Existe uma Palavra no léxico da blogosfera política nacional que tem tomado algum protagonismo. De tal forma que se colou quase que de forma adesiva ao blogger que habitualmente a usa. A insistência tem sido tal que quase já não se consegue falar em política portuguesa sem falar nessa palavra. Trata-se do situacionismo.
Mas afinal o que é o situacionismo: é a forma como a comunicação social, e a sociedade em geral até, proclama e aclama insistentemente as virtudes e as ideias de quem tem o poder, bem como de quem é amigo de quem tem o poder, e até de quem é amigo de quem é amigo de quem tem o poder, e por aí adiante.
Quem tem falado insistentemente em Situacionismo: o ilustre Dr. José Pacheco Pereira, no seu conhecido blog "Abrupto". De facto é uma leitura diária que não dispenso, sou um confesso admirador do dito Sr., porém gostaria de deixar algumas considerações diversas acerca do situacionismo.
O que tanto tem revoltado o Dr. Pacheco Pereira, é um situacionismo que parece insistentemente proteger a esfera do governo, quer por parte deste propriamente dito, quer por parte do partido que o sustenta. De facto, pela forma como o Dr. Pacheco Pereira apresenta as situações, podemos falar numa grave crise de respiração na política portuguesa.
Mas gostaria de sugerir um outro caminho, uma outra razão para a respiração assistida do situacionismo ser tão premente: porque há tão pouco ar respirável para outras ideias e outras pessoas na política portuguesa? Há excesso de mofo, esse é o problema. Existem muitas ideias iguais, muitas pessoas "iguais", muitos "modus operandus" iguais; o fazer, o propor, a ambição, é tão comum, tão igual, que não há ar novo, respirável, na nossa política, na nossa sociedade, daí a necessidade de assistência respiratória.
Tudo isto porque creio que o situacionismo vai mais além do que a esfera PS/Governo: tudo é mais abrangente. O situacionismo ataca tudo e todos e é, não um mal em si mesmo, mas mais um sintoma de um mal mais profundo da nossa sociedade, da nossa política. Creio que o problema é mais abrangente, é mesmo um problema de regime.
No pós 25 de Abril, com toda a liberdade conquistada, proclamou-se a democracia, porém ela foi substituída habilmente pelos políticos, que tantos há que nunca tiveram nenhuma outra actividade profissional sem ser políticos (exemplos disso são o nosso Primeiro-Ministro, o Dr. Almeida Santos, o Dr. Santana Lopes - neste caso exceptua-se o tempo em que foi presidente do Sporting -, o Dr. Manuel Alegre, entre muito outros), por um outro regime, não declarado, nunca legislado, nem tão pouco assumido: a partidocracia.
Portanto creio que as dificuldades respiratórias da nossa política e da nossa sociedade se devem não ao situacionismo mas sim à Partidocracia: a ditadura, ou melhor, o regime de governo dos, pelos e para os partidos.
Regime dos partidos: foram eles os autores do regime - os lugares eleitos são seus, não dos eleitos, e só eles são os legítimos representantes do povo!!!???
Regime pelos partidos: não é possível haver projectos governativos sem ser dentro do grupo de partidos que entre si partilham o poder, ou seja os dois maiores e os seus satélites, todos mais ou menos cúmplices, que abafam completamente qualquer ponto de luz que tente quebrar esse breu.
Regime para os partidos: estes governam e governam-se, quer através dos milhões que recebem do orçamento de estado para se sustentarem e financiarem, como pela forma como os cargos políticos e públicos são distribuídos pelos amigos políticos - quando estes últimos deveriam de ser lugares de carreira, de quem faz carreira, nunca de quem é amigo, estando o estado e os partidos de tal forma intrincados que se confundem.
A Partidocracia está de tal forma enraizada que não conseguimos quase conceber outra forma, outro regime.
Acho que é tempo de haver uma separação clara entre os partidos e o estado, tal como o laicismo proclama para o estado e a religião.
Como? Simples, muito simples: todos os cargos da Administração Pública deixam de ser de nomeação política, são desempenhados por indivíduos com qualificações e com carreira feita, independentemente dos ventos partidários do poder: as esferas de nomeação política limitar-se-iam aos ministros e seus secretários de estado (claro que com os seus muitos e diversos assessores e afins).
Como? Simples, muito simples: todos os cargos eleitos pertencem a quem é eleito e não ao partido, sendo os deputados eleitos em círculos uninominais, bem como o primeiro-ministro, ministros e secretários de estado são eleitos através de listas apresentadas para irem a votos, tal como acontece na mais vulgar das associações deste país.
Como? Simples, muito simples: os partidos deixariam de receber qualquer verba do orçamento de estado para se financiarem, teriam de ser os seus militantes a financiarem o partido.
No entanto estas ideias são inconvenientes para a Partidocracia vigente, daí a forma como são abafadas. Sim porque existe quem as defenda: o partido Movimento Mérito e Sociedade (MMS), defende estas e muitas outras ideias, e aí, aí sim, o situacionismo não permite que este ar novo entre na nossa política e traga uma nova respiração à nossa sociedade tão necessitada.
Caro Sérgio Bernardino,
ResponderEliminartomei a liberdade de (re)publicar no blogue do MMS Bragança (mms-braganca.blogspot.com) este seu magnífico post.
Bem haja pela lucidez e donodo,
Sérgio Deusdado
correcção:
ResponderEliminardenodo e não "donodo".