sábado, 9 de maio de 2009

Partidocracia sem vergonha e assumida; e nós que fazemos - assistimos e pagamos


"Eu vou ao Parlamento Europeu assinar o nome. Quero é vir para cá, para o Porto."

"Vou só dar o nome e volto."

"Sinceramente, eu quero vir para o Porto. Quero-vos pedir que me ajudem a conquistar a Câmara do Porto. O meu objectivo é sair de onde estou e trabalhar para a cidade."

Adivinhe, se conseguir, quem proferiu estas frases, quem teve este inédito e súbito ar de honestidade e sinceridade: se disse Elisa Ferreira, a candidata do PS ao Parlamento Europeu e à Câmara Municipal do Porto, acertou.
Após já ter escrito sobre este assunto aqui, decidi voltar falar dele motivado por estas declarações de Elisa Ferreira, que colocaram a nu toda esta desfaçatez com que os políticos dos partidos tradicionais tratam os mandatos para que são eleitos.
Alguém só pode estar na política por uma razão, com o objectivo de contribuir para a melhoria da sociedade, da sua comunidade, trate-se de comunidade a nível europeu, nacional, autárquico ou local. Claro que ninguém é inocente ao ponto de pensar que todas as pessoas que estão na política estão com esse espírito. Mas o que podemos dizer de alguém que abertamente se candidata a dois mandatos que são incompatíveis, declarando mesmo que para si um é mais importante do que o outro. Apesar de poder haver opiniões discordantes a minha perspectiva deste comportamento é de que tal pessoa está há procura de um lugar e não de servir e melhorar a sua comunidade. Dito de outra forma está a servir-se da sua comunidade, não se importando com o facto de estar a enganar quem elege.
Podemos falar de engano, pois se apresentando uma lista ao Parlamento Europeu, apresentando ao mesmo tempo dois nomes dessa lista como candidatos a Câmaras Municipais, estão a afirmar que o lugar de eurodeputado é um lugar de somenos importância. Estão a denegrir a imagem dessa função, dessa instituição e a contribuir para um maior descrédito e desinteresse dos portugueses para com estas eleições.
É de facto importante reconstruir a nossa democracia. Estes abusos só existem porque os partidos são ditadores, regem o sistema político como senhores absolutos, donos da verdade e de todo o dinheiro, que partem e repartem entre si do bem público a seu belo-prazer. Não adianta, os discursos inflamados que lançam os partidos tradicionais uns contra os outros, já não colam, porque quando toca a partir o bolo - leia-se Lei do Financiamento dos Partidos - não discordam, mas discretamente chegam a rápidos acordos e aprovam leis por unanimidade.
O Movimento Mérito e Sociedade não quer ser o grilo falante da nossa democracia, a consciência acusadora, até porque o Bloco de Esquerda já cumpre muito bem esse papel, apesar de depois se sentar à mesa para compartilhar da faustosa refeição do orçamento. No entanto o MMS quer denunciar estas práticas abusivas, a forma como os partidos depuseram a democracia e declararam instaurada a Partidocracia, sendo por isso que partem e repartem lugares, por isso os lugares eleitos são dos partidos e não das pessoas. Se um sai entra outro, o lugar está sempre ocupado para o partido, os eleitos nunca sabem quem os representa, e pior, descaradamente declaram que só vão ali dar o nome e depois voltam.
O desrespeito é total: cada eleito deve levar o seu mandato até ao fim. Sempre. Esta deve ser uma regra sagrada da democracia. Se algum eleito não puder, por alguma razão de força maior, cumprir o seu mandato este deve ser devolvido ao povo, porque os lugares eleitos devem ser do povo e sempre do povo, nunca dos partidos como acontece actualmente.
Para o Movimento Mérito e Sociedade é inaceitável uma situação como esta vivida no PS, com a duplicação de nomes, é desconcertante a naturalidade com que muitas pessoas aceitam estas práticas.

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