domingo, 29 de março de 2009

O fumo da corrupção


Vivemos num país que gosta de se ver como sendo de brandos costumes, de gente séria, onde uma cunha vem sempre a calhar e onde um chico esperto é sempre bem visto. Em Portugal um corrupto nunca o é, é apenas alguém que foi esperto: costuma-se mesmo dizer que se se estivesse no lugar dele, se faria exactamente o mesmo. Isto porque o português nunca admite ser menos esperto do que o outro.
Só por este retrato é que se consegue compreender a apetência que o povo português tem para admirar, defender e, insistentemente, eleger e proteger políticos acusados ou suspeitos de corrupção.
Existem inúmeros casos de autarcas com processos judiciais devido a casos de corrupção, que são amados, seguidos e eleitos sucessivamente, de uma forma que outros apenas desejam e nunca conseguem alcançar. Vamos a nomes: Fátima Felgueiras, Avelino Ferreira Torres, Isaltino Morais, Valentim Loureiro, entre outros, amados, alguns rejeitados pelos partidos, mas concorrendo como independentes conseguiram ganhar as câmaras (excepção de Avelino Ferreira Torres, mas porque não concorreu ao Marco e sim a Amarante).
Nunca as gentes destes lugares puseram a hipótese de que estas pessoas, pelos seus comportamentos não seriam a melhor escolha.
Depois existe sempre a questão das provas: nunca se consegue provar nada e ninguém acredita na justiça, porque mesmo aqueles que chegam a Tribunal são, normalmente absolvidos - como aconteceu esta semana com Avelino Ferreira Torres, absolvido por falta de provas. Claro que ninguém pensa, ao contrário do que disse Salazar e do que muitas vezes se quer fazer passar, que em política 'o que parece é', é mais complicado, porque o corrupto, que nunca o é, é só um esperto, logo ou se prova que é corrupto - e se há provas é porque já não é tão esperto assim e já merece ser castigado - ou é impoluto e limpo, estando só a ser alvo de uma calúnia, uma campanha negra, vítima de uma cabala, o que se quiser.
Só assim entendo que, havendo fumos, nuvens, de corrupção a pairar sobre o Primeiro-Ministro José Sócrates, como nunca aconteceu com nenhum outro, este continue tão popular e com grandes chances de ganhar as próximas eleições.

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