Temos sido atingidos nas últimas semanas com manifestos, todos eles de alegadas sumidades da economia, uns contra os grandes investimentos públicos, outro a favor dos mesmos, estando prometido para breve um outro, vamos a ver se ficará por aqui. Estes manifestos, mascarados de uma ciência exacta, a economia, mas que são efectivamente meros exercícios políticos.
Ontem no Público, na sua crónica de última página, Rui Tavares, o historiador recentemente eleito pelo Bloco de Esquerda para o Parlamento Europeu, assumiu as dores deste último manifesto, favorável aos investimentos com um argumento sinceramente fraco, ou mesmo demagógico. Comparando os economistas com os médicos, Rui Tavares assumia que só os médicos que acertassem no diagnóstico seriam competentes para apontar uma cura. Sendo assim, uma vez que, segundo o historiador, apenas os economistas deste segundo manifesto tinham previsto a chegada da actual crise, pelo que só estes seriam credíveis para indicar uma saída para a mesma.
Ora pegando no próprio exemplo de Rui Tavares se consegue desmontar esse mesmo argumento: quantas vezes um médico de clínica geral, ou mesmo estagiário faz um diagnóstico que um especialista, ou um médico mais experiente tinha errado, sendo depois por esse mesmo médico encaminhado para o tal especialista afim de obter a melhor terapêutica possível??!! Isto é comum e depende de muitas condicionantes. Na economia, que está imensamente limitada pelo exercício político dos economistas, como na medicina, as perspectivas limitam ou ampliam a forma como se consegue efectuar uma análise e retirar as conclusões mais acertadas. Mas um médico experiente e especialista é sempre uma voz credível, capaz de indicar uma terapia adequada. Pelo que é fácil concluir que mesmo os economistas que não previram a chegada da crise, não perdem nenhuma competência ou qualidade para apontarem uma saída eficaz para a corrente crise.
Assim só podemos pensar que a diversidade de opiniões se deve a condicionantes ou adesões políticas.
Sendo assim acho que a minha opinião perante esses investimentos só pode ser condicionada pelo seguinte: Portugal passou no último ano para uma nível de endividamento externo superior a 100% do PIB, logo Portugal não produz o suficiente para pagar o que deve; logo como será possível aumentar ainda mais o endividamento - possível é, mas será aconselhável? - sem corrermos o risco de um grande desastre para o país?; para mim a opção contra é clara.
Mas não vejo tudo preto ou branco.
Há mais vida além destes investimentos. Portugal com o dinheiro do TGV, ou provavelmente com bem menos, pode modernizar a sua rede ferroviária, reforçar por exemplo a linha do Norte para que o Alfa pendular possa ser mais eficiente, e, reforçar as ligações ferroviárias de Portugal a Espanha, tudo o que se dizia só ser possível com o TGV. Além disso reforça-se a coesão nacional e estimula-se o crescimento das regiões do interior, coisa que não ia acontecer com o TGV que só ia passar, sem qualquer vantagem para essas zonas do país, que com esse reforço das ferrovias iam ganhar mais um meio para transportar pessoas e mercadorias.
Quanto ao Aeroporto de Alcochete já não se vislumbra a necessidade tão urgente do mesmo, uma vez que a saturação prevista para a Portela, dentro de poucos anos, com a actual crise, atrasou-se cerca de dez anos, pelo que não necessitamos de tanta urgência. Podemos aguardar uma estabilização da crise, ou até uma ligeira recuperação, para depois o país avançar para a construção destas infraestruturas, que sendo importantes, dado o cenário actual, deixam de ser tão urgentes como isso.
Em relação ao plano rodoviário não se pode embrulhar tudo e deitar fora, temos de desmontar esse plano, ver o que faz falta e o que é superfulo e o que é megalómano. O que é útil avance, o que não o é pode esperar, o que é megalómano, como a terceira auto-estrada Lisboa-Porto.
Assim se desmonta o monstro dos investimentos, na minha opinião claro.
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