Ontem ocorreu em Lisboa aquela que terá sido talvez, a maior manifestação realizada no nosso País. Cerca de 200 mil pessoas manifestaram-se contra as políticas do Governo Sócrates, mas sobretudo contra as condições em que a crise tem deixado muitas empresas. No entanto o chamado foi também para os funcionários públicos, que pela perda de direitos, que sentiram, terem tido, se mobilizaram em força para estarem presentes nesta manifestação. A CGTP, que organizou esta manifestação, orgulhosamente falava dos números da mesma. Porém gostaria de reflectir um pouco acerca de qual a função dos sindicatos.
Nos tempos que correm, creio que os sindicatos são forças, organizações, manietadas, amarradas à partidocracia vigente. Os sindicatos em Portugal, salvo honrosas e raríssimas excepções, são testas de ferro dos partidos dominantes do panorama sindical. Toda a gente reconhece que a CGTP está ligada ao PCP, que as batalhas deste partido, bem como todas as suas cassetes, são repetidas consecutivamente pela CGTP, desta pelos sindicatos que lhe estão filiados, destes pelas comissões sindicais que estão presentes nas empresas e destas para as comissões de trabalhadores, onde os elementos da mesma são também delegados sindicais de uma sindicato ligado à CGTP, e, que além disso são elementos da célula do PCP nessa empresa.
A UGT é a central sindical ligada ao PS, com uma estrutura intermédia, que é membro desta central, mas que está ligada ao PSD, os TSD, Trabalhadores Sociais Democratas. Da mesma maneira a UGT e os seus sindicatos retransmitem a propaganda socialista, estando muito mais importados em defender os interesses dos partidos do que dos trabalhadores que representam. Presentemente assistimos a um fenómeno novo que é o crescimento do número de pessoas ligadas ao Bloco de Esquerda que se estão a infiltrar nas estruturas da CGTP, nomeadamente nas comissões sindicais de sindicatos filiados desta, bem como em comissões de trabalhadores, de que é maior exemplo a Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa, dominada por elementos do Bloco de Esquerda, mas com elementos que são do PCP, estando estes constantemente em guerra uns com os outros, porque, em vez de procurarem defender o melhor interesse dos trabalhadores, estão sobretudos preocupados em fazer de caixa de ressonância das direcções partidárias.
Outro exemplo acabado é a guerra entre professores e o Ministério da Educação acerca da avaliação dos professores. Aparentemente a polémica está em lume brando, aguardando-se com expectativa o próximo episódio da novela.
Relanço a pergunta: "Qual a função dos sindicatos?"
Pegando de novo no exemplo dos professores e do ME, será que a função deste sindicato é continuar a batalhar contra um modelo, que já se percebeu que não tem viabilidade, porém é o único apresentado, estando apenas a reivindicar o fim do modelo? Será que a função deste sindicato é apenas marcar greves e manifestações defendendo, de forma cega e por vezes até irracional, a classe profissional dos professores? Será que este sindicato não entende que faz falta um verdadeiro modelo de avaliação e diferenciação de professores, separando os bons dos maus, procurando levar os maus a melhorarem? Será que este sindicato não percebeu todas estas coisas?
Na minha opinião o que este sindicato tinha a fazer era realizar um estudo sério, envolvendo os professores que estão no terreno (e os sindicatos têm teoricamente condições ideais para isso), por forma a encontrarem um modelo de avaliação efectivo, transparente e eficaz (não é virem com tretas de auto avaliação, porque aí não existe credibilidade nem seriedade), que contraponha com o do governo, não deixando margem de manobra ao governo. Para isto é que acho que os sindicatos devem servir.
Um patrão afirma que vai despedir um certo número de pessoas porque as encomendas reduziram - o que deve fazer o sindicato? Encolher os ombros? Dizer mal do proprietário? Convocar piquetes para que nenhum material saia das fábricas? - o que deve então fazer o sindicato?
Creio que em primeiro lugar deve procurar perceber se a baixa de encomendas é verdadeira, solicitando colaboração às entidades competentes, inclusive aos tribunais e à polícia, que em tempo útil deverão dar acesso aos documentos da empresa. Estudar a empresa e com o empresário perceber se existem alternativas, realistas, ao despedimento.
Os sindicatos devem ser muito mais do que vozes reivindicativas, devem ser mais um recurso a que, até os próprios patrões, possam recorrer para dinamizar o mercado de trabalho.
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