quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Cristianismo em Crise - crítica ao presente cristianismo evangélico

O meu Caro amigo Manuel Adriano Rodrigues, no seu blogue Sip of Glory publicou o texto que abaixo se reproduz, que chegou ao meu conhecimento via Facebook.
Achei muito interessante, sobretudo porque, durante os meus tempos de activa militância cristã, foi uma das minhas batalhas: a luta contra esta mentira, deste novo evangelho, que mistura misticismos orientais, entre outras influências, com o cristianismo, criando esta nova mensagem que agora é muito apregoada (nunca posso dizer pregada) nas igrejas evangélicas deste país. Esta foi aliás, juntamente com algumas outras, uma das razões que me levaram a afastar dos movimentos organizados cristãos existentes, porque, por exaustão da luta, a esta já não estava disposto, não me sentindo mais capaz de continuar a desmontar esta mentira em cada local onde chegava, o que aliás sempre me trazia dissabores. Daí agora estar afastado de todos, e, por isso oficialmente desviado.
Deixo para já estas considerações e o texto, mais logo acrescentarei, em edição posterior algumas mais considerações pessoais.

"Pink Gospel" - ou o "Cristianismo Cor de Rosa"

Que vivemos numa civilização em constante mudança já todos sabemos. Que a Igreja tanto na sua manifestação universal como na sua componente local foi "apanhada" por esta mutação generalizada parece-nos óbvio. O "mundo" paulatinamente conquistou a Igreja e teve tempo demais para isso. Verdades outrora óbvias e fundamentais como novo nascimento, arrependimento, conversão, redenção, pecado, etc. deixaram de fazer parte das mensagens púlpitas domingueiras. O que está na ordem do dia são mensagens como "as avenidas da prosperidade", "os cinco passos para a felicidade", etc. A culpa será agora o problema e não o erro que a provoca. A antiga fé chama-se agora "pensamento positivo" ou "confissão positiva". As bênçãos divinas prometidas deixaram de ser dádivas da misericórdia de Deus obtidas pela fé no sacrifício expiatório de Cristo e tornaram-se alcançáveis pelo mérito próprio. "Aquilo que pensas no teu coração e confessas com a tua boca determina o que recebes de Deus". Sendo que "deus" é um mero conceito do tipo "deus ex machina". O importante agora não é ter intimidade com Deus através da oração mas saber como funciona para nos resolver as precupações e nos desenrascar das embrulhadas do dia-a-dia. E, (claro) se possível ainda ficar a ganhar alguma coisa com isso!
O "Pink Gospel" proclama Jesus esquecendo-se de Cristo. O velho altar foi substituído pelo palco. O grupo de louvor tomou definitivamente o lugar do cântico congregacional. Sentimos muitas vezes que não fazemos parte de nada. Já não temos irmãos na fé. As igrejas estão agora cheias de Doutores, Engenheiros, Arquitetos, Historiadores, etc. Se você não tiver estudos arrisca-se a ser rebaixado à categoria de irmão. A velha saudação "A Paz do Senhor" foi abolida e substituída por: "Oi, tudo bem?". Os super-crentes olham-nos de soslaio querendo expulsar-nos com o olhar para os bancos de trás da igreja (os lugares "mais baratos" como já ouvi diversas vezes dizer). Hoje é tudo uma questão psicológica. Freud e Wilhelm Reich devem finalmente estar felizes na tumba. Cada vez há mais padres-psicólogos ou pastores-psicólogos. Um dia destes teremos Augusto Cury (ou os seus sucedâneos) a pregar nas igrejas locais aos domingos de manhã. Mais um pouco e todos os líderes das igrejas evangélicas terão que ser formados não em Teologia mas em Psicologia Multifocal...
Nos dias de hoje vamos à Igreja como se fôssemos ao teatro, ao futebol, ao cinema, etc. Vamos por tribalismo e não por convicção. Vamos para ver e ser vistos e não para adorar ou aprender a Bíblia. O antigo "culto" foi substituido pela "celebração". O "entretenimento" tomou o lugar da velhinha e bafienta "religião". ("O mesmo vírus com novas mutações" como diria a minha querida amiga
Rute J.) Agora tudo é "light", tudo agora é "soft". "Mutatis mutandis" como já ouvi alguém dizer. "Se não podes com eles - junta-te a eles", foi o (sábio?) conselho que ouvi de um pastor responsável pela igreja local que frequentava no momento.
O "Pink Gospel" surgiu como uma tentativa de aligeirar a vida cristã. A moralidade é agora uma realidade dinâmica e mutável, portanto altamente volátil. O que é verdade hoje pode não o ser amanhã. Aceitar Jesus já não significa dar a vida pela sua Causa. Uma atitude militante tornou-se actualmente desnecessária. Já não somos chamados para trabalhar na Obra do Senhor mas para recolher os benefícios da mesma. Bênção, prazer, riqueza, felicidade, etc. conseguem-se agora através duma atitude mental correcta. (Tenho um vizinho que já leu "O Segredo" de Rhonda Byrne diversas vezes e por mais que tenha pensamentos positivos (disse-me) não consegue arranjar emprego. Ouvi à pouco tempo alguém responsável numa igreja dizer que afinal "O Segredo" diz o mesmo que a Bíblia diz. (Eu já li o tal livro e não vi nada disso). O hedonismo na sua melhor oferta. É por estas e por outras que temos actualmente igrejas frágeis e descaracterizadas. Já não somos a vanguarda da nossa civilização mas "comemos" o que o mundo nos dá. Já muitos perderam o espírito crítico e de análise textual cartesiana. Que é feito das antigas disciplinas de Homilética e Hermenêutica? Eu por mim não quero ser cristão "cor de rosa". E você?
Pink Gospel? Não Obrigado!
Antes de discorrer mais acerca deste assunto gostaria de deixar aqui um versículo bíblico: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Efésios 2:8). Muitos pregadores têm, por vezes o hábito de perguntarem às congregações "Irmãos a salvação vem pelas obras ou pela Fé?", após a leitura deste versículo. Esta pergunta revela o erro e a ignorância básica que permite que a heresia do Pink Gospel, como lhe chama o Manuel Adriano Rodrigues neste texto, esteja se instalando. O erro está em que a salvação não é alcançada nem pelas obras nem pela Fé. Como o versículo deixa bem claro a salvação vem pela Graça, pela Graça, não há nada que possamos fazer para a obter, é graça, favor que não merecemos da parte de Deus. A Fé não nos concede a salvação, a fé é o meio pelo qual Deus nos faz o favor de nos salvar, a salvação vem porque Deus faz o favor, não é porque a Fé obrigue Deus a salvar. É dom de Deus, ou seja é dádiva, é oferta. Aliás um outro versículo diz mesmo que os demónios também crêm em Deus e estremecem (Tiago 2:19), logo a Fé é só um meio, não é o factor que concede a salvação. Se entendermos isto, que de Deus nada podemos fazer para merecer nada, nada mesmo, entendemos que somos dependentes, logo não há pensamento positivo, Fé na Fé, properidade, dádivas compradas, curas conseguidas, etc., fica só a misericórdia e a pessoa de Deus.
Amigos, quem quer seguir a Deus tem de entender que ele é que é Senhor, o homem é ele que serve, Deus não pode ser obrigado nem condicionado por nada nem por ninguém. Ele é soberano.
Mas esta mentira, esta heresia, tem muitos nomes - uns chamam-lhe Evangelho da Prosperidade, outros Movimento da Fé, outros ainda Neopentecostalismo, e, agora aprendi este novo termo de Pink Gospel. Muitos evangélicos arrepiam-se quando ouvem falar da Igreja Maná, ou da IURD, porque a ênfase aí é o dinheiro, e eles não são evangélicos. A verdade é que essas igrejas propalam as mentiras do Movimento da Fé, que nasceram em congregações das Assembleias de Deus nos EUA e numa célebre igreja a Rhema, e que em denominações bem tradicionais do nosso país têm sido também defendidas. Não vou agora aqui mencionar nomes nem denominações, mas quem estiver de olhos abertos identificará facilmente.
Grandes nomes estiveram na origem desta mentira - os nomes mais sonantes são Kenneth Hagin, Benny Hinn, Kenneth Copelan, Morris Cerrulo, e, também Paul Yonggi Cho (quem se esquecerá do seu livro A Quarta Dimensão onde este ensinava a confessar o que não é como se já fosse).
Não haja ilusões, a Igreja Católica não assumiu a idolatria, as rezas, a confissão auricular, assim de repente, a mentira foi-se introduzindo aos poucos, lentamente. Também esta heresia do Movimento da Fé se tem infiltrado aos poucos. Isto é fruto da fraca formação doutrinária que os líderes das Igrejas têm, e em consequência os seus membros, o que se reflete em aceitação rápida de heresias. Pequenas coisas têm entrado, mas a consciência do erro não está presente, pois valoriza-se muito um evangelho "experimentalista", sem bases doutrinárias e bíblicas. Aqui jaz um dos maiores defeitos de muitos movimentos evangélicos, em especial das Assembleias de Deus, onde a diversidade de ministérios não é valorizada, sendo no entanto aberta a porta para todo o tipo de ensinos, não havendo coragem dos líderes para assumirem com frontalidade o corte com a mentira quando a vêm.
Enfim este assunto daria para continuar a escrever sem fim, dadas as avultadas polémicas que encerra, mas espero que pelo menos sirva de alerta para alguns crentes.
Já agora mais um alerta. Quando alguém utilizar o versículo de Hebreus 11:1 para definir Fé, não aceite, diga e confirme que o que define Fé é o capítulo 11 todo, não permita entender o versículo fora do seu contexto, obrigue-se a olhar para todo o texto e vai ver que a perspectiva muda, que a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem, mas daquelas que Deus define, como define e indica claramente, tal como o resto do capítulo explica. Ou seja quem determina o que se espera sem se ver é Deus à partida, não é o homem que diz e confessa o que não é como se já fosse. Fé é receber uma promessa directa e pessoal e ficar firme que a seu tempo Deus cumprirá, o que não implica nunca confessar que já se recebeu o prometido - até porque a isso se chama mentir. Atenção.

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