Os marcianos tomaram conta do Parlamento
Lembram-se daquela série de televisão chamada V - A Batalha Final? Havia nela alguma coisa de premonitório. Sob a aparência de humanos escondiam--se extraterrestres que queriam tomar conta da Terra. À primeira vista nada os distinguia de uma pessoa normal, mas quando a pele se rasgava surgia um réptil carnívoro, que se dedicava a praticar maldades. Pois bem: receio que tenhamos assistido a um remake desta série dos anos 80 em plena Assembleia da República, durante a aprovação da lei do financiamento partidário. Tenho cá para mim que a conspiração alienígena se infiltrou no Parlamento e os deputados que andaram a levantar os braços em Abril eram, na verdade, marcianos.
As provas são claras. Como qualquer pessoa com o olho treinado para o reconhecimento de extraterrestres malévolos facilmente percebe, os homens e as mulheres que aprovaram a lei em tempo recorde há menos de dois meses - carimbando assim uma lei que multiplicava por 55 a entrada de dinheiro vivo nas contas dos partidos - não são manifestamente os mesmos que há poucos dias aceitaram, com um alívio visível, o veto da mesma lei por parte do Presidente da República. Com a excepção de António José Seguro - um corajoso resistente à investida dos lagartos, à semelhança do jornalista Michael Donovan na série origi-nal -, todos os outros representantes da nação ou estavam a vestir de verde por baixo da epiderme ou terão sido, de alguma forma, sujeitos àquele processo de controlo da mente conhecido como "conversão", que transformava os humanos em meros peões dos Visitantes.
Reparem. Os deputados de Abril fecharam-se em esconsos gabinetes, de onde saíram para uma votação-relâmpago, e ainda assim falaram de um processo envolto em grande "transparência". Felizmente, a conspiração falhou, porque os deputados de Junho já vieram aplaudir a decisão de Cavaco Silva, atirando o financiamento das naves espaciais - perdão, dos partidos - para as calendas. O PS disse agora encarar "com naturalidade" o veto do Presidente. O CDS disse que "não há condições" para insistir na aprovação. O Bloco disse que Cavaco colocou "um ponto final" no processo nesta legislatura, que é uma boa frase para encerrar o episódio. O PCP, é certo, foi o que se mostrou mais contrariado, discordando do veto - mas há muito tempo que se desconfia que o partido não vive na Terra. Já as declarações do PSD, através de Paulo Rangel, deixaram--me mais preocupado. Disse ele que o PSD aceitou a lei mas que "nunca foi a favor" dela, "pelo contrário, até foi contra". Hummm… É uma daquelas cambalhotas tão desastradas que, pelo sim pelo não, eu mandava-lhe fazer umas análises ao sangue. Nunca se sabe quem pode ter ganho as europeias.
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