sexta-feira, 20 de março de 2009

Cobardia política, falta de pudor político, falta de sentido de Estado e hipocrisia... enfim o PS dos nossos tempos.








Não me cabe a mim, especialmente pela insignificância que sou, efectivamente defender o PSD, nem as suas posições. Mas nesta situação da escolha do próximo Provedor de Justiça, o PS demonstrou toda uma série de epítetos negativos que exprimi no título. Há cerca de nove meses que o mandato de Nascimento Rodrigues chegou ao fim, o que significa que as negociações para a sua sucessão já se arrastam há pelo menos um ano. Certamente que já houve nomes propostos por um lado e pelo outro, sem que até hoje se tenham alcançado os consensos necessários.

Porém hoje Alberto Martins, líder parlamentar do PS, veio a público. ou melhor, veio dar uma conferência de imprensa, à hora dos telejornais, anunciando que h cerca de uma semana tinha proposto ao PSD o nome do constitucionalista Jorge Miranda para novo Provedor de Justiça. Alberto Martins afirmou que a razão pela qual anunciava esta proposta era porque, após as declarações feitas hoje pela líder do PSD - que afirmou que num espírito de independência e de equilíbrio de poderes, dada a natureza do cargo em questão, era normal, e deveria de ser assim, que a personalidade que fosse nomeada para esse cargo devia ser indicada pelo maior partido da oposição - o PS decidira abrir as negociações, que visam alcançar a maioria de dois terços dos deputados, aos outros partidos, abandonando uma tentativa de acordo com o PSD. Durante a noite ouvi reacções sensatas dos outros partidos e um disparate de um comentador político. O Sr. Mário Bettencourt Resendes, situacionista habitual, declarou na TSF que o PSD iria ter muitas dificuldades em explicar a recusa de um nome com a importância e a qualidade do Constitucionalista Jorge Miranda. Este comentário deixou-me no mínimo revoltado, pela fraca qualidade do comentário político português, porque ou o Sr. Mário Bettencourt Resendes é ignorante ou anda distraído, porque o PSD nunca veio recusar este nome, como nenhum outro. Porque acha o PS que o PSD numa semana tem de responder a algo para o que em um ano não houve qualquer resposta? Dos outros partidos ouvi reacções do BE - afirmando que até agora não tinha recebido nenhuma proposta de negociação da parte do PS - do PCP - que afirmou não ser nas televisões que se convida outros partidos para negociações, é sim em conversas na Assembleia da República - e do PSD - que afirmou não ir entrar em ping-pong de nomes, porque este era um assunto de Estado, pelo que não iriam fazer qualquer comentário, e, que quanto ao PS abrir as negociações aos outros partidos, o PSD afirmava que o Partido Socialista estava no seu pleno direito de o fazer. Onde reina a sensatez e o sentido de Estado? Certamente que todos estes partidos o demonstraram bem mais do que o PS.

Mas vejamos: há uma semana, portanto entre quinta a sexta-feira passada, o PS comunica ao PSD que tinha o nome de Jorge Miranda em cima da mesa para Provedor de Justiça; o PSD não responde até quarta-feira (houve encontros preparatórios do conselho europeu, aqui e no estrangeiro, entre outros eventos) dia em que o Primeiro-Ministro anuncia que se o PSD não chegar a acordo com o PS, este último está disposto a avançar sozinho com um nome para Provedor; sexta-feira Ferreira Leite afirma que a personalidade deverá ser escolhida pelo maior partido da oposição e nesse mesmo dia Alberto Martins anuncia o nome de Jorge Miranda. Analisando: o PS propõe um nome, de peso e de qualidade, talvez esperando que o PSD imediatamente respondesse sim, porém isso não acontece (talvez porque há cerca de uma ano tantos nomes e não acredito que fossem todos de menor qualidade do que o agora anunciado) o PSD não responde logo e José Sócrates faz aquela ameaça. O que estava à espera? que o PSD cheio de medo fosse a correr com o rabinho entre as pernas aceitar o nome do PS, ou quis fazer parecer que o nome que viesse a lume tinha sido proposto pelo PS e que este é que dominava a negociação? José Sócrates não quis forçar um acordo, quis foi pegar fogo ao circo e Manuela Ferreira Leite respondeu à altura, a personalidade tinha que ter a chancela da oposição. Claro que o PS viu nisto uma oportunidade de saltar ao pescoço do PSD, ao arrepio de todas as regras de dignidade e respeito, avançando com um nome de peso, querendo deixar mal o PSD.

Qual será a melhor reacção? Creio que a já tida foi a melhor.

Cobardia política: não conseguindo negociar veio refugiar-se na televisão, para esconder a sua fraqueza e o seu apetite enorme - como denunciou Nascimento Rodrigues na entrevista que deu à Visão - por cargos de nomeação política.

Falta de pudor político - é falta de vergonha na cara durante um ano não se chegar a acordo com outro e de repente, feitos meninos queixinhas, depois do puxão de orelhas do actual provedor e do Presidente da República, apontar o dedo ao outro a dizer - oh papá foi ele.

Falta de Sentido de Estado - fazer anúncios de nome, discutir assuntos desta importância na praça pública, anunciar a abertura de negociações aos outros partidos nas televisões, em vez de ser nos órgãos próprios, é no mínimo, uma grave falta de sentido de Estado e revela uma desmesurada vontade de exibicionismo eleitoralista.

Hipocrisia - quantas vezes José Sócrates, quando desafiado para esclarecer e debater com opositores nas televisões, recusou afirmando que o lugar próprio para a discussão política era na Assembleia da República, e agora hipocritamente vêm para a televisão fazer guerrilha política do mais baixo nível.

Enfim é o PS que temos...

Enfim é a partidocracia que temos...

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