Parece querer que se recomece em Portugal o debate acerca da Eutanásia.
No entanto creio que este é um tema que está a ser discutido sempre baseado em meias verdades e em equívocos de conceitos.
Em primeiro lugar importa definir o que é importante. Ou melhor, importa definir o que é mais importante: a vida humana ou a pessoa humana. A forma como definimos o que é importante, se é a pessoa ou a vida, pode alterar completamente a forma como encaramos e discutimos este problema.
A Igreja Católica iria de imediato responder que o mais importante é a vida humana. No entanto esta posição é bastante frágil e revela uma Igreja que, assumindo-se ainda como uma religião da esfera do espiritual, se comporta cada vez mais como uma instituição humanista sem qualquer tipo de preocupação realmente espiritual. Afinal se é a vida humana que é importante é necessário preservá-la a todo o custo, o que a acontecer poderia levar a situações de prolongamento médico artificial de vidas que não têm qualquer nexo de existir. Pelo que, acreditando, alegadamente pelo menos, que a pessoa humana não se extingue com a morte, o facto de quererem adiar esta realidade parece temer a perca da pessoa com esta. Resta então a indagação inversa, ou seja se com isso se deve procurar a morte como uma buscar espiritual. Não é isso que digo, o que digo é que numa posição em que a vida é o valor mais absoluto se perde o sentido da imortalidade da alma humana, que acho a Igreja Católica ainda defende.
Saindo da posição católica, acho que aqueles que valorizam a vida e com esse argumento crêem que a eutanásia não é defensável estão errados, pois se a vida humana vale tanto então é porque a pessoa humana tem menos valor.
Sou cristão evangélico, por isso defendo a vida humana, sou contra a eutanásia, porém creio profundamente que a pessoa humana é muito mais do que a sua vida meramente física.
Creio que uma pessoa é muito mais do que o seu corpo, por isso vale muito mais do que a sua vida.
Como tal, sendo frontalmente contra a eutanásia, por motivos que exporei adiante, sou ainda mais contra a distanásia, que é o prolongamento artificial, por meios médicos e mecânicos, da vida humana, quando o corpo por si só não tem capacidade de se manter vivo.
Essa prática sim acho degradante da vida e sobretudo da pessoa humana.
O problema maior do equívoco de que falo mais adiante é de que se fala tantas vezes em casos de eutanásia que não o são: quando se quer desligar uma máquina a uma pessoa incapaz de respirar sozinha, ou se mantém um ser humano num estado vegetativo por tempo indefinido, isso não é eutanásia, no entanto é apresentado, até pelos média, como se fosse. Mas não é. Isto é distanásia e isto sim deveria ser proibido.
Eutanásia é outra coisa: eutanásia nem sequer é suicídio assistido, eutanásia é outra pessoa induzir outra à morte, a pedido da que falece, por esta não conseguir ou não querer manter a sua vida, seja por razões de doença física, ou até psíquica.
Aqui sim sou radicalmente contra.
A resposta para as pessoas em estado terminal de várias doenças são os cuidados paliativos: dar valor e dignidade às pessoas - à pessoa humana, mais do que apenas à vida humana - através de cuidados médicos e psicológicos que levem a que a pessoa tenha qualidade de vida até ao fim dos seus dias.
Como podemos apresentar a eutanásia como alternativa, se não damos a outra face, a outra possibilidade. Se Portugal tivesse um sistema de cuidados paliativos a funcionar, em vez de apenas 17 camas a nível nacional, destinadas a este fim, e ainda assim houvesse quem pedisse para morrer, aí sim, aí talvez fizesse sentido discutir a eutanásia.
Em discussões com amigos surge muitas vezes a questão de pessoas com paralisia total que, devido à sua qualidade de vida, desejam a morte e com isso dão razão a quem defende a eutanásia, pois o estado não pode obrigar essas pessoas a viver, elas devem ter o direito de morrer.
Aqui levantam-se dois problemas: o primeiro é que ainda que estas tenham o direito de morrer, quem tem o direito de as matar?; o segundo é será que essas pessoas não querem morrer porque estão doentes, não fisicamente, mas mentalmente e socialmente?
Não sei como responder sem dúvidas ao primeiro dos problemas, pois não consigo perceber se haverá alguém que tenha o direito de tirar essa vida, a dúvida permanece comigo, quanto ao segundo problema creio que a resposta é que existe de facto uma outra problemática de saúde envolvida nessas vidas, pelo que a solução não é matar mas sim tratar.
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