sábado, 7 de março de 2009

Dignidade do emprego


Ouvi hoje o Secretário Geral do PCP falar no slogan do Bloco de Esquerda, o tal de quem tem lucros não pode despedir, como se o ter ou não lucros fosse critério para a legitimação dos despedimentos.


Estas palavras do Sr. Jerónimo de Sousa, bem como um comentário ao texto "Fundo de Desemprego" fizeram-me mais uma vez reflectir acerca da dignidade do emprego, da dignidade de um posto de trabalho. Lembro-me de ter também visto um cartaz numa manifestação que dizia "sou pobre, perdi a maior riqueza, o trabalho".


Trabalhei durante 10 anos numa fábrica de automóveis, num trabalho duro, repetitivo, extenuante fisicamente, que até a vontade de pensar nos roubava. É impressionante como um trabalho numa fábrica pode ser difícil, e quem nunca trabalhou numa fábrica dessas, não entende a dureza do mesmo. No entanto, sempre ganhei uma salário digno, embora não muito grande. Porém nunca me senti satisfeito. Não me conformei com essas situação, não estava satisfeito: era um trabalho duro, chato, que não me realizava, não me pagava bem, do qual não sentia qualquer orgulho, nem retirava qualquer realização profissional.


Inconformado com essa situação comecei a procurar emprego, durante três anos procurei trabalho, pois tinha algumas condições, tinha que ganhar pelo menos o mesmo e ser menos esforçado. Foi difícil, até que fui chamado para um Casino, onde me deram um trabalho que, não sendo o trabalho dos meus sonhos, não é tão cansativo, paga melhor e deixa-me espaço e ânimo para outras actividades.


Afinal o que confere dignidade a um emprego: é a sua estabilidade, é a realização pessoal que se obtém, é o salário ou o estatuto social que confere? Não sei responder a essa pergunta, mas creio profundamente que um emprego digno é aquele que produz riqueza, ou que, não a produzindo, presta um serviço relevante e de qualidade.


Daqui parto para outra reflexão. Até que ponto a riqueza pode ser distribuída: creio que é até ao ponto em que esta confere a todos condições de vida condignas e que lhe permita o desenvolvimento pessoal. Deixo uma pergunta: até que ponto poderá o sector produtivo injectar no estado riqueza, de forma a que todos, quer os que trabalham no sector privado, quer no público, possam desenvolver a sua vida pessoal, manter um nível de vida adequado, etc.? Como se poderá garantir a distribuição correcta da riqueza: deverá o estado apenas garantir essa distribuição, ou deverá o sector privado criá-la e daí distribuí-la? Será que deve ser o estado a cobrar impostos e desses distribuir a riqueza, ou deve ser o estado a criar condições para que as empresas produzam riqueza para que exista assim para distribuir? É difícil dizer, mas por princípio acho que o estado deve permitir o desenvolvimento de actividades que produzam riqueza, cobrar os impostos estritamente necessário à sustentação dos serviços que presta e por fim estimular que as próprias instituições da sociedade civil, sustentadas pelas empresas, distribuam por aí também da riqueza produzida, bem como pela condigna retribuição dos seus funcionários.

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