quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Lavar os pés


Peço já desculpa aos que perante o título possam pensar que este é um artigo de higiene pessoal, ou até de humor: a realidade é outra. Peço também desculpa aos leitores que visitam este blogue em busca dos habituais textos sobre sociedade e política. Este é um pouco habitual texto de índole pessoal, reflexivo e de conteúdo espiritual.


Tenho pensado muito, entre ontem e hoje, naquela passagem bíblica onde Jesus se cingiu de uma toalha e se dobrou diante de cada discípulo lavando os seus pés, limpando deles a sujidade terrena, que do andar do dia a dia, se acumula nos pés, não descalços mas calçados de umas débeis alparcas, que facilmente permitem a entrada do fino pó, que aliado a um suor natural, deve deixar uma marca profunda de sujidade nos pés de cada um dos discípulos.

Este pensamento tem-me assaltado consecutivamente desde que ontem tive uma zanga com uma pessoa que é voluntária na IPSS evangélica onde os meus filhos estão na cresce e pré. Esta zanga, com a respectiva altercação sonora motivou a intervenção do director do colégio, que muito zangado comigo, especialmente por ser um "crente" a levantar problemas ali. Claro que ele estava zangado comigo por outras razões em acumulado com esta: é que numa reunião do início do ano lectivo eu questionei a opção da instituição em continuar a encerrar durante todo o mês de Agosto, em frente aos outros pais e descrentes. Pior, nessa reunião afirmei que a instituição estava parada no tempo, pois não entendia que 23 anos depois da sua abertura as realidades sociais e laborais haviam mudado e não havia mais ninguém que conseguisse ter férias todo o mês de Agosto. O director levou isto a mal, ficou ofendido e magoado, mas nunca me disse nada, embora eu tivesse percebido o seu distanciamento em relação à minha pessoa. Sim reconheci que fui injusto, até porque a instituição é excelente e funciona perfeitamente à parte desse senão, e, sempre tive um fácil acesso ao director, que sempre me recebeu, e pior, pior para o meu lado, os favores que lhe pedi, só não os satisfez mesmo quando não pode (bem acho que ele satisfez todos, pelo menos não me lembro de nenhum favor pedido que ele não tenha dado a volta). Pedi perdão, sim pedi um sincero perdão, ao director por nessa ocasião ter sido injusto e sobretudo por não ter dito, se queria dizer, esse comentário em privado, onde não teria o mesmo impacto.

Durante a conversa que tivemos o director do colégio, um pastor baptista, contou-me uma história: Certo rapaz muito iracundo, que perdia muitas vezes e com facilidade o controle, foi certa vez desafiado pelo pai a pregar um prego numa tábua de cada vez que se descontrolasse; Assim o rapaz fez e facilmente conseguiu preencher a dita tábua de pregos; Ele foi ter com o Pai e mostrou a tábua já cheia de pregos, recebendo do Pai então outro desafio; Foi desafiado para que, de cada vez que conseguisse controlar-se e não perder a calma fosse à tábua e arrancasse um prego; Desta vez já demorou um pouco mais, mas com algum esforço lá conseguiu arrancar todos os pregos; Foi depois mostrar ao seu Pai a tábua já sem pregos; O Pai disse-lhe "Vê a tábua, conseguiste retirar todos os pregos, mas as marcas essas nunca conseguirás apagar".

É verdade a mágoa produzida por uma palavra mal dita, por uma acção menos pensada, por muito perdão que se lance pode nunca mais ser apagada.

Mas isto transporta-me de novo para Jesus a lavar os pés aos seus discípulos: o único puro limpava os impuros, para isso dobrou-se, humilhou-se e sujeitou-se às sujidades corporais dos outros.

Daqui viajo para um culto, no centro Desafio Jovem em Salvaterra de Magos, onde o director da altura, o Toni Barbosa, desafio os cooperadores do Café Convívio a que pertenci - estávamos lá num pequeno retiro de um dia - para lavarmos os pés uns dos outros, não dialéticamente, ou simbolicamente, mas sim fisicamente, com água e sabão. Nunca esquecerei esse dia. O meu amado e saudoso irmão Manuel, que já não está entre nós, foi - e esta é uma expressão que me agrada particularmente - promovido à glória; Sim ele passou dificuldades depois que saiu do centro, tanto que a doença que tinha o venceu, pela debilidade das defesas que lhe causou, mas acredito que partiu salvo; como dizia, o Manuel veio com a bacia e descalçou os meus sapatos e lavou os meus pés. Foi um acto de amor, com humildade recebi esse gesto, mas nunca mais vou esquecer o que sentimos. Sim irmão eu amei cada minuto desse dia, ao ver cada um lavando os pés aos outros. Que saudades. É fantástico ver como fazer algo tão simples como dobrar os joelhos e lavar a sujidade dos pés de outro pode fazer de toda a diferença em nós. E descobri nesse dia, uma coisa que me esqueci durante muito tempo e que aquele incidente de ontem me fez relembrar: descobri nesse dia a olhar para os outros como superiores a mim mesmo, como gente de valor e que por isso, ao lavar os pés, qualquer mágoa e ofensa é certamente lavada.

3 comentários:

  1. Caro Diogo
    Claro que fui ver o vídeo que indicou sobre Jesus. Mas ao contrário do que possa pensar de mim, não sou exactamente um ignorante acerca destas matérias, e, para qualquer pessoa minimamente informada aquele vídeo é facilmente desmentível.
    Todo o vídeo parte de um princípio, que ao ser desmontado, destrói assim todo o restante racíocinio que a seguir se desenvolve: embora se comemore o Natal - o nascimento de Cristo - a 25 de Dezembro, este não aconteceu de facto a 25 de Dezembro; pensa-se mesmo, que não sendo conhecida a data certa, este terá ocorrido por alturas da Primavera, Verão, porque, de entre outros factores, era a altura em que os pastores de noite apascentavam rebanhos, coisa que no Inverno era impossível. Desmontado isto, tudo o resto cai, mas ainda lhe posso deixar mais alguns factos que desmentem o vídeo.
    Acerca do facto de os três Reis que estudavam as estrelas serem estrelas eles mesmos, a forma mais elementar e historicamente comprovável de que se tratavam de pessoas reais, foi que o rei dos judeus da altura mandou assassinar todas as crianças do sexo masculino com menos de uma certa idade. Isto aconteceu após a visita dos Reis, pois os judeus daqueles tempos, por imposição do Antigo Testamento, não estudavam as estrelas.
    Quanto à crucificação este é um facto histórico relativamente comprovável, embora se possam sempre questionar as fontes. Mas creio que a evidência maior dessa realidade foi que, perante tais factos, e ainda sob ameaça de exclusão social e morte, os judeus continuaram a converter-se e a espalhar a nova fé, com base nesse facto, que, se não fosse conhecido entre todos, teria caído no descrédito e nunca tomaria as proporções mundiais que tomou.
    Outra mentira, ou erro que o vídeo propala é de que Jesus, tal como os outros chamados "messias solares" teria ascendido aos céus logo após ter ressuscitado. Isto é falso: o texto bíblico deixa bem claro que Jesus andou na terra ainda por alguns dias, foi visto por muita gente, operou mais milagres e quando ascendeu foi em público, não numa qualquer forma secreta só para iluminados.
    A única grande verdade que afirma é quando diz que a cruz não é um símbolo do cristianismo: não o é de facto, foi introduzido no cristianismo por influência pagã, porque o símbolo original e histórico do cristianismo é um pequeno e rudimentar peixe, que n tem qualquer influência astrológica, ao contrário do que algumas escolas de new age querem ensinar, mas era sim uma alusão àqueles que tinha assistido aos milagres de multiplicação de peixes, entre outros, como da rede e pesca, etc. de Jesus.
    Como vê os factos que uns querem apresentar como tão verdadeiros são apenas uma outra forma de Fé, de transviada fá.

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  2. Agora já é um bocado tarde. Amanhã dou-lhe uma resposta.

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