
Acontece que uma decisão tardia é sempre uma má decisão. E não foi por falta de consciência da gravidade da situação, mas por cálculo político e eleitoralista, que o Governo adiou as medidas drásticas que agora já se mostram ineficazes. Primeiro, Sócrates quis ganhar as eleições de 2009. Tomou iniciativas anticrise de que não se viram outros resultados além da vitória do PS e deixou derrapar para níveis incomportáveis o défice que ele próprio havia controlado. Depois, receando que as "coligações negativas" no Parlamento, conjugadas com a eleição do novo líder do PSD e a hipotética intervenção do Presidente da República, levassem ao derrube do Governo, preparou-se para ir de novo a votos. Por isso, adiou decisões impopulares que outros Estados em situação similar já estavam a tomar. Finalmente, apertado pelas organizações internacionais, encostou as oposições e o país à parede, com um plano demasiado tardio para produzir efeitos junto dos mercados, como se está a ver, mas anunciado no momento mais vantajoso para si próprio, isto é, quando o Governo ficou protegido pela disposição constitucional que impede o Presidente de dissolver o Parlamento.
Quando não coincidiram, as conveniências partidárias foram postas à frente das do país. Ora, com este historial, o Governo e o PS não têm autoridade moral para reclamar o que quer que seja de um PSD já escaldado pelo acordo frustre do PEC II. Menos ainda para irem sugerindo que a aparente hesitação de Passos Coelho quanto ao orçamento é responsável pela persistente desconfiança dos mercados. Pode contribuir alguma coisa, mas não tanto como contribuiu o primeiro-ministro ao ameaçar, em Nova Iorque, com a demissão do Governo.
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