demagógica só serve para encobrir os abusos da partidocracia: efectivamente um acto eleitoral ronda, em si mesmo esse valor, mas o Estado gasta muito mais, porque as subvenções e contribuições do Estado para as campanhas eleitorais são muito superiores e devem ser somados aos tais quatro milhões. Mas essas contas o eminente Prof. Dr, não "sabe" fazer, preferindo a analogia demagógica do costume.

Lay-off na Autoeuropa


Lançamento do blogue Fórum Agualva

Texto inaugural do blogue Fórum Agualva, que hoje lancei.

Abertura

Inauguro hoje este espaço da blogosfera destinado à discussão dos problemas da freguesia de Agualva, no Concelho de Sintra. Em ano de eleições autárquicas, em que propus ao meu partido, o Movimento Mérito e Sociedade, a apresentação de uma candidatura a esta freguesia, ainda antes de ter a confirmação se iremos avançar ou não, tornou-se para mim evidente a necessidade deste espaço. Porquê? Os partidos tradicionais afastaram-se sobremaneira dos cidadãos e pedem-lhes sempre a confiança, sem que isso se retorne aos cidadãos em atenção por parte dos eleitos. Pelo que, perante esta realidade, entendi que as coisas devem ser feitas ao contrário: os partidos devem ouvir primeiro as necessidades dos fregueses - neste caso específico - ou dos cidadãos a quem se apresentam, e daquilo quem ouvem desenvolver estratégias para ajudar a solucionar esses problemas. Esse alheamento, essa surdez crónica do sistema político em relação às necessidades do terreno, tem aniquilado pelos fundamentos a nossa democracia. Pelo que se torna essencial ouvir as pessoas, ouvir as instituições que no terreno são de pessoas e estão próximas das pessoas - as escolas, as associações de pais, as ipss's, as colectividades, as associações, as igrejas, etc., etc., sendo este o trabalho base que me proponho fazer caso a candidatura do MMS à freguesia de Agualva vá para a frente. Ouvir estas instituições e daí elaborar um programa a propor à freguesia, aos eleitores, rompendo assim com a prática dos partidos tradicionais, procurando assim pedir a confiança de quem elege, para que esta lhes seja retribuída com acções.
Nesse sentido parece ser correcto começar esta discussão por este meio, o mais fácil, onde posso começar já a apresentar problemas que vejo e as ideias que tenho para os resolver, solicitando que as pessoas comentem e debatam comigo esses problemas. Além disso podem enviar os seus próprios assuntos e problemas que queiram ver aqui apresentados e discutidos, para o email sergiofbernardo@gmail.com, que serão depois aqui publicados.
Obrigado e vamos começar a Mudar Agualva.

terça-feira, 23 de junho de 2009

A Obra é de quem a paga

Disse António Costa, citando Rui Rio, que as obras públicas não devem ser imputadas a quem as promove e desemvolve mas sim a quem paga a factura.

Pensamento estranho este...!!!

Por 5%


A época de crise económica em que vivemos tem muitas particularidades. Uma delas é que actividades extremamente competitivas entram em fricção de uma forma ainda mais intensa, levando a uma descarga, a uma pressão, procurando essas empresas formas de se tornarem sempre e cada vez mais competitivas. Além dessa pressão, existem certas actividades onde o decair da compra do produto dessa actividade ainda faz agravar mais as circunstâncias.

Estou a pensar especificamente no mercado, ou melhor, na indústria automóvel. Competitiva ao extremo porque a capacidade instalada de produção das empresas é muito superior à procura, com a quebra forte que o mercado sofreu, tem uma dupla fonte de pressão competitiva: a concorrência e a quebra de encomendas.

Assim a ordem de sobrevivência para umas - como a GM, a Chrysler, a Opel - ou a de redução de custos operacionais para outras - como a Fiat, a Volkswagen, a Toyota, etc. - leva a que os responsáveis da gestão das empresas procurem onde podem poupar cada tostão, de uma forma ainda mais empenhada do que já era habitual.

Olhando para esta crise a verdade é que muitas empresas procuram ir mais além e vêm na crise uma oportunidade de alcançar compromissos sociais com os trabalhadores, reduzindo salários, aumentando períodos laborais, reduzindo regalias várias, tudo em nome da redução de custos e da sobrevivência face a uma feroz concorrência.

Isto é o que efectivamente está a acontecer na Autoeuropa. Os líderes dos partidos da esquerda mais populista (BE e PCP) e das centrais sindicais (UGT e CGTP), andaram hoje ao estalo para tentarem culpar um ao outro pela falha da aprovação do acordo laboral na fábrica. Acontece que nenhum deles tem efectivamente razão.

Da experiência de 10 anos que tive naquela fábrica, onde trabalhei na linha, no duro, na Montagem Final, o que aconteceu ali não foi mais do que um suspiro, um exclamar de basta!

Porquê?

Quem conhece a realidade da produção de uma fábrica de automóveis sabe que o trabalho ali é muito duro. São oito horas de verdadeira "correria" em que nada se compadece com dores ou indisposições. A linha tem de andar e pronto. Quando alguém tem vontade de ir à casa de banho, seja esta forte ou não, tem de acender uma luz amarela, que tem junto ao seu posto de trabalho e esperar que alguém venha substituir. Mas quando vem alguém apagar essa luz, normalmente a pessoa não vai logo à casa de banho, ouve sim algo do género "tens dois à tua frente" e tem de ainda esperar mais vinte minutos, meia hora para se poder aliviar. Mais ainda, a linha faz dois intervalos, para além da meia hora de refeição, um pela manhã, outro pela tarde. Esses intervalos são de sete minutos, leu bem sete minutos, onde uma pessoa tem de comer, ir à casa de banho e quem fuma de fumar. A linha pára e a linha arranca, tudo automaticamente e não se compadece com atrasos. É brutal. Além disso tudo a pressão sobre os trabalhadores devido à qualidade é enorme. Depois ainda há as equipas de engenharia a estudar constantemente os postos de trabalho para perceber como podem cortar movimentos, compactar trabalho e reduzir esses mesmos postos. É intenso e muito duro.

Ao longo dos anos a AE tem colocado sempre cenários muito negros aos trabalhadores, induzindo-os sempre a aceitarem condições mais difíceis e flexibilidades imensas, por forma a que fossem sempre garantidos os postos de trabalho e a fábrica pudesse garantir mais modelos. Acontece que ano após ano, todas as cedências têm sido insuficientes e a empresa quer sempre mais. Creio que o pessoal da AE esgotou, chegou ao seu limite, e, não está disposto a continuar a ceder mais da sua vida, do seu tempo, a troco de nada. E quando falo de nada não estou a falar de dinheiro, estou a falar simplesmente da estabilidade que a empresa garantia vir com a cedência anterior, mas nunca chega, há sempre mais uma cedência, mais uma perca de qualidade de vida, há sempre algo mais a tirar. Mas a estabilidade, a segurança laboral, uma pequena consideração da empresa, em considerar que agora, nesta época de crise, escudará os trabalhadores, em contrapartida de tantas cedências, nunca vem, nunca chega, absolutamente nada a não ser mais ameaças, mais pressão, exigência de mais cedências. E isto a Comissão de Trabalhadores até pode ver, mas tem de se manter na sua, embora por vezes seja colocada internamente em causa a sua lealdade: se esta é para com a Administração, para com o BE ou para com os trabalhadores. Pois, os sindicatos ali pouco ou nada dizem, a CT abrange tudo e negoceia à margem destes. A maioria dos seus membros são do BE e os restantes são do PCP. Existe sempre uma guerra interna entre estes, mas o PCP sai sempre a perder. E bem, porque o pragmatismo necessário, que por vezes é necessário, estes senhores não têm. Mas o BE também não sai bem, porque se a esquerda deles é a da CT, é mais neoliberal do que certos sectores do PSD. Mas enfim não quero continuar por aí.

O que quero desmascarar é que esta confrontação que a Administração tem produzido com os trabalhadores é mero oportunismo. A empresa nunca poderia ser colocada em causa apenas pelo custo da mão de obra. Na Autoeuropa a mão de obra representa cerca de 5%, veja bem, leia bem, 5% dos custos operacionais da empresa, logo esta questão dos sábados será 0,0000xxx%, muito, muito pouco para tanta discussão. Claro que para os trabalhadores é significativo, porque traz para si a obrigatoriedade de fazerem anualmente seis sábados. Não é trabalho extra porque não é pago, não é por vontade própria, é obrigatório, ou seja é acrescentar mais um dia à jornada semanal de trabalho, algo que a maioria das pessoas não aceitaria nos seus empregos. Isto retira qualidade de vida, tempo de descanso, tempo de estar com a família. Mas esta demagogia é irritante e a cegueira dos governantes que não denunciam isto é incomodativa.

A mentira alarmista do PS acerca do TGV


No seu ímpeto desmesurado de querer deixar marca na história do país, através de grandes obras do regime, o PS tem vendido uma mentira descarada, quer ao longo da campanha para as europeias, quer na ressaca pós eleitoral. O PS tem vendido a ideia de que, entre muitas outras razões, o projecto do TGV não pode ser adiado, sob a pena de perdermos uma série de fundos comunitários essenciais para a realização do projecto.
Ora após o manifesto dos 28 economistas solicitando ao governo a reavaliação dos grandes projectos em obras públicas, vem, quem de direito, afirmar que Portugal só perderá esses fundos se quiser. O jornal i traz hoje uma notícia que refere isso mesmo: Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia garantiu que Portugal não perderá os fundos, nem será penalizado, se decidir adiar o projecto do TGV. Já se decidir cancelar de vez o projecto o cenário é outro, aí a única hipótese de não perder esses fundos será apresentar de imediato outros projectos onde estes dinheiros possam ser aplicados.
E há muito onde estas verbas podem ser aplicadas, há muito e em ferrovias mesmo, revitalizando e modernizando as linhas mais importantes do país, fazendo ligações a Espanha com maior qualidade e maior acuidade também, indo muito mais ao encontro das necessidades das pessoas, das populações.
Claro que o PS está manifestamente mais interessado em vender o seu programa eleitoral, do que em encontrar soluções efectivas para o país. É pena que muitos queiram, apesar de todas as evidências, continuar a acreditar na palavra, na competência e na capacidade deste partido que nos últimos quatro anos só demonstrou não ser credível, competente nem capaz.

4.300.000.000

Lê-se quatro mil e trezentos milhões, é o valor em Euros que o nosso défice já leva. Longe vão os tempos de aperto orçamental, agora é o esbanjamento orçamental, mas claro que a culpa é da crise: eleições a quanto obrigam.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Nuno Cardoso: a divina justiça


Onde pára a justiça portuguesa, de perdidos caminhos feita, que longe de ser justa, como de cega não é. Bem escolhido o golpe foi, bem à medida, de alargar o regime das penas suspensas de três para cinco anos, aquando da entrada do corrente governo PS, pois senão o caro Nuno teria de passar uns dias, condenado pela humana justiça, desprezado pela divina, na bem mundana prisão, onde a vileza dos homens leva, pela cegueira injustiça da humana justiça, um santo homem, inocente aos olhos da divindade, a ser condenado.

Pobreza de alma, pobreza de espírito, como pode um inocente ser condenado. Mas ainda que seja, apelando para a divina justiça, não vá o diabo tecê-las, também segue o apelo para a humana, para a falha, ridiculamente pequena e insignificante justiça humana.

Olhai homens do seu partido, vós que continuais cada dia a convidar o digníssimo Nuno para a causa pública, olhai e vede o mártir, que apesar do seu sofrimento se dispõe a voltar, a tornar ao flagelo público da gestão (ou ingestão) da coisa pública. Vide, vide e contemplai, como uma pobre vítima de um cruel problema administrativo pode ser arrastada na lama, como o pode ser o mais puro e santo dos homens. Olhai D. Nuno Cardoso e contemplai, um homem em luta contra a justiça humana, apelando à divina, porque, sim, porque pobre homem foi vilipendiado em sua honra pela desonra imerecida da culpa de uma assinatura esquecida, nunca lembrada. Como podeis vós, homens de pouca fé, desonrar desta forma D. Nuno, culpado pelos homens, inocentado pelos céus.

O pecado dos exames nacionais e das provas de aferição


Há dois assuntos, ligados com exames escolares, que têm sido efectivamente confundidos: um são os exames nacionais - que influenciam na nota, influenciam as médias e a carreira escolar dos alunos - outro são as provas de aferição - que não contam para nota, servem apenas para o Ministério da Educação aferir da qualidade do ensino e da forma como os currículos escolares estão ou não a ser apreendidos pelos alunos.
Não tenho absolutamente nada contra o facto dos exames nacionais serem acessíveis, embora dependa um pouco do significado efectivo de tal termo. Se acessível significa fácil, que qualquer um resolve, temos aqui um problema de credibilidade dos mesmos. Se acessível significa que está acessível ao aluno médio, ou seja, se o exame é realista, estando estudado para que o aluno bom tenha um bom resultado, o aluno médio tenha uma nota média e o aluno mau uma má nota - claro que a aplicação de última hora pode ajudar, tal como o desleixo de última hora também pode prejudicar - então temos exames credíveis, bem feitos e que ainda por cima aferem também da qualidade do sistema educativo. Não posso esquecer-me do tempo dos exames dificílimos ou das provas específicas, feitas por professores universitários para alunos de secundário, dificílimos, humilhantes e frustrantes para os alunos. Pelos que um realismo nessas provas é muito bem vindo.
Nas prova de aferição o realismo destas é que demonstra da utilidade das mesmas. Ou seja se o ministério quer dados fiáveis para aferir da qualidade do sistema de ensino não pode permitir facilitismo nessas provas, nem pode ser demasiado exigente, tem de ser realista, para que realidades diferentes sejam reflectidas nos resultados das provas.
Infelizmente o grande pecado dos exames nacionais e das provas de aferição é que não se podem comparar dados. Primeiro não se pode comparar dados de exames manifestamente mais difíceis com os dados dos exames mais recentes e daí retirar a conclusão de que o ensino está melhor. Não se pode pegar em provas de aferição extremamente fáceis e daí tirar o mesmo tipo de conclusões. Isso em bom português tem um nome: mentira. Tem também uma série de adjectivos, tais como demagogia - da mais forte e descarada que se tem visto nos tempos da democracia portuguesa -, hipocrisia - é preciso ter muita cara de pau para dizer que estes exames estão ao nível de outros e daí vamos retirar conclusões de que se os resultados estão melhores é porque as medidas do governo resultaram -, falta de honestidade, etc.,etc.
Ponham estes miúdos a fazer exames de alguns anos atrás e vão ver o trambolhão. Eu não defendo isso, repito, não gosto de exames difíceis, prefiro-os realistas, mas daí também não podemos concluir que uma melhoria das notas é devida à política educativa do governo. Até porque isso é tapar o sol com a peneira e que sai prejudicado é o país, são os alunos futuros, que vão entrar num sistema mau que não tem capacidade auto-crítica. O nosso sistema educativo está a ficar anoréctico, cada vez mais magro, cada vez pior, mas olha-se ao espelho e vê uma pessoa gorda a precisar de dieta. Impõe-se uma mudança.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

As grandes obras públicas

A notícia de que cerca de 30 economistas de renome e de vários quadrantes políticos, subscreveram um manifesto solicitando ao governo que trave os grandes projectos de obras públicas, e, aguardasse para efectuar uma reavaliação após as eleições, aperta o PS para uma situação em que nas eleições o seu projecto político, assente sobretudo nessas obras, seja devotado desde já ao descrédito público. O bom senso assim o dita, mas só o governo parece não querer entender.

Um caso sério de clarividência


Já não é a primeira vez que as opiniões de José Miguel Júdice, habitual cronista do jornal Público das sextas-feiras, vêm de encontro ao meu pensamento pessoal e muito concordantes com aquilo que é também a ideia que o MMS tem defendido e apresentado sobre o sistema político português. Hoje aconteceu de novo: o ex-bastonário da Ordem dos Advogados publicou hoje no referido jornal um texto sobre a renovação do sistema político, com tiros certeiros e críticas correctas ao mesmo, sob o título de "O renovamómetro".
O meu primeiro impulso foi de publicar aqui por integra a crónica, uma vez que o Público não disponibiliza um link, mas decidi por fim publicar aqui apenas trechos.

O renovamómetro
(...)
O sistema partidário português nunca precisou tanto de renovação porque nunca esteve a um nível tão baixo. O episódio recente da lei de financiamento dos partidos (...) surgiu como apenas mais um exemplo do estado de desagregação do sistema que há muito entrou em processo de entropia negativa.
As causas são conhecidas, como já por várias vezes referi. Hoje em dia, os militantes activos dos partidos correspondem aos eleitos por esses partidos para vários escalões políticos, desde as freguesias ao Parlamento. Vivem disso e para isso e, como é evidente, organizam-se para evitar que surjam quaisquer valores novos que venham tentar competir pelos lugares escassos que ocupam.
A única forma de penetrar no sistema - para além de alguns nomes excepcionais que são exibidos nas campanhas eleitorais e para os quais é forçoso abrir algumas vagas - é entrar quase adolescente para as organizações de juventude. Aí podem insinuar-se pelo esforço e pelo trabalho junto de uma figura grada, fazer campanhas, integrar um gabinete autárquico ou nacional, tornar-se políticos profissionalizados antes de terem qualquer profissão. Depois, com alguma sorte e muita intriga, podem ir subindo gradualmente; até porque se abrem sempre algumas vagas, pois a partir de certa idade alguns políticos afastam-se para actividades mais rentáveis para que são contratados devido à notoriedade, aos contactos e à experiência de sobrevivência num mercado muito competitivo.
Estes cursus honorum sem diversidade é muito negativo para o sistema. Por um lado, porque formata um tipo de político que não tem experiência de vida, que vive em circuito fechado, que depende dos chefes e da carreira e, por isso, não tem ou não usa o espírito crítico, não se orienta por valores ou ideologia, mas tão somente pela sua carreira pessoal. Por outro lado, porque não se abre a candidatos à vida política que tenham tido essa atracção mais tarde, quando ou depois de já terem exercido uma actividade profissional. Este outro tipo de candidatos traria diferenciação e novidade ao sistema, no que seria uma espécie de reforço da ecologia política baseada na diversidade e na complementaridade.
(...)
Veja-se o exemplo - que tantas vezes referi sem que até hoje nem um único partido nem um único político alguma vez tenha ousado discordar de mim - do excesso de freguesias e de câmaras municipais, que contribuem para a tragédia do ordenamento do território, para o aumento dos custos do Estado e até para uma cultura de ociosidade política. Não é possível reduzir o número de autarquias porque isso tornaria a luta pelos lugares, mais escassos, ainda mais dura e agressiva; e, evidentemente, os políticos profissionais preferem ter mais lugares para distribuir do que ter de lutar ainda mais por eles.
(...)
A dimensão dos desafios tem de aumentar o sentido de responsabilidade das elites, dos que muito ganharam com 30 anos de democracia e crescimento económico e que pouco ou nada deram ao Colectivo e ao Bem Comum. Existe, por isso, uma janela de oportunidade para a renovação do pessoal político nas próximas eleições legislativas e autárquicas. Espero que os partidos sejam capazes de candidatar (...) mais pessoas com experiência da vida real e que estejam com uma idade em que voltam a ter mais tempo para dedicar a causas sociais e colectivas (...) numa palavra, portugueses que vão para a política para servir e não para se servirem.
(...) Espero até que a Critical Software ou a Y Dreams inventem um renovamómetro que permita medir instantaneamente a renovação, para assim nos ajudarem a escolher em quem votar. E, mais do que isso, nos ajudarem a decidir ir votar.

Agradecimento

Desejo agradecer aqui aos leitores d' A textura do Texto, que ontem bateu o recorde de visitas num só dia, deixando o convite para uma maior participação nos comentários aos textos.
Mais uma vez obrigado.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Afinal tudo fica na mesma: preocupação na SIC



A SIC que se cuide.

Unidade, Visão e Trabalho

Já passou algum tempo desde as eleições europeias, tempo este em que o blogue esteve parado, até porque todos nos dedicámos um pouco a relaxar e a descansar do tempo intenso da campanha. O resultado foi o que foi, a Comissão Política tirou as suas ilações, que publicou no site do partido, e é tempo de seguir em frente. Até porque agora temos um capital político que é o nosso, de cerca de 21 mil votos, que temos a responsabilidade de multiplicar para que a mudança efectiva de Portugal se comece a concretizar.

Por isso desejo deixar três palavras de ordem, nas quais os eleitores, os cidadãos, podem ver a forma como encaramos a seriedade das nossas propostas e a vontade férrea de mudar Portugal: estas são Unidade, Visão e Trabalho.

Unidade: após estas eleições o partido tem uma necessidade imensa de se unir, enquistar-se enquanto força política, para que divergências marginais não permitam uma distracção, de um milímetro que seja do alvo principal - a Visão que temos para Portugal.

Visão: unidos não nos distrairemos do essencial, que é manifestar, apresentar, levar, anunciar, desenvolver o projecto político do MMS; ter a visão de um Portugal moderno, com uma demoicradia participada e mais próxima dos cidadãos, com uma melhor qualidade de vida, onde o civismo é um princípio ensinado aos jovens, onde a segurança e a justiça, de mãos dadas, permitem o exercício de uma liberdade responsável, é o fundamento para a continuidade da luta, para as batalhas eleitorais que rapidamente se aproximam; desta visão criarmos uma outra visão, a visão que queremos proporcionar aos nosso concidadãos, por forma a que conheçam e reconheçam o projecto político do MMS é uma missão importante para a qual todos somos chamados. Daqui resta-nos trabalhar, trabalhar, trabalhar.

Trabalho: nada se faz, nada se alcança, nada se consegue sem trabalho. Esta é a última palavra chave que desejo deixar aqui e talvez a mais importante. É que trabalhar implica darmos de nós, suarmos, percorrermos, dar a cara, apresentarmos o nosso corpo ao msnifesto; não é apenas estar atrás de um teclado a escrever, é sair daí, apesar dos pouco tempo e dos muitos afazeres e ainda assim, por um bem maior, por uma causa comum, encontrar tempo, vontade e forças para vir para a rua, para as colectividades, para as igrejas, para as IPSS's mostrar, ouvir e explicar o nosso projecto. Dar de nós, trabalhar este é um desafio para todos os militantes do MMS, mas também para todos aqueles que, não o sendo, reconhecem neste projecto o valor intrinseco necessário para levarmos adiante a "revolução inteligente".

José Eduardo Moniz na Presidência do Benfica


É a oportunidade de que a SIC estava à espera para reconquistar audiências!!


E parece que o Bagão Félix, se Moniz avançar, vai para a Assembleia Geral!!

Sócrates O Anjinho


Depois da personagem de Sócrates O Calimero, com os seus números de vitimização, não ter colado, tanto que perdeu as europeias, agora, sob o argumento de uma suposta leitura dos resultados eleitorais, o nosso primeiro-ministro apresenta-nos o seu novo personagem - atenção que é apenas um personagem - Sócrates O Anjinho: humilde, modesto, atencioso, calmo e auto-crítico. Será que cola?

Autoeuropa - pré-acordo chumbado




A minha preocupação primordial com estes meus ex-colegas, prende-se com o facto de, compreendendo totalmente as razões deste chumbo, pois a lógica de pensamento dentro da fábrica, perante a realidade do trabalho que ali se faz, é muito diferente daquela que comummente se pode pensar, é que estão completamente abandonados. A CT faz acordos muitas vezes prejudiciais, que têm sido aceites, muitas vezes sob uma verdadeira chantagem, tendo-se repetido votações até que o resultado desejado fosse alcançado. Ali a democracia não funciona, para vergonha do Sr. Chora e sua pandilha bloquista. Mas os trabalhadores estão abandonados porque nem sequer o governo, com o qual a empresa tem vários acordos e várias responsabilidades assumidas, sem que o Ministro da tutela, o excelentíssimo Manuel Pinho, venha uma única vez que seja lembrar a administração desses mesmos acordos, procurando sempre pressionar os trabalhadores da AE. Aliás estou a aguardar que a qualquer momento a triste declaração, do triste governante, venha a público.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Moção de Censura do CDS/PP ao Governo - Leia aqui o texto integral da moção



1.As eleições de 7 de Junho representaram um inequívoco voto de censura face ao Governo. Tendo o primeiro-ministro assumido que, nessas eleições, se faria a avaliação não apenas do seu Governo mas também da oposição, o resultado verificado não pode ter outra leitura senão a de uma penalização fortíssima da actividade do Governo. Todos os Partidos da oposição registaram subidas percentuais face aos resultados das eleições legislativas de 2005.

2. Em qualquer democracia ocidental, quando um Governo é censurado pela população, de forma tão significativa, a consequência normal é o exercício institucional dessa censura. O princípio de que as instituições – no caso, a Assembleia da República – devem acompanhar a vontade popular tão expressamente maioritária, é um bom princípio democrático. É esse o primeiro sentido da moção de censura que apresentamos: a expressão institucional da vontade do país.

3. Acresce que a peculiar forma de governo revelada pelo primeiro-ministro José Sócrates – teimosa na essência, arrogante na atitude e ineficaz nos resultados – dificulta a correcção das políticas públicas do Governo. Numa democracia ocidental, o profundo aviso à navegação dado pelo eleitorado a 7 de Junho conduziria, naturalmente, à mudança de protagonistas ou à rectificação de políticas. Em nosso entender, é manifesto que o primeiro-ministro errou ao não remodelar o Governo – em áreas tão sensíveis como a Educação, a Administração Interna e a Justiça, a Agricultura e Pescas, a Economia ou as Obras Públicas. Dissemo-lo em devido tempo. Agora, o primeiro-ministro terá uma especial dificuldade em fazê-lo com sucesso. Por outro lado o primeiro-ministro comprometeu-se exaustivamente com políticas que estão erradas. A sua margem de manobra para as rectificar, sem quebra de autenticidade, é mínima. A moção de censura apresentada pelo CDS tem também o sentido de demonstrar que o modo de governar do primeiro-ministro José Sócrates está esgotado. A equipa governamental é cada vez mais fraca, face às dificuldades; e o rumo do Governo não é uma questão de imagem nem de discurso, tem a ver com erros de fundo na condução das políticas.

4. É nosso entendimento que o país castigou, severamente, nas eleições de 7 de Junho um estilo – a arrogância e a conflitualidade sistemática com os grupos profissionais -, bem como a ausência de resultados positivos em inúmeras políticas públicas. Compete ao CDS dar voz, expressão e consequência ao sentido crítico dos eleitores que em nós confiaram. Esse sentido crítico manifesta-se, principal mas não exclusivamente, nas seguintes áreas:

a) O eleitorado castigou a ausência de resultados práticos no combate ao desemprego, bem como a circunstância, socialmente incompreensível, de boa parte dos desempregados, incluindo jovens e casais, não terem acesso às prestações sociais na situação de desemprego:

b) Os cidadãos revelaram expressiva preocupação com uma política económica essencialmente virada para as grandes obras públicas, ao mesmo tempo que cerca de 280 mil micro, pequenas e médias empresas, que garantem mais de 2 milhões de postos de trabalho, continuam a ser sufocadas com impostos por conta a mais, devoluções de IVA a menos, pagamentos do Estado em atraso ou dificuldades absurdas no acesso às linhas de crédito;

c) Os portugueses manifestaram, também, a sua discordância com o facto de, em período de recessão profunda da economia, o Governo revelar uma forte incompetência na aplicação dos fundos comunitários que permitiriam injectar liquidez na economia, promover o investimento, gerar actividade económica e aumentar a produção, a exportação e a substituição de importações na nossa economia. Quer a deficiente aplicação do QREN, quer a inconcebível perda de fundos na Agricultura e Pescas são, disso, testemunho indiscutível;

d) Outras áreas em que os nossos compatriotas mostraram um efectivo cartão vermelho ao Governo são áreas de Estado: desde logo, a segurança, onde a sociedade portuguesa está a pagar, injustamente, a factura de inúmeros erros cometidos, quer nas políticas de polícia, quer nas políticas penais, quer nas políticas sociais; também na área da justiça, onde a descredibilização do sistema judicial atingiu proporções nunca antes verificadas, ameaçando a confiabilidade num dos pilares do Estado de Direito; e na área da imigração, está à vista os limites de um discurso – e de uma legislação – pouco realista e pouco rigorosa, com dezenas de milhar de imigrantes sem trabalho, ocupação ou realização pessoal;

e) É também notório que, no sector do ensino, o Governo foi censurado, especialmente porque a sua política cega conduziu à desmotivação e à desautorização dos professores, e também porque o objectivo de “governar para as estatísticas”, e não para a excelência, leva muitas famílias a recusar medidas facilitistas quanto à avaliação dos alunos;

f) Salientamos, ainda, a frustração de uma parte considerável da sociedade portuguesa com a insuficiência de resultados no domínio da saúde. Na verdade, os objectivos prometidos pelo Governo na redução das listas de espera ou na reforma da política do medicamento não se cumpriram;

g) O défice social português, em particular o que se relaciona com a situação de pobreza dos idosos, constitui um poderoso factor de contestação deste Governo, sobretudo se compararem as limitações impostas aos pensionistas de menos rendimentos, com a ausência de fiscalização efectiva que se verifica noutras prestações sociais, v.g. o Rendimento Social de Inserção;

h) Acrescentemos que, para inúmeros cidadãos, é revoltante a sucessão de falhas nas políticas de supervisão, regulação e concorrência, a um tempo porque essas falhas têm custos elevados para o contribuinte, e a outro porque essas falhas não são assumidas pelos seus responsáveis.

Estas razões, ou outras, no caso de outras forças políticas, estão entre as que mais motivaram o voto crítico do eleitorado. O CDS tem obrigação democrática de as enunciar e explicar. Mas é nossa convicção que o eleitorado pede mais. Pede, exige, tem direito à formulação de políticas alternativas.

5. Na verdade, a três meses das eleições legislativas, a moção de censura do CDS tem o sentido de demonstrar que há soluções diferentes, políticas diferentes e atitudes diferentes, em relação ao estado do país.

Não nos limitaremos a um exercício de crítica, próprio da oposição em democracia. Procuraremos responder aos portugueses, explicando o que faríamos melhor. Esse sentido construtivo desta moção de censura contra um mau Governo, é importante e será visível no conjunto das políticas, com especial destaque para as que incidem sobre o desemprego; PME’s; impostos; sectores produtivos; segurança e justiça; imigração; educação; saúde, pensões e redução da pobreza em Portugal.

6. Finalmente, quer o CDS alertar, com esta moção de censura, para a circunstância de, politicamente, o Governo dever evitar decisões irreversíveis em matéria de grandes projectos; e ser de toda a conveniência a transparência orçamental e o conhecimento, pelo povo português, das exactas circunstâncias, do ponto de vista dos indicadores macro-económicos, da situação de Portugal, de modo a habilitar os cidadãos com toda a informação relevante para poderem avaliar as políticas do Governo e fazerem as suas escolhas de futuro.

É nossa opinião que o eleitorado, em 7 de Junho, remeteu para um passado que não quer repetir esta maioria absoluta de um só Partido. Censurou a sua atitude de confronto permanente e uma governação baseada em anúncios e promessas que não se projectam na realidade económica, social e institucional.

Por isso, a Assembleia da República, nos termos do artigo 194º da Constituição, delibera censurar o XVII Governo Constitucional.

Palácio de São Bento, 9 de Junho de 2009

Os Deputados do CDS/Partido Popular


terça-feira, 16 de junho de 2009

Coisas que eu não entendo


Tem a direita neoliberal governado o país na maioria dos últimos 14 anos para ser a culpada pela crise?

Se a direita neoliberal é a culpada pela crise porque é que só os partidos no governo de família socialista é que perderam as eleições europeias?

Porque é que a esquerda socialista se identifica tanto com Obama quando ele é um social-democrata, ou democrata-cristão ao estilo europeu?

Acerca do Finaciamento dos Partidos - Mais uma tirada de João Miguel Tavares


Os marcianos tomaram conta do Parlamento

Lembram-se daquela série de televisão chamada V - A Batalha Final? Havia nela alguma coisa de premonitório. Sob a aparência de humanos escondiam--se extraterrestres que queriam tomar conta da Terra. À primeira vista nada os distinguia de uma pessoa normal, mas quando a pele se rasgava surgia um réptil carnívoro, que se dedicava a praticar maldades. Pois bem: receio que tenhamos assistido a um remake desta série dos anos 80 em plena Assembleia da República, durante a aprovação da lei do financiamento partidário. Tenho cá para mim que a conspiração alienígena se infiltrou no Parlamento e os deputados que andaram a levantar os braços em Abril eram, na verdade, marcianos.

As provas são claras. Como qualquer pessoa com o olho treinado para o reconhecimento de extraterrestres malévolos facilmente percebe, os homens e as mulheres que aprovaram a lei em tempo recorde há menos de dois meses - carimbando assim uma lei que multiplicava por 55 a entrada de dinheiro vivo nas contas dos partidos - não são manifestamente os mesmos que há poucos dias aceitaram, com um alívio visível, o veto da mesma lei por parte do Presidente da República. Com a excepção de António José Seguro - um corajoso resistente à investida dos lagartos, à semelhança do jornalista Michael Donovan na série origi-nal -, todos os outros representantes da nação ou estavam a vestir de verde por baixo da epiderme ou terão sido, de alguma forma, sujeitos àquele processo de controlo da mente conhecido como "conversão", que transformava os humanos em meros peões dos Visitantes.

Reparem. Os deputados de Abril fecharam-se em esconsos gabinetes, de onde saíram para uma votação-relâmpago, e ainda assim falaram de um processo envolto em grande "transparência". Felizmente, a conspiração falhou, porque os deputados de Junho já vieram aplaudir a decisão de Cavaco Silva, atirando o financiamento das naves espaciais - perdão, dos partidos - para as calendas. O PS disse agora encarar "com naturalidade" o veto do Presidente. O CDS disse que "não há condições" para insistir na aprovação. O Bloco disse que Cavaco colocou "um ponto final" no processo nesta legislatura, que é uma boa frase para encerrar o episódio. O PCP, é certo, foi o que se mostrou mais contrariado, discordando do veto - mas há muito tempo que se desconfia que o partido não vive na Terra. Já as declarações do PSD, através de Paulo Rangel, deixaram--me mais preocupado. Disse ele que o PSD aceitou a lei mas que "nunca foi a favor" dela, "pelo contrário, até foi contra". Hummm… É uma daquelas cambalhotas tão desastradas que, pelo sim pelo não, eu mandava-lhe fazer umas análises ao sangue. Nunca se sabe quem pode ter ganho as europeias.


Soares e a ingovernabilidade


O antigo Presidente da República Mário Soares é uma figura que conquistou o seu lugar na história de Portugal, para uns por más razões, para outros pelas melhores possíveis. Senhor da fundação do Partido Socialista deseja ver neste ainda um arauto da esquerda democrática, de onde este PS há muito se deslocalizou, apesar das tiradas mais ou menos esquizofrénicas de franjas da militância, ou dos dirigentes motivados por razões meramente contextuais.
Mário Soares continua assim a ver o mundo pintado em tons de rosa e laranja, como se Portugal tivesse sofrido de um tratado de Tordesilhas, dividindo o país entre estas duas grandes potências políticas, desdenhando de tudo o resto. Além disso vê fantasmas onde estes não existem, procurando agora encontrar a luz para a saída de uma negritude repentina na pessoa de Obama, a quem constantemente se refere numa atitude de adoração do Messias completamente descabida.
O ex-PR ainda se revê em rótulos desadequados e antiquados de direita e esquerda, que muito honestamente me parecem absolutamente relegados para os compêndios de história. Mas a arrogância roça os limites do cúmulo, pois o respeito democrático pelos povos é algo de que MS várias vezes já demonstrou não ter. Em recente texto publicado no Diário de Notícias MS escreve o seguinte:

Com a União Europeia, paralisada e governada, sobretudo, à direita, é difícil imaginar a mudança que se impunha.

É por demais evidente que Mário Soares não perceba que os povos da Europa decidiram apostar nos partidos mais conservadores para os representar a nível europeu, concluindo daí que isso leva à paralisia. O respeito pelo poder do voto é nenhum e pior ainda é não conseguir perceber o porquê. Na minha análise o facto dos partidos mais conservadores terem vencido as europeias deve-se a que estes são identificados como defendendo atitudes políticas europeias de maior defesa dos interesses nacionais, enquanto os partidos socialistas se mostram mais federalistas e dispostos a abdicar muito mais de certas autonomias nacionais, o que em alturas de incerteza e crise como a que vivemos leva o eleitorado a procurar defender-se
.
Embebido continuamente de um espírito dualista direita-esquerda MS vê estarem a levedar-se na Europa certas alternativas de esquerda que, mais dia menos dia, tomarão conta dos países europeus:


As forças de esquerda estão, por toda a parte, a levedar no sentido de uma mudança que, no entanto, não será para já. Muitos talvez o não tenham percebido ainda.

A verdade, a grande verdade que MS e o PS não querem encarar é que, se existem forças de esquerda em crescimento, este é fruto da crise e do facilitismo social com que essa mesma esquerda propõe resolver a crise, mas as forças que efectivamente crescem nesse espectro estão longe de serem do socialismo democrático tão amado de Soares. Na verdade forças trotzkistas como o BE, apesar de toda a retórica, não são forças democráticas, nem tão pouco respeitadoras de princípios simples como o direito à propriedade privada. Estas crescem, mas este não é um sinal de esperança, é sim um sinal de grande preocupação.
Analisando os resultados eleitorais do PS nas europeias MS afirma o seguinte:

A meu ver, o mais importante - e urgente - é recuperar os votos perdidos na abstenção, em votos brancos e nulos e nos que fugiram, dispersos, para outros partidos, por estarem descontentes com a crise global, importada, e talvez, também, pela maneira como o PS tem lutado contra a crise.

Acho particularmente interessante a última parte "
pela maneira como o PS tem lutado contra a crise". Que mal pergunte que forma tem sido essa? Efectivamente, espremendo tudo o que o governo socialista tem apresentado em termos de programas para acabar com a crise os efeitos têm sido zero, nada, pelo que se começa a tornar gritante a absoluta incapacidade do PS apresentar ideias e alternativas que realmente possam fazer a diferença no combate à crise. Soares vê que da abstenção, aos nulos e brancos e aos votos no BE e CDU, existem votos perdidos do PS. Provavelmente tem razão, a questão é se, com medidas inúteis e em plena campanha eleitoral, conseguirá o governo tirar algum coelho da cartola que leve essas pessoas a recuar no seu sentido de voto.
Outra pérola de Soares:

Compreender os sinais que o eleitorado soberano quis dar aos partidos, porque está descontente com todos - embora com o PS, em especial, por ser Governo e, em primeiro lugar, com o primeiro-ministro, José Sócrates, que a comunicação social e os outros partidos, sem excepção, converteram, sistematicamente, no "bode expiatório" de todas as dificuldades e males que nos afectam.

Gostaria de destacar esta parte "
descontente (...) com o primeiro-ministro, José Sócrates, que a comunicação social e os outros partidos, sem excepção, converteram, sistematicamente, no 'bode expiatório' ". MS entra na auto-comiseração de Sócrates e alimenta o Calimero-Sócrates, fazendo-o passear-se mais um pouco por aí, como se apenas com o actual Primeiro-Ministro a comunicação social e outros partidos pedissem contas ao governo das suas decisões. É inédito isto? Claro que é, para o seu próprio umbigo.
Continuando o seu texto, o ex-Presidente entra por uma incursão estranha, num mundo ainda mais estranho, onde ele encontra ainda uma capacidade ao PS de Sócrates a capacidade de enfrentar a crise, como se não estivesse no governo e ainda tivesse de ser alternativa. Veja-se:

E explicar, por forma muito clara e sintética, quais as soluções alternativas que apresenta para "vencer a crise" e como pode ajudar, efectivamente, os portugueses, sobretudo os mais pobres e desfavorecidos - os trabalhadores, os desempregados, os pobres, os idosos, os jovens, privados do primeiro emprego, os imigrantes, os pequenos e médios comerciantes falidos, as classes médias em vias de pauperização - mas também as classes profissionais, enfermeiros e médicos, professores, magistrados em começo de carreira, polícias, baixas patentes nas forças armadas, funcionários, etc. E como ajudá-los em concreto - e por forma isenta - quer o Governo quer o partido que o apoia a serem menos afectados pela crise global, que está longe de terminar. Para isso é preciso uma estratégia com uma linha de rumo clara e novas ideias.

Vemos por este trecho que MS não consegue perceber que, principalmente em relação às classes profissionais, o governo tem hostilizado as mesmas. Esses mesmos pequenos e médios comerciantes, enfermeiros e médicos, professores, magistrados,têm sido tratados como bandidos exploradores e cheios de regalias indecentes. Se em certos níveis se impunha um acerto claro no funcionalismo público, a hostilização, realizada através de uma depreciação intensa da imagem dessas classes para depois as enfrentar e lhes reduzir direitos, parece-me uma atitude no mínimo de falta de carácter. É necessário pois que MS olhe de frente para a realidade e perceba que a ingovernabilidade do país com que este acena, como perigo eminente, decorrente dos resultados das europeias, foi provocada pela forte incapacidade do governo em dialogar, quer com as classes, quer sobretudo com os cidadãos, explicando, não denegrindo, a razão das adaptações que se pretendem fazer. PS e Sócrates tornaram este país num lugar ainda mais deprimido, o que o discurso da ilusão optimista do governo não consegue contrariar.

Onde quer Soares chegar com estas palavras:

Por outro lado, importa ouvir e dialogar - o mais tardar até meados de Julho - com os sindicatos, as comissões de trabalhadores, as associações ambientais, de direitos humanos, de consumidores, etc.

Para depois dizer:

Não se trata de estabelecer acordos, mas tão-só de os ouvir - para perceber - e de confrontar soluções, alternativas e políticas possíveis.

Veja-se bem que não se trata de ouvir para mudar, para tirar conclusões, trata-se de ouvir para ficar tudo na mesmo, ou seja, ouvir não ouvindo. Continua depois com este namoro indecoroso:

No mesmo sentido, acharia também útil que se ouvissem os partidos de esquerda - o Bloco de Esquerda e a CDU - não para fazer acordos, antes ou pós-eleitorais, não é tempo disso, mas para compreender como vêem o futuro próximo, que é bem possível, se houvesse uma nova derrota do PS, ficasse bem mais negro do que está.

Como se ainda houvesse esperança na esquerda e em especial no PS, ao contrário daquilo que é a sensibilidade da generalidade dos cidadãos por essa Europa fora MS diz:

Pelo contrário, um acordo do PSD com o CDS/PP será possível, ainda que não creio que possa ser maioritário. E se fosse seria mais do mesmo...

Por fim vem o papão, vem o susto, o medo, aquilo que for, acenando com o monstro da ingovernabilidade, não percebendo que esta já está instalada e que a alteração, não a alternância, porque nisso já não acredito, mas sim a alternativa, a aposta em movimentos novos, com gente nova, com ideias novas, políticas novas torna-se por isso no mínimo irritante esta amedrontamento que MS pretende apresentar.

a probabilidade de, nas próximas eleições legislativas, Portugal se poder tornar ingovernável é alta e perigosa, para a democracia e para o nosso futuro colectivo. É nisso que o nosso eleitorado, que sempre deu mostras de ser sensato, deve agora reflectir.

Esperemos que a sensatez dos eleitores se demonstre, não tanto apenas por castigar o PS, mas por valorizar novas propostas e ideias. Lembro-me sempre da lufada de ar fresco democrático que foi o PRD de Eanes, que de repente passou de zero a cerca de 20 deputados, de uma forma verdadeiramente entusiasmante. Esperemos que se comece a criar em Portugal uma alternativa de novos partidos e movimentos que venham substituir efectivamente os velhos partidos. Já tiveram o seu tempo. Chega, venham novos partidos com novas ideias.