segunda-feira, 27 de abril de 2009

A Nova Arquitectura Financeira Mundial


Quando se começou a falar da crise e esta se tornou de facto uma certeza, com as consequências que ainda hoje sentimos, na ânsia de se encontrar uma solução que acalmasse as opiniões públicas, sublimadas pela caracterização dos culpados, prometeu-se o surgimento de uma nova era económica mundial, com uma nova estrutura e toda uma nova arquitectura no funcionamento global dos mercados e da economia. Foi afirmado, aliás quase prometido, que seria na tal reunião do G20 que isso seria feito, conseguido, pensado, mas com efeito não foi assim. Boaventura Sousa Santos, em texto seu publicado na Visão, é assaltado da mesma dúvida que eu, que só por medo ou por espanto, ainda não tinha falado sobre isto, eis que é hoje. Destaco este parágrafo do texto de BSS.


As instituições de Bretton Woods (FMI e Banco Mundial, em especial) há muito que vinham a ser desvirtuadas. As suas responsabilidades nas crises financeiras dos últimos 20 anos e no sofrimento humano causado a vastas populações por meio de medidas depois reconhecidas como erradas - por exemplo, a destruição, de um dia para o outro, da indústria do caju de Moçambique, deixando milhares de famílias sem subsistência - levaram a pensar que poderíamos estar num novo começo, com novas instituições ou profundas reformas das existentes. Nada disso ocorreu. O FMI viu-se reforçado nos seus meios, continuando a Europa a deter 32% dos votos e os EUA 16,8 por cento. Como é possível imaginar que os erros não vão repetir-se?


Efectivamente a pergunta impõe-se: como garantir? Todos falam de um aumento da regulação, do fim da auto-regulação dos mercados, do desejo de não se entrar num período de intervencionismo estatal, da era do mercado fortemente regulado, porém, em acções, nada se vê. Apenas a manutenção da mesma estrutura e dos mesmos organismos, sem mais garantias, sem mais regulação, sem mais nada. Ou seja, na verdade, a cimeira do G20 foi uma grande mentira propagandística - muito ao estilo do nosso Primeiro-Ministro - de onde nada saiu a não ser um reforço de meios para quem não conseguiu, antes, manter o funcionamento do mercado financeiro longe do saque de que foi, efectivamente, alvo.

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