terça-feira, 12 de maio de 2009

A invenção da tolerância por Vital Moreira

O cabeça de lista do PS ao Parlamento Europeu, Vital Moreira, escreveu hoje no Público um interessantíssimo texto sobre o clima de medo que Manuela Ferreira Leite pretende criar, com as suas recentes declarações. Vital Moreira em mais uma incursão pelo seu mundo de fantasia, vê aquilo que ninguém vêm, dados os óculos apenas graduados para filtrar tudo o que a socialistas não interessa.
O candidato do PS escreve que MFL afirmou que neste momento em Portugal vivia-se um "intolerável clima de medo entre autoridades públicas e os cidadãos" e que "antigamente, receava-se ser preso caso se discordasse do poder instituído; hoje tem-se medo de perder o negócio ou o emprego; hoje tem-se medo de retaliação, tem-se medo de falar com desconhecidos, tem-se medo de ser escutado ao telemóvel". Afirmando que tudo isto se deve a desvario político, pensei que motivo, ou que desvario político moveu o PGR Pinto Monteiro quando este se queixou que suspeitava de estar sob escuta, quando se queixava dos barulhos esquisitos, ou quando a Procuradora Adjunta Cândida Almeida disse que de assuntos mais delicados não falava ao telemóvel, que desvario seria o destas e de outras personalidades. Bem, até com receio estou eu de dizer o que vou dizer, com medo de processos e retaliações, mas afinal não sentimos todos este excesso de intrusão das entidades governativas? Creio que sim. Não há provas, mas todos o sentimos. Vital Moreira até remata com o facto de não estarmos na Madeira, onde aí sim, ninguém tem liberdade. Mas afinal defendendo o Primeiro Ministro e o governo, como estando a ser vítimas de afirmações caluniosas e de alarmismo por parte de MFL, o que dizer das afirmações, que há décadas, se fazem sobre a Madeira - quem se pode esquecer da famosa afirmação sobre o "défice democrático", entre muitas outras, da perseguição dos media do continente, etc. Não é de facto um bom exemplo, ou poderá dizer-se que Vital Moreira quer comparar-se com os piores, algo do género "enquanto não estivermos assim estamos bem". Este raciocínio é perigoso, porque há sempre piores com que se possa comparar. Mais uma vez VM disse antes de pensar.
VM afirma o seguinte: "Nunca houve tanta licença para criticar o poder e inclusivamente, injuriar e difamar os governantes. A imprensa nunca foi tão despejada na tarefa de demolição do governo, em geral, e do primeiro ministro em especial." Não sei onde é que foi buscar estas ideias. Licença não há, o que há é uma perseguição e controle, é conhecido e público que o PM chega a fazer telefonemas para as redacções, é público e conhecido que o governo e o PS têm uma oleadíssima máquina de controlo do que se passa na imprensa. Alguém pode duvidar disto? Claro que não, porque não o vê VM? Então e os processos, então e os outros governos não foram perseguidos: lembro-me do Expresso ao governo de Pinto Balsemão, lembro-me do que o Independente fez com o governo de Cavaco Silva, lembro-me do que a Sic fez com o governo de Guterres e a liderança de Ferro Rodrigues, lembro-me do que, quer a Sic, quer a Tvi, entre outros, fizeram com os governos de Barroso e Santana, e, apesar de tudo, tirando com Barroso, nunca ouve suspeições sobre os primeiros ministros, e, com Barroso tudo foi muito bem explicado. Este escrutínio não acontece só com este governo e com este primeiro ministro. Onde é que se pode ver diferença? Pode-se ver na clara tentativa de manipulação, bem como política de silenciamento e agressividade do governo e do PS em relação a esses elementos da Comunicação Social. É claro que isto provoca uma sensação de perseguição e de falta de liberdade. Mas VM nada vê, ou nada quer ver.
O pobre do governo socialista, segundo VM, devido às supostas "reformas" no sector público, tem sido mais atacado com "(...) manifestações, greves, abaixo-assinados, vigílias - e nem todas legais. Não faltaram 'esperas' ao primeiro ministro, vaias e insultos ao Governo e aos seus membros. Ora, no meio deste ambiente aquecido de excessos verbais e de protesto sem limites, não houve sequer menção de recurso à repressão policial, nem a sanções ou represálias para contrariar a contestação ou perseguir os seus protagonistas." Vital Moreira sofre de um facciosismo doentio, que lhe provoca uma falta de memória histórica, pois quem não recorda as inúmeras manifestações e greves no tempo de Cavaco, ou no tempo de Guterres, quem não se lembra da monumental vaia que Durão Barroso sofreu na inauguração do Estádio da Luz, quem não se recorda, por outro lado, das idas da polícia às escolas para saber quem eram os grevistas, quem é que, trabalhando no sector público - e conheço várias pessoas que trabalham em diferentes ministérios - que afirmam sentir um clima de medo e repressão, como nunca sentiram, em muitos anos de trabalho, desde que o actual governo tomou posse. Isto não tem nada a ver com reformas, tem sim a ver com um descontentamento - se justificado ou não não afecta a equação - que os trabalhadores públicos sentem, mas que sempre aconteceu contra os diversos governos. VM diz que não houve retaliação: como é possível negar os processos contra pessoas que se manifestaram e fizeram 'esperas' ao PM, que ainda esta semana forma julgados e ilibados. Mas em que mundo vive este senhor.
O corolário do raciocínio do cabeça de lista do PS é quando critica a política de verdade apregoada pelo PSD, afirmando que com esta história do "clima de medo", estão a mentir, a criar falsas sensações. Mas vejamos se em matéria de verdade o PS tem pedras a atirar ao PSD, e, sinceramente, não vou aqui desfiar promessas mentirosas, nem estudos aldrabões, creio que ficam muito quites entre ambos. Para cúmulo, neste texto de hoje, VM volta a uma mentira, por mim já denunciada, sobre as grandes obras públicas. Alguém por favor mande este homem parar com os disparates.
Mas p desfile de asneiras continua, faltando apenas acusar todas as instituições internacionais, tipo FMI. OCDE, Comissão Europeia, de estarem congeminadas para o PSD e fazerem piorar constantemente as suas previsões em relação a Portugal. Diz mesmo que o PSD rejubila com essas análises negativas. VM quer cavalgar de novo o cavalo do optimismo que, pelo menos a mim, me parece tão perigoso como o do negativismo, pelo que prefiro sempre, mas sempre, o do realismo.
Também me parece falta de sentido de oportunidade quando VM afirma que "Não existe sequer uma política, por mais incontestável que seja (como por exemplo a aposta nas energias renováveis) que o PSD não desvalorize ou não desvirtue.", logo na semana em que se soube do escândalo da perca de certificação da Energie. Além disso recordo-me perfeitamente de uma situação, e vou falar apenas de uma, em que invertidos os papéis a realidade foi a mesma. Por exemplo, quando o Governo de Barroso, sendo Bagão Féliz ministro do Trabalho, fez aprovar um novo Código do Trabalho, o PS votou contra, afirmou que era péssimo para os trabalhadores, que era de direita, no pior sentido da palavra, e, quando no governo, esse mesmo PS faz aprovar um novo código ainda mais liberal em matéria laboral. Mas agora já tudo é bom. Caro VM, tenha um pouco de pudor e não goze connosco. A realidade é que todos vós, PS e PSD, já para não juntar outras siglas à receita, são todos iguais.
Enfim mais um texto de VM à VM, os disparates do costume.

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