domingo, 15 de março de 2009

Reflexões acerca da Educação - O modelo de ensino


Este é o segundo texto acerca da Educação que escrevo neste blog. Pretendo trazer algumas reflexões e até propostas acerca do sistema educativo nacional, que acho lastimoso. No primeiro texto reflecti acerca do sentido do conceito de "Escolaridade Mínima Obrigatória", neste segundo texto pretendo propor uma alteração radical na forma como encaramos o ensino no nosso país, e, o último texto, a publicar em tempo oportuno será acerca do modelo de governação das escolas e de funcionamento das mesmas.
Antes de mais devo reconhecer aqui a grande evolução que se registou sob o governo do PS, o ensino do 1º ciclo. Apesar de tanto criticar o governo e de achar que já chega desta governação, tenho que reconhecer que, salvo um pequeno apontamento que deixei no texto anterior, o ensino público, no 1º ciclo, evoluiu bastante. As actividades de enriquecimento curricular são um sucesso e bem vindas, trazendo para as escolas primárias matérias que lhe eram completamente distantes, como a música, o inglês e até a educação física e ambiental. Sim senhor, bom trabalho.
Porém daqui para a frente é o caos.
Tenho dois filhos pequenos, o mais velho tem quatro anos de idade, e, estou tranquilo em matriculá-lo no ensino público. A escola funciona bem, tem actividades interessantes e as instalações são condignas, a minha grande preocupação reside no ensino preparatório (perdão para a desactualização do termo), para quando ele entrar no 5º ano, numa C+S. As escolas deste ciclo são em geral caóticas, onde crianças de nove, dez anos convivem com rapazes e raparigas de 15, 16 e 17 anos, que pouco estão interessados em estudar. Nestas escolas, bem mais do que nas secundárias, existe violência, o fenómeno do bulling alastra como uma chaga, as instalações são em geral velhas e degradadas.
Os professores encaram uma diversidade tão grande de miúdos, que numa idade difícil como a pré-adolescência, têm grande dificuldade em controlar as turmas, sendo com isso castigados aqueles que ali estão de facto para aprender. O exercício disciplinar é frouxo e muitas vezes injusto, porque por ser fraco, quando é aplicado quer fazer desses bodes expiatórios e exemplos públicos.
Já para não falar do completo desnorte que são as matérias. Muitas delas são generalistas e perdem-se nos percursos escolares dos alunos. Existem disciplinas dadas que são completamente inócuas e sem qualquer aplicabilidade. Matérias desadequadas. Não seria mais interessante olhar para as matérias a ensinar numa perspectiva de dar bagagem aos alunos para encararem o futuro. Nomeadamente: matérias de educação física, ambiental, sexual e cívica - disciplinas como educação física, educação sexual e educação cívica e ambiental; matérias de educação cultural - disciplinas como educação musical e artística, história e estudos geográficos, naturais e sociais; matérias de educação prática - disciplinas como português, inglês, informática e matemática. As disciplinas do primeiro grupo seriam: Educação física (dada em três dias por semana, uma hora, numa perspectiva de estimular os alunos à prática do desporto e à manutenção da forma física), Educação Sexual (com vista à auto exploração do corpo, pretendendo formar pessoas capazes de encarar com naturalidade as questões da sexualidade, capazes de livremente, independentemente de todas as pressões, decidir o momento em que querem iniciar a sua vida sexual, dando-lhes também a bagagem para se protegerem de situações indesejadas, com uma carga horária de uma hora semanal) e a Educação Cívica e Ambiental (uma hora semanal dedicadas à discussão e ensino da tolerância, bem como à explicação da forma como funciona o país, introdução política e sensibilização ambiental). As disciplinas do segundo grupo seriam Educação Musical (duas horas semanais dedicadas ao estudo da música, com instrumentos, mais do que chata teoria, solfejo desadequado e história desinteressante), Educação Artística (onde a sensibilidade dos alunos na área artística seria estimulada, dando-lhes a conhecer as várias artes plásticas e a sua história, com a prática levada ao limite do razoável, substituindo as velhas e completamente inúteis disciplinas de Educação Visual e Trabalho Manuais - que confesso não saber se ainda existem -, com uma carga horária de duas horas semanais) e Estudos sociais, geográficos e históricos (cerca de três horas semanais de estudos onde a história a geografia e a sociologia do país seriam dadas de forma integrada). As disciplinas do terceiro grupo seriam o Português (três horas semanais), o Inglês (três horas semanais), a Informática (três horas semanais) e a Matemática (quatro horas semanais). Assim o número de disciplinas seria de 10, com uma carga horária de 25 horas semanais. Havia assim tempo para as actividades extra-curriculares e para o estudo apoiado, que seria efectuado na escola, tal como acontece no ensino primário. Isto é só uma proposta, que creio necessitar de muitos acertos mas a ideia geral é dar matérias mais concretas e práticas aos alunos.
A verdadeira revolução dar-se-ia do nono ano para a frente.
Aqui é onde tenho as maiores críticas.
Os alunos do nono ano em diante, deixam de estar na "escolaridade obrigatória", estão a estudar para obter mais qualificações. A realidade é que não obtém mais qualificações. Gostaria que alguém me mostrasse algum trabalho onde é exigido o 12º ano que uma pessoa com o 9º ano, dada a mesma formação, não seja capaz de fazer. Creio não existir nenhum. Então para quê estudar mais? Só faz sentido estudar mais se isso de facto trouxer mais qualificações ao estudante, o que, mais uma vez afirmo, não acontece.
Um estudante ao terminar o nono ano depara-se com a escolha da área de estudos que pretende seguir. Além disso pode seguir duas vias: a via ensino, a via clássica que dá acesso à universidade, e a via profissional ou profissionalizante, normalmente indicada para alunos com mais dificuldades nos estudos, e que, ao contrário do que alguns pensarão, também dá acesso, exactamente da mesma forma, à universidade. A diferença está em que, enquanto os que seguem a via ensino tiram o 12º ano, os da via profissional tiram o 12º e acabam-no já com um ofício, uma profissão nas mãos, e estão tão bem preparados como os primeiros para se candidatarem à universidade.
A minha opinião é de que todo o ensino, não após o nono ano, mas após o oitavo ano, deve ser profissional, todos os estudantes, ao terminarem o 12º, devem ter uma profissão, podendo candidatar-se à universidade e prosseguir os seus estudos. Todos deveriam ter logo uma profissão, seja de socorrista, técnico de farmácia, auxiliar de geriatria, técnico de contas, auxiliar de contabilidade, técnico de traduções, secretariado, etc., etc.
Tenho consciência de que isto iria mudar toda a perspectiva que temos da escola, envolveria um grande investimento, até em infraestruturas das escolas, mas creio que seria benéfico para o nosso país, que assim veria o nível de formação dos seus cidadãos muito mais elevado, e, com sentido prático e aplicação à realidade das necessidades do mercado de trabalho.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.