terça-feira, 7 de julho de 2009

A (in)dignidade dos políticos


Gosto de pensar em mim como uma pessoa interessada em política, aliás desde que me tornei militante do MMS, comecei mesmo a desenvolver actividade política com alguma intensidade, pelo que por vezes penso mesmo que sou um político. Em pequeníssima escala, a um nível muito inferior, mas político. Porém quando penso nisso sinto-me como se me estivesse a chamar a mim mesmo um palavrão feio, algo muito pouco próprio de se chamar a alguém. Ser político hoje em dia não é sinal de prestígio, de despego pessoal em prol da causa pública, é sim tomado com desconfiança, a pessoa é vista com estranheza, como estando à procura de um tacho e imediatamente se torna mal vista. Na verdade a política tornou-se numa actividade de gente pouco séria, ou pelo menos de gente que tem fama de ser pouco séria. Mas os políticos não podem culpar mais ninguém senão a eles próprios.
Recentemente durante o debate parlamentar mais importante do ano, aquele que serviria supostamente para analisar o país após mais um ano de exercício governativo, o debate do Estado da Nação, este ficou marcado pelo gesto inqualificável de um inqualificável ministro, que nesse mesmo dia foi demitido, ou, na versão oficial, demitiu-se. Acontece que a atitude do ministro foi o reflexo de todo um debate. Este debate foi tenso, encharcado de acusações viscosas e pouco construtivas, sobretudo de índole pessoal. É verdade que me irrita um pouco aqueles debates com lencinho branco e pó de talco, em que não se chama uma mentira a uma mentira, esta torna-se eufemisticamente numa inverdade, nem tão pouco suporto debates de ideias em que toda a gente educadamente desmente o outro para depois dizer exactamente o mesmo mas por outras palavras. Estes eram os debates que dominavam a política portuguesa até há alguns anos atrás. Eu gosto de debates garridos e aguerridos, onde se chamam os bois pelos nomes, mas gosto de debates onde se discutam assuntos, onde uma mentira é uma mentira, mas não um onde, sem grande base factual, os deputados se limitam a chamar mentirosos uns aos outros, carregadinhos de nervos, onde por isso debate de ideias, de propostas, escrutínio da governação, entre outras funções que o debate parlamentar tem, não existe. Os políticos têm com isso tornado a sua imagem cada vez mais degradada. Eu bem sei que o Primeiro-Ministro José Sócrates é um dos grandes responsáveis por este estado de coisas, quando durante quatro anos de debates quinzenais no parlamento nunca respondeu directamente a nenhuma pergunta que a oposição parlamentar lhe fez. Este exercício não é inédito, mas nunca a este ponto. Esta foi a legislatura em que mais vezes o Primeiro Ministro esteve no parlamento, mas também foi a legislatura onde o nível do debate parlamentar desceu mais e sobretudo a sua importância para o país. E este facto não é reflexo de nenhuma banalização devida à frequência do debate, tem sim a ver com o facto de o debate nunca o ser verdadeiramente, pois a perguntas não respondidas restam as respostas que cada um lhes quer dar, o que de democrático e relevante nada tem.
Continuando na senda da pouca dignidade do exercício da política temos a medida requentada que o PS foi buscar ao PSD, anunciando a proibição de duplas candidaturas às legislativas e às autárquicas. Torna-se evidente que o Partido Socialista não toma esta atitude por convicção, pois se assim fosse teria feito o anúncio antes das europeias, impossibilitando desde logo a dupla candidatura europeia-autárquica de Elisa Ferreira no Porto e de Ana Gomes em Sintra. O mau resultado nas primeiras eleições do ano certamente levou a esta atitude. Claro que certas vozes dentro do PS, como Manuel Alegre, imediatamente se levantaram a solicitar essa retroactividade nas candidaturas anunciadas, solicitando a ambas as senhoras que renunciem ou ao mandato de eurodeputadas ou às candidaturas autárquicas. Seria talvez um exercício de decência política, mas já viria tarde, pois apenas reforçaria sempre a ideia, que esta tardia medida por si só já deixa, de que no PS de Sócrates tudo se move apenas e só pela imagem, pela aparência e muito pouco ou nada mesmo pelo conteúdo, pelas convicções. O que revela apenas um grande apego ao poder e uma incessante e insaciável sede de perpetuação no poder pelo poder. Daqui a imagem geral dos políticos decai ainda mais, logo também a dignidade do exercício da política.
Continuando por aí a observar das indignidades políticas e dos políticos, hoje veio a público mais uma exibição desta despudorada manipulação governamental, mas desta vez evidenciando uma profunda falta de sentido de estado e logo num dos sectores nevrálgicos do desenvolvimento do país: a Educação - os resultados dos exames nacionais do 12º ano. O ministério não assume qualquer culpa, não faz qualquer auto-crítica, culpando sim a comunicação social de divulgar um facilitismo nos exames, no qual os alunos acreditaram, logo não se esforçaram tanto na preparação para o exame. Onde estamos a chegar. O ponto de baixeza no exercício da política em Portugal é tal que um ministério da educação se acha no direito de, melhorando os resultados recolher os louros para si, piorando lança as culpas nos outros. É preocupante. Entende-se assim cada vez mais o desencanto, a decepção e o desinteresse dos portugueses pela política: isto é baixeza de carácter.
Mas muitos mais exemplos de indignidade na política portuguesa existem. O pior, como este exemplo que se segue, o da Fundação para as Comunicações Móveis, onde é mesmo o desleixo, ou melhor a desconsideração, com que se tratam os dinheiros públicos, envolvendo negócios pouco claros, situações dúbias, zonas cinzentas, enfim tudo aquilo que a política não deve ter.
É um diagnóstico negro este que faço sobre a dignidade da política e dos políticos, sobre a dignidade ou não de se chamar alguém de político.
Mas infelizmente a política está reduzida a isto, a grupos pouco claros que entre si lutam, não pelo interesse nacional, mas pelo seu próprio interesse. Os partidos políticos não procuram o desenvolvimento do país, nem tão pouco a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, apenas procuram a melhor forma de se perpetuarem no poder, ou, como no caso dos mais pequenos, de se poderem continuar a alimentar à mesa do orçamento de estado. É isto a política em Portugal.
Mas tem de haver esperança, pelo que devemos, pelo que absolutamente necessitamos de mudar Portugal. Mas não uso aqui a palavra mudar num sentido cosmético, para mascarar um mofo e uma falta de ideias latente, que uma palavra bonita e apelativa anseia-se que disfarce. Utilizo a palavra mudar como um verbo, um verbo de acção, de acção concreta e corajosa, propondo ideias que, novas ou não, se propõe com acuidade e com desejo e intento concreto de aplicar, de efectivar, de concretizar, rompendo assim com a prática imóvel e ignóbil dos partidos tradicionais, que têm o seu assento no parlamento.
Mudar Portugal.
Este é um verdadeiro desígnio, e é verdade que a revolução inteligente proposta pelo Movimento Mérito e Sociedade é de difícil implementação, até porque implica uma profunda mudança de mentalidades, que é a mudança mais difícil e demorada de fazer. Mas acredito que com a catadupa de exemplos da degradação da condição, da prática da política, esta urgência de mudança seja sentida por cada vez mais pessoas, servindo de catalisador desta imperiosa mudança de mentalidades, reduzindo assim em muito o tempo expectável para a concretização dessa mesma revolução.

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