Falei já um pouco sobre isto quando da polémica acerca do casamento entre pessoas do mesmo sexo: afinal que sentido queremos dar para a evolução da nossa sociedade? Esta pergunta só faz sentido se se acreditar, tal como eu acredito, que a evolução ou o progresso de uma sociedade, não é uma inevitabilidade que acontece, e à qual temos de nos sujeitar, entrando num embalo que não podemos controlar. Acredito profundamente na nossa capacidade, mais ainda, no nosso dever de pensar a nossa sociedade hoje, recolhendo as lições da história e pensarmos o futuro. Não como donos deste, mas sim como planificadores do mesmo, sentindo que devemos manter uma flexibilidade essencial, atendendo à diversidade e à liberdade individual de cada um.
Assim foi com preocupação que encontrei este texto no i online, onde se afirma que na Universidade de Sevilha foi reconhecido o direito de se copiar num exame.
Um aluno apanhado a copiar não será repreendido, nem verá o seu teste anulado de imediato, o professor, apercebendo-se do copianço, no final adicionará uma notificação ao exame, sendo que posteriormente se constituirá uma comissão para avaliar se houve copianço ou não.
Claro que isto é uma coisa aparentemente pequena, mas se a isto somarmos outras pequenas coisinhas podemos legitimamente pensar: onde é que isto vai parar?
Algumas implicações desta medida são que, um professor pode acusar injustamente um aluno de copiar que este só se aperceberá quando tiver uma comissão em cima de si; outra implicação é que os alunos sentirão uma impunidade maior, pois até as coisas mais graves têm um direito de defesa e tudo, até o copianço, pode ser discutido.
Efectivamente estamos a viver numa época de relativismo, onde um antropocentrismo militante e obtuso tem tentado reduzir todas as coisas, não à medida do homem, mas à medida de cada homem, vendendo-nos o individualismo como fonte de felicidade, quando todos sabemos que essa é uma mentira que tem lançado muitos nas garras mortais da solidão.
Copiar num exame não é algo de socialmente muito grave, mas dizer que isso não é errado à partida, mas sim algo discutível, relativo, é que me parece perigoso, não pelo "volume" da situação, mas pelo princípio em si.
Todos precisamos de dogmas, verdades absolutas, certezas, portos seguros. Afinal a navegação da vida é uma actividade perigosa, pois a deriva ou o naufrágio estão sempre iminentes. Que amadurecimento, que noção de responsabilidade, que perspectiva da vida terá uma geração, como a dos meus filhos, a quem é ensinado que têm direito a tudo, reduzindo os deveres a meros incómodos ingratos, a quem os pais não podem dar uma palmada, a quem os professores não poderão anular um teste no qual copiaram?
Estamos a criar uma sociedade insustentável, onde a liberdade será um exercício impossível, pois a velha máxima de que a liberdade de um indivíduo termina onde começa a do próximo perderá todo o sentido, pois é ensinado que a liberdade própria tem um valor infinito e uma dimensão sem fim, não sendo assim passível de terminar para dar lugar à de outrem.
É uma boa questão. Na verdade dando à nossa liberdade individual um valor inegociável esquecemos que por vezes ela esbarra não só na do próximo mas sobretudo da colectividade. É por exemplo o caso da lixeira que sabemos ter de existir mas que queremos em todo o lado menos no nosso quintal. No caso dos exames para mim é fácil. Os exames devem ser todos feitos com consulta e sobre compromisso de honra. Quem copiar pelo vizinho num exame desse tipo é certamente apanhado. Se não perceber o que escreve bem pode consultar outros dados que não resolve a avaliação.
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